JERICHO

Epílogo

Slade respira e, até, transpira; por isso, passa a mão pela testa, enxugando o excesso, porque essa tarefa será complicada. Dá três sopros rápidos de respiração, antes de abrir a porta: esse é o novo jeito de encontrar a quem procura.
Dentro, ele sobe os degraus, o macho, em questão, é encontrado no mesmo cômodo de sempre: o quarto.
Com três batidas na porta, ninguém responde; e já era esperado.
Então, Slade entra...

__ Justice?! __ ele chama.

O macho está sentado a cama, as pernas esticadas e as costas apoiadas a cabeceira, segurando o bendito travesseiro ao nariz; o cabelo solto e desgrenhado, sem camisa e com a mesma calça de uma semana atrás. Ele não sai ou se cuida. E, todas as vezes que alguém vem vê-lo, ele se encontra do mesmo jeito: apático a tudo ao redor; incapaz de encontrar os olhos de quem chega. Difícil saber se registra a aproximação de alguém ou não. As fêmeas são quem trazem as refeições e chegam perto o suficiente para fazê-lo comer. Como elas fazem isso, para Slade, ainda é um mistério.

__ Como você está, meu amigo? __ Slade pergunta chegando mais perto.

Justice não responde.

__ Trago notícias... __ os olhos de Justice ganham foco, num instante; se voltam para Slade, isso faz seu coração bater mais forte, porque não sabe como o macho receberá o que tem a dizer. __ de Jessie.

Tão veloz, quanto é esperado de um macho Espécie, Justice está em cima de Slade; prendendo-o a superfície da cama, que foi obrigado a deitar-se pela força do desespero do outro.

__ Ela não quer que eu diga sua localização. Ela diz que precisa de tempo. Que se não der isso a ela, sairá, de uma vez, da sua vida.

O macho arreganha os dentes, de forma hostil, como se a informação dada fosse algo muito mais sério, do tipo: "sequestrei a sua fêmea!"
Slade reviraria os olhos se não tivesse um macho forte e irado em cima de si. Embora, considerando a situação, sendo ele no lugar de Justice, talvez fosse muito pior, Slade nem tenta imaginar algo assim.

__ Onde?! __ Justice comanda.

__ Na minha casa, mas Jessie não quer vê-lo agora...

E, assim, Slade é deixado para trás por um macho que corre como se sua vida dependesse disso.

Slade sai pela porta, a tempo de ver Justice numa corrida, em direção a sua casa, no mesmo condomínio.
'Ah... essa não...'; Slade pensa, ao avistar o macho enlouquecido; e amaldiçoa Jessie por  ter escolhido logo sua casa para se esconder.
'Por que não o dormitório feminino? Ou, talvez, quem sabe, uma dos apartamentos vazios na ala de visitantes?'
Agora, teria que percorrer toda essa distância atrás do macho, na tentativa de impedir alguma tragédia; quiçá, em si mesmo.
Justice corre nessa direção.
'Ai, porraaaa!'.
Esse palavrão pipoca na mente de Slade ao pegar o volante do jipe e seguir o macho, porque sua fêmea e filho também estão em casa; não arriscaria a saúde de Trisha, por alguém disposto a demolir tudo entre sua fêmea.
Slade para o jipe, há tempo de ver o macho parado na frente de sua casa, respirando como se não houvesse ar suficiente na atmosfera; está com a cabeça para o alto, de olho na parte superior, onde ficam os quartos.
Mais perto, Slade o olha, com esperança de que algum juízo entre no outro macho e elimine os risco de uma confusão dos diabos.

__ Ela está segura aqui dentro, Justice; eu posso garantir isso. Então, eu peço que não entre. Você...

__ Se tentar me impedir, nós vamos lutar e eu vou te matar. Farei o impossível para chegar a ela e ter minha fêmea de volta. Sendo assim, abra a porta ou me dê as suas chaves. __ Justice estende a mão, usando a mesma inflexão para negociar acordos ou falar com a imprensa: séria, firme e certeira. __ Se não o fizer, colocarei essa porta abaixo.