Acidentalmente Irritados

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"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."

Friedrich Nietzsche


- Vovó, eu já vou indo. - Grito para a mulher, enquanto termino de arrumar minha mochila com meu uniforme e os livros que eu usaria para estudar durante as minhas pausas. Infelizmente, hoje seria o dia que eu teria que trabalhar como garçom na Loco's Pizzaria e o tempo seria menor, mas eu preciso me preparar para a prova de física que vou enfrentar amanhã.

- Dallas, querido. Espere um pouco. - Pede minha avó, surgindo na entrada da porta em sua cadeiras de rodas. Fecho minha mochila e a coloco nas costas, encarando a senhora de cabelos escuros e olhos tão azuis quanto o céu no mais belo dos dias. 

- Algum problema, vovó? - Pergunto, preocupado. Ela parecia um pouco hesitante. Eu a conheço bem o bastante para saber que não viria nada que me agradaria.

- Sente-se um pouco, por favor. - Pede Morgana Miller com aquele tom de voz baixo e suave, quase como um aviso de que uma grande tempestade estava para vir. Suspiro, sabendo que ela não falaria até que eu fizesse o que ela havia pedido. Sento-me em minha cama e ela entra no quarto. Noto nesse momento que ela estava com uma carta em seu colo. Reviro os olhos, sabendo exatamente o motivo de tanta cerimônia para ela contar o que queria. - Querido, sua irmã...

- Ela não é minha irmã. - Corrijo, irritado. Eu odiava falar sobre Taynara. Era um assunto delicado e doloroso demais para mim. 

- Dallas, meu amor, por favor. - Vovó Morgana me repreende, mas nada disso me faz mudar minha expressão insatisfeita. - Ela mandou essa carta para você. Por favor, leia. Você querendo ou não, ela é a sua irmã.

- Ela deixou de ser minha irmã no momento em que deu as costas para a nossa família quando mais precisávamos dela. Nem mesmo dinheiro ela teve coragem de deixar. Ela queria que eu deixasse você e a mamãe para ir com ela, sem nem pensar duas vezes. Por culpa dela, minha mãe se matou! - Relembro, furioso. - Eu não quero contato com ela, vovó. Então, todas as vezes que ela mandar cartas, queime. Jogue fora. Dê um fim nelas. Se ela quis esquecer nossa família, então eu vou esquecer dela. 

- Sua mãe não se matou por causa de sua irmã. Não culpe Taynara por algo que ela não poderia controlar. - Responde a mulher, magoada. - Você não entende, Dallas. Eu entendo que sinta raiva da proposta feita por ela, mas sua irmã tinha os motivos dela. Taynara sofreu...

- Nós também sofremos, vovó. Enquanto ela estava vivendo na mordomia na Noruega, nós ficamos aqui, precisando mendigar para conseguir pagar o seu tratamento. Minha mãe trabalhou dia e noite para sustentar essa casa e ela nem mesmo se importa com isso. - Interrompo minha avó e vejo a dor em seus olhos. - Não adianta tentar defender a Taynara. Nada justifica as ações dela. Ela matou pessoas e agora deseja destruir Krósvia por pura ganância. Eu não...

- Já chega. Se você não quer ler a carta de sua irmã, tudo bem. Mas não vou permitir que continue falando coisas que você não sabe. Você não sabe de nada, Dallas. Você não sabe de toda a verdade, então muito cuidado com as suas palavras. - Minha avó vira a cadeira de rodas e segue para fora do quarto. Essa era sua forma de evitar que eu a visse chorando.

- Então qual é a verdade, vovó? Por que não me conta então? Você me pede para compreender Taynara, para não falar da sua amada neta, mas você nunca me conta o motivo de você continuar a defendê-la, mesmo me ensinando a nunca roubar, mentir ou matar. Em qual verdade eu devo acreditar então? Enquanto esteve aqui, Taynara nunca se aproximou de mim. Agora eu devo ser solidário com ela quando eu sei que ela está pelo mundo matando inocentes só por que ela me manda cartas? - Questiono, magoado. Minha avó para de se mover e respira fundo, antes de limpar o rosto. Como eu imaginava, ela estava chorando. A mulher então se vira para mim e há uma aura de raiva e dor em seus olhos.

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