Bem, tudo começou no maternal. Seu nome é André, sempre tive uma quedinha por ele desde pequena, afinal, ele sempre fora bonito, e, aparentava ser legal. Só aparentava.
Quando eu tinha uns onze ou doze anos, percebi que ele estava começando a dar atenção a mim, aliás, todos os meninos estavam, eu era bonita mesmo, alguns chegavam a usar o adjetivo "gostosa", do qual eu não gostava muito. E eu ainda sou bonita, na verdade.
Nós começamos a namorar na sétima ou na oitava série, eu realmente amava ele, mas o único problema, é que ele era muito... Garanhão, galinha, pegador, são muitas palavras que usavam para descrevê-lo. Eu geralmente não gostava disso, é ele sempre ficava com as meninas, então eu era muito ciumenta.
No segundo ano do ensino médio que tudo piorou. Descobri que ele vivia me traindo, inclusive com Minhas melhores amigas.
"Vadias" me pegava pensando todos os dias. Até aquele dia. Me lembro como se fosse ontem, infelizmente.9 Anos Antes
Abri os olhos lentamente. Eu ainda estava com sono, mas precisei me levantar e arrumar minha mochila. É uma merda estudar de manhã. Por quê? Porque aqui estou eu cinco e meia da manhã pegando livros sobre química e biologia e jogando-os dentro da bolsa velha e encardida que ganhei no oitavo ou nono ano. Quando terminei de organizar a mochila, fui direto para o banheiro tomar um banho. Meus cabelos loiros trespassavam o meu ombro e iam até minhas costelas. Minhas curvas eram perceptíveis sobre meu pequeno pijama de flanela, meu corpo era com certeza voluptuoso. Deslizei as alças do pequeno pijama-vestido para o lado e o pus no cesto de roupas. Me despi do resto das peças de roupa e entrei no chuveiro. Liguei-o e senti as minúsculas gotas de água escorregaram pelo meu corpo e encharcarem o meu cabelo.
Depois de me lavar, fui até a mesinha e peguei meu celular. Na tela estavam sendo exibidas as seguintes palavras:
"27 novas mensagens de: Amor"
Deslizei a tela para o lado e li as mensagens.
-PORRA! Eu esqueci que hoje é o nosso aniversário de namoro!- Desci hesitante a escada e corri até a cozinha. Encostei a testa na mesa alta de mármore e pensei em alguma coisa para fazer, mas eu não fazia ideia do que dar a um homem. Um Aviãozinho de papel? Barquinho de papel? Chapeuzinhos de papel? Papel? Fiquei batendo a cabeça na mesa desproporcional e esquisita. Levantei quase que de imediato o olhar quando mamãe chegou.
-O que foi filha?- Fiquei mais vermelha do que um tomate em um balde de tinta com a mesma cor, que era vermelha.
-N-nada...
-Fala logo.- Minha mãe possuía definitivamente o poder de ler a mente das pessoas. É sério.- O teu aniversário de namoro com o André?
-C-como a senhora s-sabe?- Me encolhi como o Mário quando um koopa tenta matar el naqueles jogos do Atari.
-Nheh. Sua senha é o seu aniversário, então...
-Mãe!- Fiquei chateada com o fato de minha mãe ter total acesso ao meu celular, mas acabei me conformando com tudo aquilo.
Como as Minhas panquecas com mel e suco de maracujá e fui andando até o carro ainda pensando no que dar a um homem, quando mamãe chegou com uma caixinha que fora provavelmente embalada rápida e apressadamente.
-O que... É isso?
-Pegue. Não reclame, é apenas um velho perfume de seu pai que ele não usa, ou sequer lembra que tem.
-Obrigada, Mãe!- Falei um pouco alto demais, percebi isso quando ela pôs a mão sobre o ouvido. Abracei ela fortemente e observei o cubo mal-embalada com um Quasar dentro, segundo mamãe. Não demorou muito e senti o solavanco, causado pela súbita aceleração de mamãe sobre o carro, ainda bem que eu estava com o cinto de segurança.
Depois de um certo tempo, percebi que o carro estava parado e minha mãe estava me olhando com uma cara de:
"Sai logo!". Me apressei e saí do carro, tropeçando no cadarço do meu tênis. Andei até o portão, exausta - a minha mochila mais parecia uma bigorna enrustida - e vi André ao longe, sentado na escada que levava para dentro da escola, com um headphone e o celular na mão. Acenei, mas ele estava concentrado demais, realmente demais jogando Fruit ninja.
-André!-Gritei, mas seus fones aparentavam ser impenetráveis. Comecei a correr, e quando o alcancei, escondi o pacotinho com o seu presente e deu um tapa de leve na sua testa.
-Ai!- Ele exclamou, pondo dramaticidade até demais na sua breve fala.
-Fresquinho- Sorri e o abracei quando ele se levantou.
-Tu que é...- Ele me beijou.-...Fresquinha.
-De qualquer modo, olha aqui: -Balancei a caixinha no ar.- Seu presente.- Cortei o ar com a mão até que a caixinha de porte médio estivesse ao alcance dos seus olhos.
-Uau!- Ele sorriu e me agarrou pela cintura.-O segundo melhor presente que você poderia me dar...-Ele me beijou e pôs a mão por debaixo da minha camisa, consegui ver seu sorriso malicioso o acompanhando.
-Não.- Falei asperamente, e bati na sua mão com uma certa força, indicando para que ele a tirasse dali.
-Grunh...- Vi uma careta tomar conta de seu rosto e ele se afastar de mim.-Te vejo na aula.- ele falou e se retirou dali, reclamando de alguma coisa que eu não fui capaz de ouvir.
-Oooiee!-Ashley, minha melhor amiga chegou, simplesmente do nada, dando uns tapinhas na minha costa e dando um sorriso aparentemente, amarelo.-Como as coisas vão com o teu Boy Magia?
-Bem...-Falei com o tom levemente desanimado por causa do que havia acabado de acontecer comigo e com André.
-Ain amiga, que que foi isso?-Ela perguntou, perdendo a animação.
-Nada não... Enfim, como é que tu tá indo com o Dani maravilha?- Ri com meu próprio comentário. Rimos até chegarmos no corredor principal, onde nós nos separamos e fomos para as nossas respectivas salas. Após a aula insuportável de biologia, e depois a de química, saí e fui até o refeitório, rumando para a gigante cantina, que continha todo o tipo de coisas, desde bombons de menta até Kinder ovos. No caminho, acabei esbarrando em André, que disse oi, e foi até a mesa onde seus amigos estavam olhando para mim de maneira estranha. Andei até a mesa do canto, onde eu sempre me reunia com os geeks excluídos e ficava falando sobre diversos temas, como doctor who, a minha série preferida, os novos episódios de Gotham e The Flash, entre outros temas que as pessoas normais não costumam refletir sobre, ou sequer pensar neles.
Depois do lanche andei apressadamente até a sala e fiquei de tocaia no relógio, esperando o horário bater, para eu ver logo o que diabos André queria me dar. Quando finalmente a bosta dos três horários acabaram, corri até o portão, para encontrar André. Avistei-o de longe e acenei de forma animada para ele. O beijei e mandei uma mensagem pra mamãe avisando que ela não ia precisar me buscar hoje.
-E aí? Cadê?- Perguntei, com o tom de voz impaciente e curioso.
-Calma, amor, tá lá na casa da montanha, preparei uma surpresa especial para você...- Ao mesmo tempo, fiquei feliz e assustada. Muitas lendas urbanas diziam que aquela casa era assombrada, que abrigava bandidos, prostitutas, etc... E existem realmente MUITAS lendas sobre aquela casa, cabana, chame do que quiser.
-Lá?-Perguntei, levemente desapontada e desanimada.
-Sim, por quê? Você não quer ir?-Ele perguntou, já com o esboço de uma careta no rosto.
-Não é isso... É porque... Bem, as lendas-Fui interrompida.
-Ah! Aquelas besteiras? Não se preocupe, é tudo besteira, pura mentira de criança.
-Humpf...-Resmunguei, mas não resisti.
-Vamos logo.- Ele me puxou pelo braço até o seu carro, um celta preto.
-Ai!- Reclamei da sua mão apertando com uma força demasiada o meu braço.
-Desculpe-ele se desculpou rapidamente e fechou a porta do carro. Depois que ele apertou o acelerador e botou na quinta marcha, comecei a me animar de novo, afinal, era o presente de aniversário de namoro que ele me daria. Segurava o pacotinho com o seu presente nas mãos, brincava com o laço improvisado que mamãe fizera. Sorri com os cantos da boca. Sem que percebesse o tempo passar, me encontrei diante da velha casa da montanha, ainda segurando a caixa de presente, que a esta altura, já estava amassada. As heras-venenosas que invadiam a casa eram evidentes, assim como as rachaduras e a óbvia falta de tinta nas paredes.
-Você tem certeza que é seguro?
-Claro-Ele respondeu, de forma insegura, parecia que ele não acreditava no que estava dizendo.-Me espere no andar de cima ok? No segundo quarto, vou pegar comida.-Ele falou, mordendo o seu lábio inferior e se dirigindo à cozinha enquanto eu subia as escadas e procurava o suposto quarto. Depois de uma procura um tanto inútil, acabei encontrando o cômodo, e adentrando-o. Olhei ao redor e sentei na cama levemente empoeirada e velha. Me assustei com o súbito toque do meu celular. Era minha mãe. O que ela queria? Atendi, receosa.
-Alô? Mãe? Aconteceu alguma coisa?
-Não, filha. Só liguei para saber se estava tudo bem... E aí?- Desamarrei o laço da caixa de presente e retirei o perfume que eu havia dado à André de dentro dela. Pus o mesmo na escrivaninha e desatei a falar novamente.
-Tô bem mãe...- Ouvi o barulho de uma porta sendo arrombada e o barulho de seu celular caindo no chão.
-Calma eduardo... Não!- Minha mãe citava meu pai. Ouvi um barulho seco... Um tapa.
-MÃE!- Ouvi ruídos e mais tapas.
-Não... Por favor...- Ouvia seu choro no outro lado da linha.
-NÃO! MÃE!- Comecei a chorar também. O telefone foi desligado ao mesmo tempo em que ouvi um barulho vindo do armário atrás de mim.
-Mas que porr...- Tentei falar, mas senti um golpe realmente forte atingir minha testa. Deixei o celular cair no chão e minha cabeça pousar agressivamente sobre o travesseiro. Gemi de dor. Vi um homem com uma daquelas toucas de bandido. A lenda não estava totalmente errada.
-Vai...Geme vadia...- Vi um homem dizer enquanto estava vindo para cima de mim. Gritei de medo, bem alto, até que consegui ver André chegar correndo e o atingir com uma tábua na cabeça. Recomecei a chorar.
-Seu porra! Ela é minha... Só minha...- Vi ele se virar para mim e sorrir.- Não é? Heleninha?- Ele se pôs diante de mim, na verdade, ele deitou em cima da minha pessoa.
-André, não...-Afastei sua cabeça com a mão, mas o mesmo a segurou, prendendo-a a uma corda que estava amarrada na cama logo depois.
-Nananinanão, querida...- Ele beijou meu pescoço, tirando meu casaco em seguida.
-André! PARA!- Suas mãos percorriam um caminho longo e de certa forma suntuoso por debaixo da minha camisa.-NÃO!-Continuei gritando, obviamente, em vão.
-CALA A BOCA!-Cuspiu as palavras na minha cara e me deu um talo. Logo em seguida, arrancou a minha blusa à força, e consequentemente, arranhando minha caixa torácica. Chorei desesperadamente e tentei chutá-lo, mas ele era mais forte, muito mais forte. Senti novamente suas mãos pesadas rasgarem meu sutiã e abaixarem minhas calças. Seu peitoral nu já estava à mostra, assim como seu membro, que já se encontrava ereto, rijo. Depois de estar completamente nua, senti seu membro penetrando as Minhas partes íntimas, fazendo-as sangrarem. Infelizmente, eu já arqueava as costas, ainda tentando lutar contra o ato de meu namorado estuprador, mas era inútil, já não adiantava mais, eu estava melada de sangue, com dor por todo o corpo e sem nada mais a fazer. Eu só queria morrer. Sumir da face da terra, evaporar. Minha dignidade estava morta, minha esperança estava morta, minha força de vontade estava morta, tudo estava morto em mim. Vi algumas prostitutas transitando pelo corredor. A lenda não era uma complea mentira, afinal. Mas de qualquer modo, isso já não me importava mais. Apenas revirei os olhos nas órbitas e desmaiei instantaneamente. O mundo já estava escuro demais para que eu pudesse sequer tentar enxergá-lo.***
Dias Atuais
-É-é is-isso...- Desatei a chorar. Senti as mãos de Adam envolverem meu corpo, me oferecendo conforto.
-Shh, shhh, tá tudo bem.- Senti o tecido da sua roupa, já molhado, por causa das minhas lágrimas. Vi o relógio. Meio-dia e quarenta e sete. Meia hora contando-lhe a história toda, ou pelo menos o primeiro motivo.
-Obrigado por escut-tar minhas t-tolices...- Gaguejei, em meio às lágrimas.
-Calma... Não é tolice. Mas... Me responda uma coisa: Você ainda está namorando com ele?
-N-não... Eu que lhe disse errado mais cedo...
-Tá tudo bem... Qual é o próximo motivo que você vai me contar?
-Você ainda quer ouvir? que bombeiro eficiente...- Não resisti e ri com minha própria piada. Ele também sorriu com o canto da boca, o que meio que me tranquilizou.- O próximo, é o meu pai.
-Ok, espere só um segundinho.- Ele se levantou e pegou duas almofadas.- Pegue aí!-Ele falou e jogou uma para mim, mas eu não consegui segurar.
-Acho que alguém vai ter uma supresa bem fofa lá em baixo...- Ri com meu trocadilho ridículo.
-Tsc... Pegue a minha.- Ele riu e ofereceu a almofada de penas de ganso para mim.- Pode continuar a história.- Ele gesticulou, e eu me preparei para a segunda história. Um motivo já foi, faltam quatro.
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Suicidal
Short StoryMeus pés roçavam na beira do parapeito da janela do apartamento da minha tia, que ficava no décimo quarto andar do prédio em que a mesma morava. -Por quê eu estou aqui? Porque eu quero morrer, dã.- Respondi, impaciente. -E por quê você quer morrer...