4- Lobo em pele de cordeiro

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No quarto dia tudo estava calmo, talvez até demais, porem uma coisa não passou despercebida por aqueles sentados à mesa, Philip não descera para tomar café, e ninguém falou nada sobre isso, mas como poderiam não é mesmo? Estavam assustados demais para aceitar a verdade, se enchendo de uma falsa coragem estupida tentando negar aquilo que pensavam desde que haviam colocado os pés na sala, ele também se foi, e no momento restavam apenas três pessoas.

O café se arrastou, calmo e quieto, diferente das últimas vezes que estiveram lá, quando Philip contava suas histórias e divertia a todos. O único que parecia bem e indiferente da situação era Richard, que comia calmamente como se nada tivesse acontecido, ou vendo de uma maneira diferente, como se soubesse o que tinha acontecido.

Ele foi o primeiro a se levantar, e sem dizer uma palavra saiu da mesa, se dirigindo até eu quarto, do mesmo jeito que sempre fazia.

Lucinda soltou um suspiro pesado, como se estivesse o segurando sua respiração por muito tempo, parecia cansada e as olheiras demonstravam isso, talvez ela não tivesse dormido bem recentemente, já que a cada noite uma pessoa morria, e a cada novo dia um corpo era encontrado.

-Não gosto dele. – Disse alto.

Claro que ela não gostava, mas como poderia gostar de uma pessoa como aquela? Ele só se importava com ele mesmo e com dinheiro, mas em um mundo como esse, isso não é normal?

-Acho que compartilho dos mesmos sentimentos.

Seus olhos transbordavam a raiva que sentia naquele momento.

-Como alguém pode ser assim?

-Algumas não compartilham do sentimento de empatia senhorita. O mundo é um lugar cruel sem dúvidas.

-Mas não é por ele ser cruel que deveríamos ter mais consideração pelos outros?

-Todos erram, todos tem sua bagagem, todos transbordam culpa. Então julgar alguém por não ter empatia, sem nem saber o que aconteceu, não te faz melhor que ela.

Ela levantou a sobrancelha, como se aquelas palavras fossem algo fora do normal. Mas certamente para ela não eram, dava pra sentir a culpa dela, ela sabia que não importa o motivo, não importam suas intenções, o mal ainda é o mal, e julgar o pecado dos outros sem nem mesmo olhar os seus, é uma grande piada de mal gosto.

-Talvez algumas pessoas não sejam nem capazes de sentir isso.

E saiu, sem dizer mais nada.

O dia passou lento, a neve ainda caia, de maneira mais leve do que na parte da noite, e Philip ainda não havia aparecido nenhuma, o que era no mínimo perturbador para todos, já que a essas horas deveria estar pedindo mais vinho ou alguma bebida, ou até mesmo pedindo comida. A casa estava em pleno silêncio, talvez seria possível ouvir até mesmo uma agulha caindo em meio a neve.

Na hora do jantar as mesmas três pessoas se faziam presentes na mesa, as mesmas três do café da manhã, e as únicas que haviam sobrado naquele lugar. O jantar estava normal, todos comendo, ninguém falava nada, tudo estava na mais perfeita paz.

Lucinda então se levantou da cadeira, indo até a direção de Richard, e lá se foi embora a tranquilidade do jantar.

-Como você pode ser assim?

-Luci...

-Não James, eu quero saber dele, quero ouvir de sua boca, como pode alguém ser tão frio desse jeito?

-Você me acha frio senhorita? -Ele se levantou também, sorrindo de canto. -E me deixe adivinhar, também acha que eu só me importo comigo mesmo, não é?

Letters of a crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora