Supersticious

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"Manchester — 17 de novembro de 1998

— ...E então ele me disse que eu não posso pular do palco porque eu poderia me machucar! — Niall rolou os olhos após seu relato.

— Bom, ele está certo. — Harry deu de ombros, bebericando um pouco de seu whisky. Louis o encara, de repente hipnotizado pelos lábios rosados levementes molhados pela bebida.

— Nenhum de vocês vai me ajudar? Sério?

Liam colocou uma mão na cintura enquanto a outra segurava uma vassoura. Assim que chegaram no hotel, o garoto cismou com a poeira no quarto e como poderia atacar sua alergia. Então passou as últimas duas horas tirando o pó de todo o cômodo e varrendo.

— Qual é, Liam! Esse não é nosso trabalho. — o loiro descansou as mãos na nuca.

— Obrigado pelo apoio, meninos. — Liam revirou os olhos, voltando a varrer.

— Ei, ei, ei! Você quer que eu morra solteiro? — Louis reclamou, encolhendo seus pés em cima do pequeno sofá que havia no quarto assim que a vassoura chegou perto dele.

— O quê?

— Nunca ouviu falar que se varrerem seus pés você não casa? — o menor ergueu a sobrancelha, irritado.

Mas os outros apenas caíram na gargalhada.

— Você realmente acredita nessas coisas? — Harry perguntou em meio à risadas.

— Huh, sim? Não sou supersticioso, mas também não vou ficar dando chance para o azar!"

Louis.

2 meses depois.

Quem diria que chegaríamos na metade da tour sem matarmos uns aos outros? Eu, particularmente, não poderia estar mais surpreso — e satisfeito — com o rumo que a relação entre os membros da One Direction está tomando. Resolvemos nossos problemas como os adultos que somos. Ou, bem, quase isso...

— Mas eu adoro esse filme! — Harry protestou, agarrando-se ao controle da TV como se fosse um bebê.

— Ah, qual é! Você só gosta dele porque tá nele. Anda, deixa a gente escolher outra coisa. — Niall tentava a todo custo tirar o objeto das mãos de Harry.

Zayn permanecia alheio à confusão, com o olhar fixo em seu celular. Desde a viagem ao Brasil, o Malik vem trocando mensagens com a brasileira que ele se encantou no restaurante do Rio. Até agora sabemos que o nome dela é Luísa, tem 32 anos e é assistente social. E mora no Brasil, óbvio. Como ele pretendia conciliar Luísa com sua vida na Inglaterra e os shows pelo mundo? Ninguém fazia ideia, mas ele parecia disposto a tentar.

Já Liam estava em chamada de vídeo com a família, matando a saudade da esposa e dos filhos. Está sendo muito difícil para ele ficar longe deles, principalmente agora que Diana ainda era pequena e Cheryl se virava em duas para dar conta de duas crianças. Bear e Diana também sentiam a falta, mas estavam lidando bem. Minha afilhada estava cada vez mais linda, gorducha e falante. A garotinha se comunicava na linguagem dela, gritinhos e barulhinhos, mas já mostrava a personalidade forte. Não parava quieta um segundo, sempre mexendo os bracinhos e perninhas e ficando irritada cada vez que tentava alcançar Liam pela tela do celular e se dava conta que era impossível. Bear já era mais tímido e calmo, foi um pouco difícil o resto de nós conseguir falar com ele porque ele se envergonhava fácil. Isso ele havia puxado do pai, o jeitinho mais reservado. É um bom garoto.

Mas Diana... Ah, essa iria nos dar trabalho.

Falando em dar trabalho, Niall estava sofrendo nas mãos de Gemma. Ela está entrando no quinto mês de gestação agora e os últimos meses têm sido um teste para todos nós. O humor dela é imprevisível e nunca sabemos o que esperar. Inúmeras vezes ela acabava chorando por algo banal ou porque "Harry foi grosso com ela", quando tudo que o pobre homem fez fora pedir para que ela abaixasse o volume da televisão.

          

"Não é o que  você fala, mas como você fala." — ela explica, entre lágrimas, toda vez que algo assim acontece.

Mas o choro não é, nem de longe, a pior parte. A pior parte é quando ela sente raiva, por nada e por tudo ao mesmo tempo. Nos dias em que ela está estressada, até o diabo deve se encolher em um cantinho com medo.

E um desses dias é hoje.

Harry e Niall congelam ao ouvir o barulho da cama, no cômodo ao lado. Desde que Gemma começou a viajar conosco, Richard teve a decência de dar conforto à ela, não fazendo mais do que sua obrigação, e tratou de alugar quartos que fossem maiores e com divisões de quarto e uma espécie de sala, quase como um quitinete, para que ela se sentisse melhor. Ajudava quando as alterações de humor estavam a mil, assim ela podia ficar enfurnada no quarto sem que ninguém a incomodasse.

Então, toda vez que era um daqueles dias e o mínimo barulho saísse do quarto assassino, todos nós prendíamos a respiração.

— Ah, que ótimo. Parabéns, Harry, você acordou o diabo da Tasmânia. — sussurrou Niall.

— Você fala assim da minha irmã, mãe do seu filho?

— Shh! Fala baixo! Daqui a pouco ela vai...

Mas já era tarde demais. A porta do quarto se abriu e dela saiu uma Gemma descabelada e vestindo uma camiseta velha e manchada e calças do Niall. A barriga já estava aparecendo e a protuberância era visível através da roupa, ainda que não fosse algo muito grande.

Há algumas semanas, ela e Niall tiveram que ir a público contar sobre a gravidez, visto que a barriga já estava crescendo e não iam conseguir esconder por muito mais tempo. As reações até que foram melhores do que o esperado, mesmo que alguns comentários maldosos ainda circulassem por aí. Mas, no geral, o bebê foi bem recebido pelos fãs e a mídia. No entanto, ela não suportava ter notícias sobre si mesma e inclusive boatos falsos sobre ela ou o bebê, então preferiu ficar longe das redes sociais. E isso era um revés para nós, os homens, porque ela não usava o celular para se distrair de seu humor, deixando que a gente pagasse o pato.

— Será que os dois idiotas podem parar de fazer barulho?

Nós cinco engolimos em seco, até Zayn largou o telefone com medo de que ela fizesse algo contra sua vida.

— Gemma, meu bem... — começou Niall, cautelosamente. — Bom dia. Dormiu bem?

— O caralho, Horan. Bom dia o caralho. — e então marchou para o frigobar, onde pegou uma garrafa de água. — E como você acha que eu vou dormir bem estando imensa desse jeito?

Ele permaneceu quieto, evitando contato visual.

— Você não vai falar nada? É sério?

— Eu...

— Ai, fica quieto! Sua voz tá me irritando.

Seguro um riso ao ver a cara de idiota que Niall fica, observando a mulher beber calmamente sua água como se não fosse a personificação do medo.

— O que estão assistindo? — ela se senta entre Niall e Harry.

— Dunkirk. — Harry demora um pouco para responder.

— Hm. Aí, Louis — chama, e eu arregalo os olhos. — Como é mesmo aquela simpatia que você tinha me contado para saber o sexo do bebê?

— Ah, não brinca! Você ainda acredita nessas coisas, Louis? — Liam zombou, mas se calou assim que recebeu um olhar mortífero da mulher.

All These Years // L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora