Capítulo trinta e nove - The letter

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- Mãe? - Desço as escadas correndo e chamando por minha mãe.

Olho na sala e na cozinha, mas não encontro-a. Pego uma xícara de café e ao olhar pela janela, que da para o jardim, encontro minha mãe cheia de terra plantando flores. Sorrio automaticamente. Termino de tomar meu café e saio porta a fora para encontra-la. 

- Mãe? - Ela olha para mim sorrindo, mas logo continua o que estava fazendo

- Até que enfim acordou querida. Consegue pegar aquela terra ali? - Ela aponta para um recipiente cheio de terra preta. 

- O que está fazendo? - Perguntou enquanto caminho para lhe entregar a terra.

- Estou arrumando esse jardim, está uma bagunça - Ela fala séria, como se fosse a coisa mais importante do mundo.

- Toda essa preocupação por causa de um jardim mãe? - Pergunto com ironia. Seu olhar se fecha. Enfim ela levanta, parando o que está fazendo. 

- Precisamos conversar Lydia.

- O que eu fiz agora? - Minha pergunta sai baixa, resultado do meu inegável cansaço de ter que me justificar o tempo todo. 

- Não é sobre você. A princípio - Ela tira as luvas sujas de terra para segurar minhas mãos - Eu estou namorando. Ele é uma ótima pessoa e quero que você o conheça.

- Eu adoraria - Respondo com sinceridade, mas a confusão ainda ronda seu rosto - O que foi?

- Você não vai reclamar? Falar algo rude ou perguntar se tenho certeza sobre as decisões que estou tomando? - Desvio meu olhar me dando conta, mais uma vez, do que eu era. Uma pessoa que se importava demais em falar a verdade, a minha verdade, do que me importar com as pessoas. 

- Mãe, tudo o que sempre quis foi que você fosse feliz. Perdão se alguma vez fiz você duvidar disso. Eu adoraria conhecê-lo - Enfim seu sorriso se espalha. 

- Quem é você e o que fez com a minha filha? 

- Eu só percebi que não apoio as pessoas o suficiente - Minha mãe me abraça apertado fazendo-me sentir segura. 

- Lydia, não mude. Jamais. Ser complicada é o que faz você você - Uma lágrima escapa dos meus olhos, mas enxugo-a correndo, com a esperança que minha mãe não a tenha visto - O que houve? 

- Nada, eu estou bem - Ela não acredita em uma só palavra que sai pela minha boca, mas mesmo assim não insiste no assunto.

- Desde que você era uma garotinha sempre teve uma personalidade muito forte. Conseguia provar um argumento mesmo que estivesse errada. Chegava a ser engraçado ver você convencendo seu irmão a fazer tudo que você queria. Você é uma líder nata Lydia, tudo que faz é cheio de caráter e confiança. Isso pode soar arrogante para quem não te conhece, mas eu sei que aqui dentro - Ela aponta para meu coração - Há uma pessoa insegura que só quer ser amada. Não se esconda mais do que sente. 

- Eu não estou mãe, mas já é tarde demais. Eu já estraguei tudo. 

- Nunca é tarde demais. Eu sei bem disso, estou namorando aos 50 anos de idade - Nós duas rimos o que me faz relaxar - River passou aqui, falei que você iria encontra-la depois. 

- Vou ir falar com ela então - Sorrio fraco e enfim solto nossas mãos para caminhar em direção a casa grande ao lado - Mãe? - Falo me virando - Obrigada. 

***

- Então, o que queria falar comigo? Ou só queria que ficássemos de bobeira comendo doces? - Pergunto para a menina sentada ao meu lado.

- Já parou pra pensar que gosto da sua companhia? - River fala séria, mas logo cai no riso. 

- Eu sei que adora minha companhia, mas achei que tinha algo pra me falar.

- Na verdade tenho, espere aí um minuto - Assim que fala isso levanta de supetão correndo escadas acima. 

Tenho a oportunidade de olhar em volta. A casa é exatamente como sempre foi. Os móveis caros bem arrumados, todos em tons claros, me fazem lembrar de uma casa de praia. Me sinto tão confortável neste espaço como me sinto na minha própria casa. Passei boa parte da minha infância aqui. Correndo pelo jardim perseguindo Stiles e Scott e tomando sorvete na cozinha ampla. 

Tive vários primeiros aqui. Primeiro braço quebrado, primeira lasanha e, principalmente, primeiro beijo, bem nas escadas que davam para o jardim. Sorrio ao pensar nisso, mas não tenho tempo o suficiente para navegar pela lembrança, pois vejo River retornar com algo em sua mão. 

- Antes de tudo, quero que me prometa que não vai surtar, ok? - Concordo com a cabeça e ela me entrega um pedaço de papel dobrado.

- O que é isso?

- Eu estava mexendo nos quartos de Scott e Stiles, porque eu estava sem nada pra fazer, e encontrei isso, na gaveta de Stiles, escondido lá no fundo.

- E o que está escrito? - Pego o papel e o viro vendo meu nome escrito do outro lado.

- Não sei, eu não li. Só vi que estava com seu nome e achei que você deveria ler - Analiso o papel e vejo que é velho e desgastado - Vou pegar um pedaço de bolo enquanto você lê - Ela não me dá o tempo de responder porque corre para a cozinha.

Fico encarando o papel vidrada. Passa mil coisas pela minha cabeça teorizando sobre o que está escrito ali. Respiro fundo, tentando controlar minha respiração sem ritmo.  Tenho a coragem de abrir o papel e noto que a letra é difícil de ler, há muitos rabiscos entre linhas. Fecho os olhos por um instante antes de finalmente lê-la. 

"Oi Lydia,

Sou eu. O Stiles. Hoje é seu aniversário. 15 anos. Você está lá embaixo na minha sala, conversando com meus pais e pedindo para eles darem um jeito no meu comportamento, de um jeito bem convincente. Tudo o que consigo pensar é que XXXXX XXXXXX XXXX. 

Tudo o que consigo pensar é que você está linda hoje. Não que você não seja linda nos outros dias, mas hoje você está simplesmente incrível. Queria que você aceitasse subir para a varanda, para que eu pudesse conversar com você, falar o que estou sentindo. Mas não tenho coragem de pedir isso. Scott fala que eu sou muito medroso, nunca vou admitir, mas sei que ele está certo. Eu XX XXX XXXXX

Eu espero que eu tenha coragem de dizer para você o que sinto um dia e espero que você sinta o mesmo. Acho que eu ficaria arrasado se você não dissesse o mesmo. 

Enfim... Feliz aniversário Lydia. Espero que você alcance tudo o que você sempre quis. Eu sempre estarei aqui se precisar. XXXXXXXXXXX XXXXXXXX XXXXXXXXXXXX 

Nunca hesite em me ligar e falar que precisa de mim. Sempre irei correndo até você. 

Com amor, Stiles."

Meu rosto está inchado como resultado da quantidade de lágrimas que caem. Tento respirar de todas as formas possíveis, mas nada é eficaz o suficiente. Não consigo para de chorar. Não consigo aceitar que estou prestes a perder o amor da minha vida e não há nada que eu possa fazer a respeito. 

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