Capítulo XIV: História de Amor

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Antônia vestiu um vestido leve e deixou seus cachos definidos e cheirosos. Um pouco antes das sete e meia quase tudo estava pronto: arroz, feijão, uma farofa carregada com bacon e molho vinagrete. Mais tarde fritaria bifes e batatas. Perto das oito, Antônia sentou-se no sofá e colocou a TV no jornal, ficou se distraindo com as notícias desagradáveis do governo e com uma ou outra coisa positiva sobre o mundo até que a campainha tocou.

Antônia desligou a TV e ignorando uma mão suada aqui e um coração esquisito ali, ela abriu a porta e os rostos revelados eram de paz.

— Tia! — Carlinhos abraçou suas pernas. — Olha meu avião! 

Antônia se abaixou e lhe deu um beijo no rosto. Vicente entrou e fechou a porta.

— Uau, arrasou. É um avião muito bonito. Você vai ser piloto quando crescer? — Antônia perguntou enquanto olhava fascinada para o avião de brinquedo.

Embora nunca tivesse pensado nisso antes, Carlinhos assentiu fervorosamente.

— Vou ser piloto de avião. Zuuuuuum! — a criança começou a correr pela sala erguendo seu brinquedo.

Antônia levantou-se e olhou Vicente nos olhos, o abraçou com força.

— Eu toquei a campainha errada, sabia? — Vicente admitiu no meio do abraço.

Antônia o soltou enquanto ria.

— É o que?

— Acabei confundindo quatrocentos e doze com quatro centos e catorze. Uma senhorinha abriu pra mim e perguntou se eu era o moço da internet. — Vicente contou. 

Antônia gargalhou.

— Dona Edna é um amor. — ela disse enquanto caminhava em direção ao sofá. — Ela podia ter te chamado pra um café. Sempre que ela me vê no elevador ela me chama pra passar a tarde com ela.

Vicente sorriu e a seguiu.

— De fato ela é uma senhorinha fofa. — ele disse.

Ambos sentaram no sofá e Carlinhos foi até eles depressa.

— Tia, tem o canal do desenho? — a criança sentou no sofá e agarrou uma almofada roxa que destoava completamente do sofá verde musgo de Antônia.

Vicente se mexeu desconfortável.

— Filho, fica quietinho. 

Os olhinhos escuros de Carlos Henrique piscaram devagar e ele mexeu no cabelo castanho cheio. Voltou sua atenção pro avião.

— Vicente, pare de reprimir a criança. — Antônia reclamou com irritação olhando-o feio e depois olhou Carlinhos com doçura. — Tem sim, Potter. Olha só.

Antônia ligou a TV e a sintonizou num canal de desenho animado. O rosto de Carlinhos acendeu e rapidamente ele se aconchegou agarrado com a almofada.

— Você gosta de biscoito de chocolate? — a professora perguntou enquanto fazia carinho no cabelo macio da criança.

Carlinhos assentiu sem tirar os olhos da TV. Antônia levantou-se puxando Vicente pelo braço até a cozinha.

— Não precisa...

Antônia tocou o rosto de Vicente com calma e lhe deu um beijo estalado nos lábios.

— Pare de achar que o Carlinhos me incomoda. Antes de gostar de você, eu gostei dele.  

Ela gosta de mim, Vicente pensou instantaneamente, então relaxou e ficou quieto. 

Agridoce: aquele que é doce e amargo ao mesmo tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora