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Ouvimos um barulho.

-Tem alguém aqui!-sussurrei.-Não se mexa daqui Mizar.

Comecei a procurar pelo navio desci com a espada na mão, cheirei o ar e senti o som de batimentos irregulares, e o cheiro do medo. 

-Não precisa ter medo!-falei.-Não vou te machucar!

-Va-vai me matar!-Disse uma voz masculina e jovem.

-Não!-falei guardando minha espada e estendendo a mão pra trás de uma pilha de caixa de madeira cheia de temperos, uma mão de pele lisa segurou a minha de volta.-Não farei mal.

-Vai me jogar no mar?

-Não farei tal coisa jovem!

O rapaz tinha um rosto delicado, olhos âmbar, era realmente jovem, com o cabelo de um loiro tão claro e pela pele lisa percebi que não era um guerreiro.

-Está fugindo?

-Estava!-disse o rapaz.-Não aguentava mais a tirania de meu pai.

-Bom, será bem vindo até o próximo ponto de terra que virmos.

-Não, posso seguir com você, a ouvi falando com o monstro que iria para América!

-Mizar não é um monstro!

-Perdão senhorita!-disse ele se encolhendo ao ouvir meu tom.

-Vou considerar se me for útil, vejo que não tem calos nas mãos, não sabe nem empunhar uma espada!

-Não sei mesmo!

-Bom, temos tempo, posso te ensinar a usar uma espada!

-E o que quer em troca?

-Não falei que queria algo em troca!

-Não quer?

-Não, nunca me pediram nada em troca de ensinamento, de carinho e amor!

-Aquela coisa vai me comer?

-Mizar só vai te comer se tentar nos matar!

-Não eu jamais. . .

-Venha, tem comida lá em cima!

O levei até o convés, Mizar estava em forma de gato, furioso com aquela cola batendo de um lado para o outro.

-Qual seu nome?-perguntei.

-Nikolai e o seu?

-Freya!

-Lindo nome!

-Obrigado, Mizar, Nikolai será nosso companheiro de viagem.

"Só não tente nada contra Freya e o deixarei em paz!"

-Não vou, prometo!

"Ótimo"

Mizar não trocou nenhuma outra palavra com o rapaz durante meses de viagem, eu ensinava o rapaz a lutar com espadas que encontrei no navio, quando a comida estava por terminar atracávamos em algum lugar, vendíamos algumas caixas de temperos e seguíamos rumo a América.

-Vai fazer dois anos que estamos viajando juntos e Mizar ainda não gosta de mim!

-Ele é assim, pra ele humanos são monstros.

-E para nós ele é. . . desculpe, sei que não gosta que fale assim dele.

-Acho que meu aniversário se aproxima!-falei sentindo a mudança em meu corpo.

-Como é. . . digo, você não é humana então como. . .

-Não sei te explicar o que sou ou como é, só sinto a mudança a cada 100 anos, e é horrível porque cresço tudo de uma vez só, meus ossos expandem, meu cabelo cresce mais, meu corpo muda.

-Te acho linda!-disse Niko e senti por dentro algo estranho que me deixou com calor.

-Você é o primeiro humano que não me criou que diz algo assim!

Niko passou a mão em meu rosto e segurei o ímpeto de me defender, deixei ele fazer o carinho.

-Isso é bom!-sussurrei sentindo novas sensações.

-Posso fazer algo que. . . quero tentar a muito tempo?

-O que é?-Perguntei vendo Niko se aproximar de mim lentamente, já vi humanos procriando achei nojento, mas . . . agora estranhamente quero encostar meus lábios nos dele.

Niko me beijou, e pelo visto sabia menos do que eu ou estava tentando não me assustar, foi estranhamente bom.

-Eu queria senti-la Freya, eu estou apaixonado por você!

-Não pode Niko!

-Por que não?!

-Até meu próximo aniversário vou seguir jovem e você vai . . . estar. . .

-Morto!

-Eu não posso me apegar a você!

-Tudo bem, então, fica comigo só até chegarmos a América!

-Considerarei!

Niko voltou a me beijar, naquela noite eu me sentei na proa ao lado de Mizar sentindo as mudanças no meu corpo, gemendo.

"Isso dói?"

-Um pouco, é mais desconfortável do que dolorido.

Sentir os ossos do quadril se espandir era a pior parte, minha coluna desta vez não doeu tanto, mas ganhei mais massa, meus seios agora pesavam e estavam apertados na minha armadura, o que me fez tirá-la. Ficando com a blusa, minhas calças ficaram tão apertadas que as costuras estavam quase se desfazendo.

-Vou precisar comprar roupas, vamos ter que atracar em algum lugar.

"se caminhar com essa roupa ela vai abrir!"

-Vou pedir a Niko que compre pra mim, eu era pra ter feito isso antes, só não imaginei que eu fosse ganhar tanta massa!

Pela manhã mais nada doía, meu equilíbrio agora exigia um pouco mais de esforço, como sempre eu tinha que treinar, mas se eu fizesse isso agora ficaria sem roupas.

-Como fiquei?-perguntei a Mizar.

"Majestosa, uma verdadeira rainha, pronta pra voltar pra casa!"

-Não vai conseguir me convencer a voltar para um lar que não é meu Mizar, mas se quiser voltar não vou lhe impedir.

"Não vou deixa-la no meio desses monstros!"

-Viu já aprendeu a amar!

"Não posso amar, nascidos sem amor, seguem sem amor até o fim dos tempos!"

-Mas eu amo você!

"Você é estranha!"

-Mas você me ama!-insisti.

"Um filho sem amor não sabe o que isso é Freya, não insista!"

Mizar virou um corvo e voou até o mastro. Suspirei e me levantei observando o sol nascendo. Talvez tenham roupas lá dentro, entrei na cabine do capitão onde Niko dormia, o observei respirando com a camisa aberta, sua pele bronzeada do sol, tive vontade de tocá-lo. O corpo humano era parecido com o meu, já vi homens e mulheres nuas, a única diferença são os pelos, eles tem por todo o corpo, e eu só tenho cabelo e sobrancelha, nem um fio em mais nada, achei que agora pôde-se nascer com esse crescimento, mas não, talvez quando eu fique mais velha. Abri um baú e encontrei ouro e pedras preciosas. Em outro achei roupas, acho que estás podem me servir, medi por cima, mesmo sendo masculinas acho que vão ficar apertadas, homens tem pernas mais finas que as de mulheres, bom depende do século e do lugar, os vikings eram muito maiores, tinham coxas mais largas do que as minhas duas pernas juntas dependendo do guerreiro.

A Colecionadora de Monstros -Série Feericos De Gaia- livro1Onde histórias criam vida. Descubra agora