eu estou completamente perdida. embora esse lugar não seja assustador, nem mesmo estranho, uma ânsia por respostas me consome. quero achar meu caminho, quero saber onde estou, quero que alguém me ajude, quero um mapa desse fim de mundo que não se acaba mais. para ser sincera, pareço muito mais uma branca de neve do que um menino da terra do nunca. só nunca fui com a cara dos coelhos, nem dos pássaros, nem das corças, nem de qualquer particularidade de bosques como esse que me cerca.
pensando nisso, eu observo os galhos empurrando uns aos outros, as folhagens não muito próximas do céu, e então olho para meus próprios pés. droga. os sapatos estão surrados a ponto de merecerem uma prateleira no lixão. aí eu me assusto. e se eu andar aqui sem nunca conseguir voltar? e se meus sapatos ficarem tão gastos que a borracha vai se despregar e o tecido vai sumir dos meus dedos? não, não, não, não, não, eu não posso. eu preciso correr mesmo que sem rumo, preciso sentir que estou fazendo algo por mim mesma.
passei a minha vida toda vendo os outros fazerem tudo por mim, e agora pela primeira vez na vida sinto que estou resolvendo meu próprio quebra-cabeça. totalmente sozinha, por conta própria, só eu comigo mesma e...
mais alguém?
a floresta se abriu na minha frente, e agora vejo um campo verde greenery, com a relva já um pouco crescida aqui e ali, o sol refletindo e deixando tudo mais claro, principalmente o dourado daquela garota deitada no meio desse lago verde.
ela tem os olhos fechados, uma mão sobre o tafetá fino e a outra largada no chão, as duas delicadas como as de anjos. o vestido até os joelhos e a renda branca que roça neles por culpa da brisa discreta. bochecas rosadas, sobrancelhas marcadas, os lábios chamativos, proporções perfeitas demais. e o cabelo. me fez esquecer tudo que eu pensei mais cedo sobre contos de fadas. a verdadeira princesa está ali, na minha frente.
eu ando calmamente até ela, sem segundos pensamentos, e paro assim que minha sombra cobre todo o seu dourado e branco. eu a vejo abrir os olhos lentamente, provavelmente por notar algo diferente. ela me encara, como se me perguntasse o que eu queria.
"quem é você?" ela pergunta.
ora, aposto que ela é mil vezes mais interessante do que eu. parecia pertencer a uma coleção de bonecas de porcelana, e a voz adocicada era a última comprovação necessária de que ela era verdadeiramente encatada.
"eu... eu estou perdida."
não desviamos os olhos por um segundo sequer até agora, e eu juro que estou amando navegar na escuridão de suas orbes. ela franze as sobrancelhas, e eu a amaldiçoo. pare de fazer essa cara agora mesmo, ou eu não sei o que pode acontecer.
eu desvio o olhar quando ela dá batidinhas leves no espaço ao seu lado, e por um momento eu me pergunto se seria certo eu me incluir no cenário dela, só para destruir aquele óleo sobre tela com meus jeans surrados, coturnos maltrapilhos e uma blusa que, para meu alívio, ainda cheirava bem.
de qualquer forma, ela não parece querer repetir o pedido e eu me ajoelho ao lado de sua cintura, que agora serve de apoio para suas duas mãos inquietas, sempre brincando com o tecido do vestido.
"eu não conheço você."
"não vai me ajudar porque sou uma estranha?"
ela me lança um olhar sério, e pisca duas vezes. agora seu rosto está voltado para cima e os olhos fechados de novo. já desistiu de mim assim tão rápido? suspiro.
"ha sooyoung."
o sorrisinho dela é como cócegas na barriga. os olhos dela sorriem, e eu não entendo o que a deixou tão feliz, mas eu adorei, me fez sorrir também.
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verde greenery | yves + hyewon
Fanfiction"quem é você?" ela pergunta. ora, aposto que ela é mil vezes mais interessante do que eu. parecia pertencer a uma coleção de bonecas de porcelana, e a voz adocicada era a última comprovação necessária de que ela era verdadeiramente encatada. "eu...