Antônia vestiu um vestido leve e deixou seus cachos definidos e cheirosos. Um pouco antes das sete e meia quase tudo estava pronto: arroz, feijão, uma farofa carregada com bacon e molho vinagrete. Mais tarde fritaria bifes e batatas. Perto das oito, Antônia sentou-se no sofá e colocou a TV no jornal, ficou se distraindo com as notícias desagradáveis do governo e com uma ou outra coisa positiva sobre o mundo até que a campainha tocou.
Antônia desligou a TV e ignorando uma mão suada aqui e um coração esquisito ali, ela abriu a porta e os rostos revelados eram de paz.
— Tia! — Carlinhos abraçou suas pernas. — Olha meu avião!
Antônia se abaixou e lhe deu um beijo no rosto. Vicente entrou e fechou a porta.
— Uau, arrasou. É um avião muito bonito. Você vai ser piloto quando crescer? — Antônia perguntou enquanto olhava fascinada para o avião de brinquedo.
Embora nunca tivesse pensado nisso antes, Carlinhos assentiu fervorosamente.
— Vou ser piloto de avião. Zuuuuuum! — a criança começou a correr pela sala erguendo seu brinquedo.
Antônia levantou-se e olhou Vicente nos olhos, o abraçou com força.
— Eu toquei a campainha errada, sabia? — Vicente admitiu no meio do abraço.
Antônia o soltou enquanto ria.
— É o que?
— Acabei confundindo quatrocentos e doze com quatro centos e catorze. Uma senhorinha abriu pra mim e perguntou se eu era o moço da internet. — Vicente contou.
Antônia gargalhou.
— Dona Edna é um amor. — ela disse enquanto caminhava em direção ao sofá. — Ela podia ter te chamado pra um café. Sempre que ela me vê no elevador ela me chama pra passar a tarde com ela.
Vicente sorriu e a seguiu.
— De fato ela é uma senhorinha fofa. — ele disse.
Ambos sentaram no sofá e Carlinhos foi até eles depressa.
— Tia, tem o canal do desenho? — a criança sentou no sofá e agarrou uma almofada roxa que destoava completamente do sofá verde musgo de Antônia.
Vicente se mexeu desconfortável.
— Filho, fica quietinho.
Os olhinhos escuros de Carlos Henrique piscaram devagar e ele mexeu no cabelo castanho cheio. Voltou sua atenção pro avião.
— Vicente, pare de reprimir a criança. — Antônia reclamou com irritação olhando-o feio e depois olhou Carlinhos com doçura. — Tem sim, Potter. Olha só.
Antônia ligou a TV e a sintonizou num canal de desenho animado. O rosto de Carlinhos acendeu e rapidamente ele se aconchegou agarrado com a almofada.
— Você gosta de biscoito de chocolate? — a professora perguntou enquanto fazia carinho no cabelo macio da criança.
Carlinhos assentiu sem tirar os olhos da TV. Antônia levantou-se puxando Vicente pelo braço até a cozinha.
— Não precisa...
Antônia tocou o rosto de Vicente com calma e lhe deu um beijo estalado nos lábios.
— Pare de achar que o Carlinhos me incomoda. Antes de gostar de você, eu gostei dele.
Ela gosta de mim, Vicente pensou instantaneamente, então relaxou e ficou quieto.
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Agridoce: aquele que é doce e amargo ao mesmo tempo
RomanceAntônia e Vicente são duas pessoas ordinárias com vidas comuns que, ao se conhecerem por obra do acaso, colocam em xeque todos os segredos e mentiras de pessoas à sua volta. E assim, tal qual como o destino é, verdades guardadas à sete chaves durant...