CORAL
Olhando ao redor do apartamento/escritório desta mulher... Vejo mil itens que ninguém poderia precisar em sua vida.
Tantas coisas.
Não há fotos ou evidências de uma família.
Apenas coisas dela.
Como se ela as recolhesse para preencher um vazio em sua vida.
Ela está vestida com um vestido um tamanho grande demais e ele fica fortemente solto em volta do corpo, disfarçando as curvas que ela deve ter por baixo.
— Você quer se sentar? — pergunta ela, gesticulando com a caneta que não produz tinta. Em vez disso, escreve em um tablet que envia diretamente para seu computador para arquivar para uma data posterior. Sofisticado.
Por que as pessoas têm tanto receio em fazer terapia? Sempre me perguntei.
Eu entendo a necessidade de se preservar, de manter certas coisas para si. A sensação de que, não importa o que você diga... Nunca vai ser realmente compreendido. Mas o propósito não é compreensão. É desabafo. Alívio. É poder dizer para alguém as piores coisas que se passam na sua cabeça com a certeza de que ela não pode te julgar.
Infelizmente, o ser humano possui essa necessidade de colocar certas coisas para fora.
Não é confortável, claro, mas... Que mal pode fazer?
Uma aflição necessária.
— Eu gosto da sua roupa — eu minto, e eu acho que ela sabe disso. Seus olhos se estreitam, me medindo de cima abaixo.
— A sua também é muito bonita — Seu sorriso genuíno enruga as linhas ao redor dos olhos, mostrando a sua idade.
Bonita.
A palavra na boca de outra pessoa é apenas uma palavra.
Respire.
Minhas mãos pousam na frente da minha calça social e eu quase me arrependo em usá-la — o tecido não ajuda nada em secar minhas palmas suadas.
Bonequinho lindo.
Meus dedos deslizam ao longo do vidro frio do aquário de peixe no meio da sala. É claro que foi colocado lá para trazer um impacto, mas tudo o que me diz sobre essa mulher é que ela é sozinha, como eu. Só que eu não preciso me cercar de animais de estimação que vão morrer e ser substituídos para saber isso.
Aqui neste mundo grande e mau, eu estou sozinho.
Ela me permite vaguear no seu espaço e não insiste para eu me sentar ou falar, então eu tomo meu tempo e, eventualmente, me sento na cadeira.
— Como você está? — ela pergunta.
Que coisa simples, ainda que seja uma pergunta. Como estou?
Eu estou assustado. Estou com fome. Estou perdido.
— Eu estou sentindo falta de um pedaço de mim — digo a verdade antes de mudar o meu olhar para avaliar sua resposta.
Ela estava esperando tal honestidade? Será que ela vê através de minhas roupas e do meu cabelo, o boneco quebrado que está embaixo?
— Me conte sobre isso. O que está faltando? — Ela roda a caneta sobre o tablet, mas não consigo ver o que ela está escrevendo. Seu nariz franze ligeiramente e isso me faz pensar que ela percebe mais do que eu acho.
Ela não mantém os olhos baixos e de alguma forma consegue manter contato visual comigo o tempo todo, apesar de sua tomada de nota sutil.
— Quando eu era garoto, — digo, distraído, os olhos indo para o aquário de peixes, onde um peixe azul persegue um amarelo — minha irmã era fascinada pelo meu cabelo. Ela costumava prender ambos os lados e eu costumava deixar. Isso deixava minha testa à mostra e segundo ela, eu ficava mais bonito assim — eu sorrio com carinho, relembrando.
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Marionetes | Taejin [EM REVISÃO]
Fanfiction"Você já teve que tomar uma decisão que o assombra todos os dias pelo resto de sua vida - a vida que você roubou de volta? Eu sim." Quando Seokjin e sua irmãzinha Jisoo encontram um fabricante de bonecas chamado Joonie em uma feira local, eles não t...