You were everything, everything that I wanted

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🥀

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Hyungwon me encarou com os olhos arregalados e o rosto tão pálido quanto uma folha de papel. Suas mãos tremiam e os lábios se fechavam e abriam o tempo todo, mas nenhuma palavra saía deles. Era como se o de fios rosados já desbotados estivesse em um transe profundo, completamente surpreso ao me ver parado do seu lado.

— E-eu vim — ele começa gaguejando e isso me leva de volta há três anos atrás, quando Hyungwon era apenas o jovem barista tímido de franja no olho, roupas largas demais para o seu tamanho e um humor estranho que só ele mesmo entendia. Quando Chae pigarreia alto e seu rosto retoma sua cor natural, percebo que ele talvez nunca mais fosse voltar a ser o mesmo de antes. — Essa blusa é sua, achei perdida nas minhas coisas.

Ele me estende a jaqueta azul recém lavada com cheiro de amaciante de girassóis e eu franzo o cenho confuso. Tinha dado aquela blusa para Hyungwon em um dia que estava muito frio pois eu tinha outra no meu carro, fazia tanto tempo desde o dia do parque que nem havia dado falta dessa peça de roupa no meu guarda-roupa. De qualquer forma, já não me servia mais.

— Você veio aqui apenas para isso? — Arqueio uma das sobrancelhas quando Hyungwon revira os olhos escuros e cruza os braços, assentindo de leve com a cabeça. Seu corpo dava sinais de que ele tinha mais para falar, mas seu orgulho parecia bloquear as palavras que Chae queria dizer. Por isso, sou obrigado a tomar as rédeas daquela conversa sem rumo. — Sabe, foi muita sorte ter me encontrado aqui, só venho nesse apartamento de vez em quando.

Hyungwon me encara com curiosidade.

— Você não mora aqui?

Nego com a cabeça.

— Voltei a morar na mansão Shin já faz um tempo — explico sem entrar muito em detalhes. Hyungwon tampouco insiste no assunto, e eu agradeço internamente por isso. Falar sobre a minha "casa" era um assunto deveras complicado. — Só passei aqui hoje para pegar umas coisas, estou de viagem.

Chae, que estava ao meu lado e caminhava no meu encalço até a entrada do prédio, para subitamente seu caminhar ao me ver mencionar a viagem. Sou obrigado a parar também para encará-lo.

— Não vou te atrapalhar, nos vemos na faculdade — ele se vira de costas para voltar ao seu carro, mas minha mão agarra seu pulso fino antes que ele dê o primeiro passo.

— Na verdade, eu estava prestes a perguntar se você queria vir também — meu sorriso sugestivo parece conquistar o rosado, pois o vislumbre de um brilho pôde ser visto no seu olhar. Já sei a sua resposta.

(...)

Dentro do carro não há qualquer conversação.

Hyungwon está do lado do passageiro com uma das mãos no queixo e o olhar perdido pela paisagem lá fora enquanto eu tenho o meu concentrado na estrada em minha frente.

No rádio uma música qualquer dos Beatles toca, mas nenhum de nós parece ter interesse em apreciá-la devidamente, presos em nossos próprios pensamentos e divagos internos.

Sinto meu corpo esquentar pelo suor quando o pensamento de que ele se arrependia amargamente de ter aceito o meu convite para essa pequena viagem de fim de semana. Nós não tínhamos se resolvido ainda apesar das coisas já estarem esclarecidas desde aquele fatídico dia onde Kihyun tirou sua máscara de bom moço e mostrou suas garras. Hyungwon tinha me pedido um tempo, e eu tinha lhe lado de bom grado, esperaria a vida inteira se ele me pedisse, mas então ele simplesmente apareceu na frente do meu apartamento com a desculpa esfarrapada de entregar aquela jaqueta velha e desde então não tinha dito nada. Absolutamente nada.

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Eu estava confuso, muito confuso. Hyungwon estava brincando com a minha sanidade em um vídeo-game que eu sinceramente não sabia jogar.

Agarro o volante com mais força quando noto que o rosado agora cantarolava a música da rádio, uma popular qualquer que eu só conhecia pelo toque. Ele parece agir como se nada tivesse acontecido, como se os últimos dois anos despejando ódio contra mim não passassem de um sonho distorcido e isso me irritava, me irritava muito.

— Diz alguma coisa! — Antes que eu perceba, já explodi. Hyungwon para de cantar na hora e me encara assustado, ele não esperava que eu perdesse a paciência tão rapidamente. Mas eu estava estressado, a briga com minha progenitora tinha piorado, os sócios da empresa me pressionavam o tempo todo e para piorar, agora estava vivenciando uma espécie de joguinho com o cara que dominava meus pensamentos desde 2017.

— O que você quer que eu diga? — Mesmo sua expressão denunciando seu nervosismo, ele permanece com a voz rouca exclusa de qualquer sentimentalismo.

— Esquece, você é incapaz de passar pelo próprio orgulho e dizer o que pensa — digo ríspido e paro o carro instantes depois. Chae fica confuso, mas não diz mais nada e parece ter ficado magoado com a forma que o tratei. Me arrependi do que disse na mesma hora que as palavras escapuliram da minha boca, mas se ele sabia ser orgulhoso, eu sabia ser muito mais.

Vou até o porta-malas tirando de lá a barraca e as mochilas como comida e outras coisas básicas de acampamento. Hyungwon me segue em silêncio e me auxilia ao carregar as coisas, mas não conversamos em momento algum. Ele se propõe a montar a barraca e não reclama quando percebe que vamos ter de dividi-la durante o fim de semana, mas já sei que ele vai fazer o possível para ficar o mais longe de mim que ele puder.

Coloco as cadeiras de praia e enquanto o rosado monta a barraca, acendo a fogueira com os fósforos que tinha guardado em uma das bolsas. Suspiro aliviado quando a sensação térmica do fogo toma conta do meu corpo frio, além de clarear o local que já estava ficando escuro.

O lago de águas cristalinas brilha com a luz da lua e as árvores de folhas pigmentadas de todas as cores possíveis balança no ritmo do vento um pouco frio do lugar. Há várias estrelas no céu, pingado-o com sua beleza estonteante e servindo de luz para a noite escura. Esse era um dos meus lugares preferidos no mundo, onde eu podia fugir dos meus problemas e fingir que nenhum deles existia. Já tinha trago Hyungwon aqui antes, mas se ele se lembrava, preferiu não dizer nada. Eu tampouco insisti.

Pulo de susto quando minha tranquilidade momentânea é interrompida pelo toque do meu celular. Saber que ele ainda tinha sinal mesmo em um lugar como aquele me trazia uma sensação quente de amargura. Não preciso nem pegá-lo para saber que se trata da senhora Shin e sua preocupação. Preocupação com a empresa, não comigo.

Desligo o telefone sem nem pensar em atender, soltando um suspiro irritado e sentindo uma súbita vontade de jogar o aparelho naquele rio para ter algum sossego que eu honestamente merecia naquele momento.

Hyungwon se senta ao meu lado mas evita cruzar com meu olhar por um tempo. Eu por outro lado, o encaro de soslaio a cada segundo, esperando ele tomar alguma iniciativa, nem se fosse para mencionar que estava com frio, ou como as estrelas estavam bonitas naquela noite. Eu só queria que ele falasse alguma coisa.

Percebendo que meu anseio era inútil, murmuro algo como "estou com sono" e caminho na direção da barraca, mas antes que eu a alcançasse, Hyungwon já tinha colocado a mão fria sobre o meu ombro.

Encaro-o com a expressão retorcida em tédio e mais uma vez ele parece não saber o que dizer, embora seus olhos brilhem em todas aquelas palavras não mencionadas. Não sei o que se passa na sua cabeça com certeza, mas consigo entender. Hyungwon estava tão confuso quanto eu.

My Happy Ending [2Won]Onde histórias criam vida. Descubra agora