Prólogo.

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Quando Lauren finalmente entrou no ensino médio não esperava que as coisas fossem ser diferentes. Desde o jardim de infância, continuou com o mesmo ciclo de amizades e ter ou não mais pessoas ao seu redor nunca foi algo que fizesse diferença para ela. Amava com todo o coração seus poucos amigos, mas seu jeito introvertido a fazia ser e gostar de estar sozinha.

Quando completou seus cinco anos ganhou como presente de aniversário dos seus pais uma casa na árvore. Talvez tenha sido nessa ocasião que Lauren aprendeu a gostar apenas de sua própria companhia já que desde que fora presenteada seus dias eram resumidos a se trancafiar sozinha dentro da pequena casa e tomar chá com seus ursos de pelúcia. Nos dias atuais, a hispânica já não brincava como antes mas ainda sim dizia que seu lugar favorito do mundo inteiro era dentro do cubículo onde passou a maior parte de sua infância. E por isso, nos fins de tarde, ainda se trancava lá dentro e sentada no chão de madeira que já fora gasto pelo tempo, ficava até a hora do jantar absorta em seus livros.

Quando entrou no segundo ano, acreditava que as coisas continuariam da mesma forma, mas acabou se enganando. Diria que conheceu Camila de um jeito um tanto quanto estranho, já que nunca entendeu direito o porquê da aluna nova da escola se interessar em fazer amizade justamente com ela. De início, Lauren não foi tão receptiva quanto a latina gostaria que ela fosse, mas bastou Camila se incluir no círculo de amizades da hispânica para que as duas se tornassem inseparáveis, como se tivessem se conhecido a décadas.

Lauren nunca entendeu realmente o que era o amor. O pouco conhecimento que tinha sobre o assunto adquiriu com a ajuda de seus livros. Entendendo que o que sabia era muito raso para algo que ela julgava ser tão profundo, por medo, ao invés de buscar respostas nunca procurou entender o que sentia sempre que estava perto de Camila. Porém, quando a latina a beijou dentro de sua casa da árvore, a hispânica teve a confirmação de que ela se sentia da mesma forma, e a partir dali passaram  a compartilhar todos os momentos juntas no pequeno cubículo. Além de lugar favorito de Lauren, o lugar acabou por se tornar uma espécie de santuário para ambas, pois eram ali que iam para cultuar o amor que sentiam uma pela outra tendo apenas as velhas paredes de madeira como testemunha.

E era ali que estavam agora, sentadas no antigo chão, uma de frente para a outra, enfrentando o que parecia ser uma despedida. Os pais de Camila haviam há poucos dias descoberto o romance secreto de sua filha com Lauren e isso não os agradou, então, como uma medida de proteção para a filha, decidiram todos ir embora para uma nova cidade, Seattle. Camila havia escapado de seu castigo a poucos minutos para ver pela última vez sua namorada, já que iria embora no dia seguinte.

— Eu não achei que fosse verdade quando Dinah me contou, mas ainda sim fiquei envergonhada e com medo de ir até a sua casa. — Disse Lauren com os olhos lacrimejados depois de ouvir atentamente a história da latina. — Ainda não consigo acreditar. É tão injusto.

Uma lágrima escorreu dos olhos verdes deslizando vagarosamente pelas bochechas ruborizadas da hispânica. Camila se inclinou e com o polegar limpou a face de Lauren, depositando um selo casto na bochecha esquerda da mesma.

A latina odiava se sentir vulnerável. Passara sua vida inteira vivendo em sua própria bolha e se afastando das pessoas que achava um tanto irônico, quase engraçado, a capacidade que os olhos verdes tinham de desarmá-la por completo. Sempre foi assim desde que conheceu Lauren, se sentia devorada e minúscula com um simples olhar que a hispânica dava para ela. Era como um dom. Estava surpresa que mesmo com os olhos verdes emitindo tamanha tristeza e sem o brilho que costumava ter, ainda tivesse o mesmo efeito sob ela.

O silêncio preenchia o cubículo de madeira. Não era um silêncio desconfortável, ambas estavam com medo do que fariam quando tivessem que enfrentar o lado de fora da casa na árvore.

De um lado, Lauren analisava com cuidado cada detalhe do rosto de sua amada; começando pelos olhos castanhos escuros que ela poderia observar por horas sem se cansar, descendo os olhos depois para a pele bronzeada que reluzia com a fraca iluminação do sol que entrava por uma pequena brecha da janela, e por fim, os lábios grossos extremamente convidativos. Se perguntava quando poderia apreciar minuciosamente cada detalhe de Camila novamente. Do outro, a latina se perguntava como iria sobreviver em Seattle se seu coração estava em Miami.

— Eu amo você. — Disse Camila enquanto se inclinava na direção da garota. — E vai ser sempre assim, sempre.

A latina colocou sua mão na nuca de Lauren, puxando o rosto da mesma para si e juntando seus lábios em um selo demorado. O beijo foi aprofundado pela hispânica e separado por Camila apenas pela falta de ar.
Depois de muitas carícias trocadas dentro do que seria um eterno santuário para ambas, o pôr do sol mostrou que já estava na hora de cada uma das duas seguir o seu rumo.

Se levantaram juntas, e depois de mais um beijo e abraço demorado, Lauren assistiu pela janela em lágrimas Camila correndo para longe de sua casa até sumir de sua vista.

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