Eu fico impressionada
em como o passado
consegue me parecer tão atraente
É como correr em uma esteira
mas insistir em correr de costas
sendo que na verdade
a paisagem lá em frente
tem uma beleza tão mais atingível
a nós
É nesse dilema que me ato
eu não mereço tudo isso
eu não mereço ser feliz
vejam todos a antiga de mim
como era uma pessoa melhor
como conheceu pessoas tão incríveis
e como conquistou o mundo ao seu redor
como agora tudo parece tão nefasto
conquistas em branco e tão sozinha
como pude deixar tudo a perder?
Não enxergo que a ótica do passado engana
E que no passado também sofria
no passado me via exatamente assim
O passado é agora miragem
perfeita projeção da era gloriosa que nos atrai
rouba todo nosso foco e nos deixa sedentos
por algo que nunca existiu
O medo de nunca bebermos daquela água é constante
e parece que nunca cavamos tão fundo na areia quente
em busca de algo que nunca esteve ali
somente existe água na cidade dos homens que não se perderam em si
e que pra nós é de graça, pois também pertencemos ali
Que burrice seria desmerecer tal favor
e voltar para a miragem que apenas me cansou
sem alternativa, ali permanecemos
dentro da culpa consoladora que nos invade
e a espera de uma máquina do tempo
para consertar nossos erros
e achar a perdida resposta para nós
Suspiramos e percebemos o quão tolos somos
por criar esperança em coisas que se quer existem
toca o telefone e não esperamos mais nada
e mesmo reencontrando pessoas
o sentimento, a conexão e até as mesmas
nunca mais serão iguais
o dia de hoje é o mais novo passado
e agora você sabe quanta imperfeição
ainda há de se reinventar.
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BORDERLINE.
PoetryEsse é um livro humano, acima de tudo. Um livro sobre esse lado nosso que teima em permanecer escondido. Um lado que normalmente não tem espaço nem em nós. Aqui, eu fiz questão de dar pra ele alguma voz. Uma voz que transcende qualquer diagnóstico...