I. Rhuna

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Rhuna não esperou pela conclusão da batalha na Floresta Negra.

Sequer esperou a aprovação de Valatr quando levantou voo com Fiassa em perseguição aos traidores remanescentes. Ela os faria pagar.

Gheyon morrera sob as garras de Delétrion durante a batalha e aqueles que ainda restavam de seu bando de mercenários malditos decidiram que era uma ótima ideia dar meia volta e desaparecer no horizonte, para longe da batalha.

Mas Rhuna ainda não se sentia vingada. Sabia que os mestres pouco tinham relação com a morte de seu irmão, Reus, e dos demais membros da Cavalaria, mas o simples fato de que eles lutavam ao lado dos que tinham cometido aquele crime fazia sua magia fervilhar.

Um deles, uma fêmea chamada Ranyen, voou para o sul, em direção a Til Onag. Foi atrás dela que Rhuna decidiu ir primeiro.

Enquanto voavam, os restos carbonizados da Floresta Negra ainda levantavam uma cortina de fumaça capaz de cegar os viajantes que não tinham o privilégio de voar alto no céu, além do alcance da fuligem. Mesmo sem ser sufocada pelos efeitos da queimada, Rhuna sentia-se vulnerável ali. Se Ranyen a visse, afinal, poderia esconder-se ali e atacar sem aviso.

Talvez devesse parar e esperar que os fogos se apagassem antes de retomar sua caçada, ou talvez seguir em outra direção, para longe da floresta em chamas. Mas após ponderar nas costas de Fiassa, decidiu que não esperaria que seus inimigos encontrassem segurança ou, pior, conseguissem se reagrupar.

Rezando a qualquer deus que estivesse disposto a escutar, Rhuna convenceu a companheira alada a seguir em frente. Cada sentimento que as duas compartilhavam era repleto da dor remanescente da perda de Rheus e seu dragão, Falcon, então não foi tão difícil fazer com que Fiassa compartilhasse da mesma ideia da mestra.

Quando finalmente anoiteceu num dia que pareceu se alongar muito mais do que o normal, elas foram obrigadas a pousar e descansar. Não houvera tempo para dormir desde que tinham chegado na batalha e tinham que se proteger dos perigos da noite. Rhuna não fazia ideia do que poderia estar vagando por aquela imensidão devastada e, decerto, não queria descobrir.

Fiassa desceu entre algumas árvores que tinham sobrevivido à queimada por estarem mais afastadas das demais e foi ali que a elfa começou a montar um pequeno acampamento improvisado. Ela usou sua própria magia para iluminar o que era necessário, aproveitando-se de alguns galhos chamuscados que descansavam no chão para ascender uma pequena fogueira.

Como todo dragão, Fiassa não conseguia falar, mas através do Elo que as duas compartilhavam, Rhuna sentiu a agitação e desconforto da companheira, que bufou algumas vezes antes de se enrolar como um gato e descansar a cabeça ao lado de onde a elfa se sentava.

- Tenho certeza que os outros estão bem. - Rhuna tentou confortá-la. - Ao menos a batalha já acabou.

Fiassa bufou, fazendo com que a fogueira quase se apagasse sob o vento gerado pela dragoa. Rhuna agarrou e puxou uma das presas da companheira, cuja ponta era visível mesmo com a boca fechada, uma brincadeira da qual as duas compartilhavam desde que a criatura alada era apenas uma filhote.

Em resposta à provocação da elfa, a dragoa enfiou o focinho em seu colo, apertando e fazendo com que ela se deitasse, rindo contente pelo pequeno alívio que as duas ainda aproveitavam com a companhia uma da outra.

Fiassa, não contente em subjugar Rhuna contra o chão, virou-se com a barriga para cima, as asas abertas contra o chão esmagando a fogueira e fazendo com que tudo ficasse escuro, apenas a luz natural do céu restava para iluminar a noite.

Assim as duas brincaram por alguns minutos, uma apreciando o fato de que a outra existia, mas Rhuna sabia que havia um espaço vazio ali, uma ausência que seria sentida pelo resto de suas vidas.

AS GUERRAS ÉLFICASWhere stories live. Discover now