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 O resto do meu dia foi o mesmo de sempre, estudei, cuidei de Catarina até meus irmãos chegarem, arrumei a casa e fiz a janta. Meu pai não veio em casa, deve ficar virando a noite no bar como sempre e hoje é o dia que minha mãe dobra o turno.

Já são onze da noite, estou no meu quarto olhando para o teto enquanto meus irmãos estão dormindo. Se esse fosse um dia comum, Firmino estaria aqui para o nosso "passeio noturno" e eu o encheria de perguntas sobre o que houve, mas acredito que ele esteja em sua cama se recuperando.

Fecho meus olhos para tentar dormir e escuto um barulho na janela, levanto em um salto e vejo o Firmino parado lá, seus cabelos estão molhados, deve ter tomado banho antes de vir, seu olho está inchado igual quando te encontrei, e seu braço está com o gesso que agora está com 4 assinaturas.

-Ouvi dizer que você salvou minha vida­­- ele fala baixo por causa dos meus irmãos e faz um sinal com a cabeça para irmos ao nosso ponto.

Calço meu chinelo e pulo a janela, assim que eu o vejo por completo, percebo que está um pouco curvado, ele também deve ter alguma ferida perto da barriga e o médico só mencionou ela quando saí.

Firmino não fala uma palavra, seu estado fala por si só. Sinto borboletas em meu estômago quando termino de o analisar por completo, chego mais perto e passo a mão em seu rosto ao mesmo tempo em que ele deita seu rosto em minha mão. Sinto lágrimas em meus olhos novamente quando me lembro de como o encontrei e do sentimento de preocupação tomando conta de mim no momento.

Ele encosta sua testa na minha e me puxa pra mais perto. Passo meus braços em seu pescoço e coloco meu rosto em seu ombro o apertando.

Quando o médico disse que ele estava bem, já sabia que a prioridade era deixar o senhor costa entrar, por isso nem cheguei a pedir. Mas agora que estou vendo Firmino e seu estado, meu corpo parece se relaxar por completo, pois ele estava vivo, mesmo que estivesse todo destruído, ele ainda estava aqui.

Sinto ele afrouxar o abraço e me olha enquanto faz carinho em meu rosto.

-Eu to bem, não precisa se preocupar. Agora vamos andando que eu tenho tanta coisa pra te contar. No momento temos que adiar a ida la na mina, as mesmas pessoas que fizeram isso comigo devem estar mais espertas para o caso de alguém voltar.

Faço que sim com a cabeça e vamos andando até o mar de estrelas. Fomos o caminho inteiro sem falar nada, fiquei o tempo inteiro olhando para o perfil de Firmino. O mesmo estava quieto, parecia que queria guardar todas as coisas para quando estivéssemos sentados. Sem querer estragar o silêncio agradável que estava no momento.

Ajudo Firmino a se sentar e me sento ao seu lado, ele coloca sua mão em meu joelho e faz uma pequena carícia no local.

-Obrigado por ter ido atrás de mim. Só Deus sabe quanto tempo eu poderia ter ficado lá se não fosse por você, meu pai comentou que você foi correndo chamar ajuda e depois foi correndo para o hospital para ter notícias.

-Não precisa agradecer, eu realmente fiquei preocupada que você não estava na escola. Cheguei na sala tão cansada que nem reparei que você não estava la, só na hora da saída que fui te procurar.

Firmino da uma gargalhada alta e eu fico sem entender o motivo.

-Você realmente só reparou que eu não estava lá na hora e ir embora? Sério que sou tão insignificante assim?

Dou um risinho quando realmente percebo que foi exatamente isso que aconteceu.

-Ai meu deus-rio mais uma vez- Enfim, me fala o que houve. Você entrou na mina? Quem era eles?

Firmino fica com uma expressão séria e olha para o mar de estrelas na nossa frente,

-Hoje de manhã acordei mais cedo pois já queria dar uma passada lá antes da aula, como seus pais estavam em casa no resto do fim de semana, não quis arriscar ir na sua casa e dar ruim para o seu lado. Então queria ir lá hoje de manhã para vê se achava algo diferente. Só que chegando perto do lugar percebi que estava diferente, a tampa da entrada estava aberta e tinha umas caixas ao lado dela. Fiquei agachado atrás de uma pedra para tentar ver quem estava lá e o que estava fazendo, acabei me descuidado nas costas e os caras vieram por de trás. Me perguntaram o que eu estava fazendo lá, como não contei, decidiram me meter a porrada pra me dar um susto e não voltar mais. Simples assim.

Ele termina de falar e respira fundo. Pela sua expressão eu sei que ele está com raiva de não ter conseguido se defender, mas eram dois adultos contra ele, então tão tinha como.

-Você contou ao seu pai ou pra alguém?

Firmino se vira pra mim.

-Não, meu pai me disse que você falou que poderia ter sido uma briga que eu perdi, ele nem quis saber com quem foi, mas agora ele acha que o filho não consegue se defender com crianças. Mas estamos bem e pretendo voltar lá daqui a algumas semanas pra acabar logo com isso. Agora sabemos que a mina é frequentada e que é gente de barra pesada, imagina o que mais podemos descobrir.

Reviro os olhos, mas logo faço sinal de afirmação com a cabeça. Óbvio que iriamos voltar la, se o Firmino acha que consegue ir la, então é por que conseguimos. Só que vamos tomar cuidado pra não acabar da mesma maneira de hoje.

-Se você acha que é certo voltar. Tudo bem, eu posso ir com você. Só vamos esperar um pouco. – Ele da um sorrisinho assim que termino de falar e chega um pouco mais perto de mim.

Seguro o seu rosto com as mãos e o beijo com cuidado por conta dos seus lábios que estão um pouco cortados. O beijo não dura muito tempo e assim que termina Firmino me abraça e ficamos assim até dar a hora de irmos embora.

Na volta viemos brincando, as vezes parávamos para nos beijar ou implicar um com o outro, não soltamos nossas mãos nem por um segundo. Assim que chego na janela do quarto e me viro para dar um beijo nele. Firmino tira uma caneta do bolso.

-Coloca seu nome também, você merece já que foi a que me encontrou.

Pego a caneta e ele estende o gesso até uma altura que desse pra escrever.

O Gesso não chega no seu cotovelo, e vejo que na parte do pulso está escrito o nome de quatro pessoas com letra garranchadas. Penso que seja dos irmãos, pois foram os únicos a verem o Firmino assim que ele chegou do hospital.

Dou uma olhada na sua mão e decido escrever perto do fim do gesso, que ficará acima de todos os nomes. Firmino não para de me olhar nem por um segundo enquanto escrevo o que pretendia. Assim que termino, me afasto um pouco para que ele pudesse ler:

Agora você me deve algo por eu ter te encontrado. Ass.: Sua heroína.

Firmino da um sorrisinho e me beija novamente.

-Você vai ficar jogando na cara que me salvou?

Dou um sorriso meio brincalhão.

-Mas é claro.

Pulo a janela novamente para dentro do quarto enquanto Firmino vai para o caminho de casa. No momento que me deito na cama percebo que o meu humor melhorou 1000%, antes eu estava relaxada pelo Firmino estar bem. Mas agora que o vi, posso dormir tranquila, pois sei que ele realmente está à salvo.

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⏰ Última atualização: Sep 09, 2020 ⏰

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