CAPÍTULO UM: SADIE.
"Santa isn't listening, no, and I'm losing hope. Oh God if it isn't too much, please bring my baby home. Every Christmas, counting the days, maybe this year will be different and I won't be, be alone again... Under the mistletoe, let it snow, come on home, every Christmas I'll wait" - Every Christmas, Kelly Clarkson.
Necessitava de apenas um segundo. Um bendito segundo a mais. Faria o que fosse preciso para ter este segundo a mais na minha vida. Melhor, em sua vida.
Daria o que fosse preciso para poder ter um segundo a mais com Nina. Um segundo para vê-la, abraçá-la, implorar para que ficasse bem e que não fizesse nenhuma besteira.Mas eu nunca teria esse segundo a mais. Não poderia fazer nada para mudar, ela já havia tomado às pílulas, tentado se matar, ficado de coma e agora eu tinha que viver com as consequências disso.
Tinha apenas fotos, lembranças e vídeos caseiros que estavam em uma caixa que ainda não estava pronta para abrir.
Encontrava-me deitada de lado em minha cama abraçando Inoportuna, minha linda, enorme e monstruosa cadela, que estava deitada ao meu lado e era quase maior que eu. Ela estava linda e cheirosa, já que acabara de chegar do petshop. Precisamos tosá-la, a pobrezinha morreria de calor no Rio de Janeiro em pleno verão.
Não havia ninguém em casa, era dia vinte e seis de dezembro, meu pai voltara a trabalhar, Lúcia e Jake tinham família e eu estava me apegando às lembranças de minha amiga. Nessa época do ano ficávamos mais grudadas que o normal, pois nossos pais estavam sempre ocupados trabalhando. Meu pai tirava somente o dia vinte e cinco de folga. O homem não conseguia ficar muito tempo afastado do escritório. E os pais de Nina faziam o mesmo.
E esse ano era o primeiro ano que passava sem ela. Como era horrível. Se eu pudesse e acreditasse, pediria a papai Noel que este tormento passasse e que me acostumasse a sua ausência. Mas cada dia era mais difícil. Até rezar comecei, qualquer coisa que tirasse essa dor de mim estava valendo. Nada funcionava, nem a existência de um possível Deus, nem uma carta para papai Noel, eu ainda dormia esperando por Peter Pan. Nada tirava o vazio que eu sentia.
Minha perna doía. Admito que me ralava ainda. Estava tentando parar, mas era complicado. Era muito mais complicado do que eu pensava, porque os cortes eram o que não me faziam enlouquecer, era a maneira como extravasava, era como deixava a dor ir embora. Era o que me deixava viver sem sofrer tanto.
Mas alto lá, não estava me ralando tanto assim, foram algumas vezes e que se intensificaram nessa época do ano.
Suspirei pesado ao ouvir a campainha tocar. Quem estaria me perturbando em pleno vinte e seis de dezembro?! Continuei deitada na cama e abracei Inoportuna com mais força. Quando a campainha tocou novamente, escondi meu rosto no corpo da minha cadela que lambia minha testa.
- Não sei por que coloquei seu nome de Inoportuna se todo mundo consegue ser mais inoportuno que você - Resmunguei enquanto os toques ficavam cada vez mais presentes e longos. Minha dor de cabeça só piorava. Se aquela campainha tocasse mais uma vez, estava pensando seriamente em quebrá-la e dar uns tapas na pessoa que estivesse me perturbando.
Finalmente a pessoa desistiu, então, o celular tocou.
- Isso só pode ser sacanagem com a minha cara - Reclamei e levantei para procurar o infeliz daquele telefone móvel. Não estava tão longe, estava perdido em algum lugar debaixo dos lençóis e de Inoportuna. Quando o encontrei, o nome de Lílian brilhava e não pensei duas vezes antes de atender:
- Olá, Lili - Falei com minha voz cortante para que sentisse que não estava com vontade de falar.
- Estou na sua porta - Seu tom era completamente diferente do meu. Estava muito animada e feliz. Seus pais estavam tratando-a muito melhor, entre milhões de brigas, eles conseguiam dar um pouco de atenção a garota. Mas ainda brigavam muito. O que era um inferno. Cada um tinha seu inferno naquele grupo - Pode abrir logo esse portão, por favor?! Está muito calor aqui.
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Festas em Seis.
Short StoryOs seis detentos do colégio São Lucas sobreviveram à detenção e agora, com as festas de fim de ano, não podiam deixar de comemorar juntos. Sadie, Arthur, Isabela, Lucas, Noah e Lílian, voltaram e em seis dias vão provar que a amizade é composta por...