Epílogo

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Cidade de mezhgorye, Rússia – 18 de outubro de 2054

Talia e Diana estavam na cozinha se preparando para a pequena viagem que fariam em alguns instantes. Voltando do quintal pelos fundos da casa, Michael trazia uma cesta repleta de verduras. Já fazia mais de um ano desde o ocorrido com Prochnost e Os Novos. De lá para cá, haviam se estabelecido na casa que antes servia como base, reparado os danos e agora tudo estava em perfeito estado. Também haviam estabelecido uma horta e um pomar nos fundos da casa que finalmente começaram a recompensar todo o trabalho pesado. Após organizarem as provisões, partiram em direção àquele centro militar onde, no passado, tanta coisa havia acontecido em tão pouco tempo. Lá, a resposta a todos os seus anseios os aguardava.

O interrogatório que haviam conduzido com Prochnost naquela época foi extremamente importante para sobreviverem por tanto tempo após o ocorrido. Com ele preso, obtiveram acesso ao Banco Global de Sementes de Svalbard, assim como todos os processos e protocolos necessários para a restauração da vida na Terra. Através de Prochnost, e com acesso irrestrito ao Centro de Pesquisas Subterrestres, foram capazes de se preparar e iniciar as ações que transformariam o planeta de volta ao estado em que devia estar. Primeiro, precisavam de tempo para restaurar a vegetação de modo que não lhes faltasse alimento, e para isso precisariam de um fornecimento considerável de água. Fornecimento que agora tinham acesso graças ao sistema de manutenção de vida que manteve Os Novos vivos enquanto aguardavam sua ascensão ao mundo exterior, o que incluía um abastecimento ilimitado de água. Precisaram fazer alguns desvios nas tubulações e em algumas semanas tudo estava resolvido.

Após se estabelecerem e criarem um ambiente capaz de sustentar suas vidas por tempo suficiente no futuro, precisavam solucionar o problema de repovoar a Terra. Então, após alguns dias estudando todo o Protocolo NOVA tiveram uma surpresa: Prochnost não estava mentindo quando disse que o protocolo não estava preparado para lidar com sobreviventes humanos. O processo de repovoamento era bem claro. Em uma instalação anexa ao laboratório de Watt, centenas de incubadoras fariam o papel de gerar a vida dos embriões produzidos no laboratório. Só havia um problema: apenas Prochnost era capaz de realizar esse procedimento. O período de incubação era definido por ele nas incubadoras, que eram capazes de sustentar a vida por até 20 anos. Em seguida, as bombas de DNA que ele carregava precisavam ser extraídas do seu corpo e recombinadas em diversas sequencias genéticas de forma a gerar variabilidade na população, o que só era possível com a destruição de Prochnost. Esse era o objetivo do protocolo no fim das contas, a permanência da humanidade sobre todas as outras vidas. A última cartada na verdade era o último resquício do retrato daquela sociedade extinta. A ideia de que a vida humana era mais importante do que todas as outras. Felizmente, seriam capazes de mudar esse pensamento de agora em diante.

No fim, Prochnost se sacrificou para que a humanidade pudesse se desenvolver novamente. Não por estar preso e acuado, mas por acreditar estar fazendo a coisa certa, por achar que a vida realmente estaria em melhores mãos se guiada por aquelas pessoas. Talvez ele tenha tomado o caminho errado para chegar no lugar certo, para nos fazer entender que todas as vidas importam, e isso agora estava representado em todas aquelas novas espécies espalhadas pela via láctea. O mais importante era que agora precisavam cuidar da vida que estava bem ao redor deles, naquele planeta, antes de se preocuparem com as outras. E agora, olhando nos olhos daquela criança que saía da incubadora, a mesma certeza passava pela cabeça dos três sobreviventes: independente de tudo que aconteceu, a humanidade renasce hoje.


Fim.

Terra NovaWhere stories live. Discover now