pensamentos de uma madrugada fria

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São 2:30 da manhã de uma terça-feira. Paçoca está deitado em sua cama no escuro de seu quarto.
Seus pais provavelmente não sabiam que ele estava acordado, mas ele não se importava se eles soubessem. Estava frio, mas isso não incomodava o garoto, que se sentia mais acolhido pelo frio do que pelos seus pais.
A essas horas Paçoca gosta de ficar acordado, ele tem tempo para se lembrar do que ele havia combinado de fazer com seus amigos, tempo pra pensar sobre todos os possíveis comentários que ele pode falar para seus amigos se eles fizerem besteira ou se eles o xingarem.
Paçoca não gostava de admitir, mas gostava da companhia dos outros garotos abestados, era como ter mais pessoas como ele em um só lugar. Para outras pessoas, ficar perto de Tato, Zuca e Pita pode ser um sufoco, mas para Paçoca, era um alívio, ele podia zoar, falar mal e xingar que ele bem entendesse, porque ele sabia que tudo isso seria levado na zoação. Ninguém que passava na rua escapava de um comentário maldoso deles.
Não leve a mal, paçoca só precisa de alguem para descontar toda a raiva que ele tem de si mesmo.
Ele gasta todas as suas energias falando sobre o quão idiotas, estupidas e faveladas as outras pessoas são, que ele nem percebe que o favelado é ele.
O garoto queria se levantar da sua cama, caminhar na rua ou quem sabe, tentar desenhar um pouco, mas ele estava cansado de mais para fazer isso.
Ninguém sabe, mas na verdade, Paçoca gosta bastante de desenhar. Mesmo não mostrando seus desenhos nem para seus pais, ele realmente gosta de desenhar seus amigos caindo em vulcões ou o Dudão caindo nos braços de satã, coisas normais para ele.
Dudão, o nome que faz Paçoca ficar extremamente bravo. Aquele nome é uma ofensa usada entre ele e seus amigos.
Dudão era considerado o anjo que veio até a terra. O "anjo" que todos gostavam, o "anjo" que era respeitado por todos e tinha uma família feliz com seus pais felizes e amigos felizes. Aquele cristão filho da p-.
Seus pesamentos foram interrompidos com um barulho no quarto de seus pais.
Paçoca sabia exatamente o que era, seu pai devia ter ouvido ele se mechendo e agora estava vindo atirar uma garrafa de cerveja no garoto.
Com um de seus truques, Paçoca se ajeitou e fingiu que estava dormindo, com isso ele acabou pegando no sono de verdade.

//time skip//

Agora era cerca de 8:20 da manhã, Paçoca dormia tranquilamente, até que uma garrafa de skol foi atirada com tudo e espatifada em sua cabeça. O menino acorda com um grande susto, mesmo estando acostumado com garrafas sendo atiradas nele.
"acorda logo, trem da favela, vai comprar pão pra mim e sua mãe!"
Seu pai gritou, claramente furioso com o jovem. "Ok, to indo porra" Paçoca gritou de volta enquanto observava seu pai deixar o seu quarto.
O menino lentamente se levantou de sua cama e fechou a porta do seu quarto.
Enquanto, paçoca olhava seu guarda-roupa, ele começava a sentir a dor da pancada que a garrafa fez em sua cara, o sangue escorria de sua testa, o garoto já havia se acostumado com a dor, quando resolveu olhar por baixo das ataduras que se localizavam em seus dois braços.
Paçoca tinha aprendido que ele poderia aliviar a dor que sentia se ele cortasse seus braços de vez enquando, ninguém percebia as ataduras em seus braços, então ele continuava. Sabia também, que ele poderia levar uma faca de bolso, que sua mãe havia dado a ele antes de se divorciar do seu pai e perder a guarda do filho pequeno.
Após checar seus cortes, Paçoca escolheu sua camiseta vermelha, como sempre e colocou seu short azul rasgado.
Hoje seria mais um dia chato.

o problema que nos uniu (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora