Não trocávamos mensagens durante o dia, mas passamos as noites seguintes juntos. Transávamos, conversávamos e depois transávamos ainda mais. Seguimos esse fluxo rock n roll até sexta-feira, quando passei por uma situação constrangedora que me deixou péssimo. Uma verdadeira apunhalada no coração.
Estávamos transando. Eu sentado por cima dele, apoiando as mãos em seus peitos tatuados. Sua cara de prazer é o que mais me dá tesão. Ele deu um tapa em minha bunda e sorrimos. Então o interfone começou a tocar e senti um calafrio, algo ruim estava para acontecer. Pausamos o que estávamos fazendo para ele atender e saber por que o porteiro estava interfonando. Ao atender sua cara não foi a melhor e a sua reação seguinte foi ainda pior.
- Você precisa ir embora. – Ele começou a vestir a cueca.
- Por quê? O que aconteceu?
- Agora! Rápido! – Ele já estava colocando a calça.
- Não estou entendendo. – Disse confuso.
- Ela está subindo. – Gelei, imaginando o que estava acontecendo.
- Ela quem? – Perguntei sem querer acreditar que estava sendo enganado a semana toda.
- Minha namorada, porra! Agora entendeu? – Ele abriu a porta.
- Como assim? Você estava esse tempo todo traindo sua namorada comigo e mentindo para mim?
- Olha, sem viadagem. Só vai embora, depois nos falamos. – Coloquei o short o mais rápido que pude e peguei as outras peças.
- Você é ridículo e um puta mentiroso. – Disse quando estava passando pela porta.
- Mas você gosta de dar para esse mentiroso aqui. – Fervi de raiva.
Meu mundo caiu aos pedaços. Saí quase correndo, me sentindo um lixo. Ele se aproveitou de mim esse tempo todo, além de ter traído a namorada e me fez participar disso tudo. Eu não estava querendo ver a verdade, eu admito, ele dava sinais quando se afastava para responder mensagens. Mas como não falava mais sobre ela, preferi me enganar e não perguntar mais nada. Dormi agarrado ao travesseiro depois de tanto chorar.
Acordei com os olhos inchados de dor e salgados de tristeza. Estranho acordar com o coração machucado após uma semana cheia de conversas, carinhos e muito sexo. Pensei que estávamos nos envolvendo de verdade, nos encontrando. Porém, descobri que o deus que me seduziu na verdade é um demônio perverso.
Passei o final de semana todo na cama maratonando uma série atrás da outra. Não estava querendo pensar, pois fazia o coração doer. Eu ocultei a verdade para estar com ele, traí minha verdade para estar em seus braços e mesmo assim fui escorraçado feito cachorro leproso.
Na última semana eu havia me afastado dos meus amigos por receio de contar em que estava me metendo. Eles iriam zuar com minha cara e falar gracinhas, então preferi evitar tudo isso. Até me chamaram para sair e perguntaram por que estava tão calado, mas não estava em clima de desabafar com ninguém, só queria ficar sozinho e quieto.
Demorou, mas a segunda-feira chegou e com ela a volta da minha rotina sem graça. A surpresa desagradável foi quando voltei do trabalho e encontrei-o ao lado da porta do meu apartamento. Respirei fundo. Pensei em gritar, xingar ou dar na cara dele, mas mantive a calma mesmo com o coração ferido.
- O que você quer? – Disse da forma mais fria que pude.
- Conversar. Você não mandou nenhuma mensagem. – Ele nem conseguia me olhar nos olhos.
- Sério? – Cruzei os braços, me contendo.
- Mano, eu estava me acertando com ela. Não queria colocar tudo a perder.
- Você escuta o que está falando? Eu fui feito de otário esse tempo todo. Não conta?
- Eu tentei de tudo, mas brigamos e terminamos de vez. Ela já era. – Ele deu um passo em minha direção.
- Você não me ouve mesmo. Não quero saber! Não tenho nada haver com isso.
- Escuta...
- Escuta nada! Você me enganou e traiu sua namorada. Depois de me dar um fora daqueles, sem ter o menor cuidado com o que eu estava sentindo. Aí agora que ela não te quer mais, você acha que vou querer alguma coisa só porque você está livre?
Ele ficou calado. Fui à porta, destranquei, entrei e fui fechar. Mas ele entrou antes disso e bateu-a. Tentei falar, mas nossas bocas já estavam coladas em um beijo. Porra, por que sou tão fraco? Acabei endeusando tanto ele que não tenho forças para lutar contra o desejo.
- O que você quer? De verdade? – Eu disse após o beijo.
- Neste exato momento quero você.
- E depois?
- Você? – Isso não foi uma afirmação, disso eu sabia.
Conversamos e abri o meu coração. Disse tudo o que senti, como sofri e chorei. As lágrimas desceram como cachoeiras. Estava sendo totalmente transparente e querendo a verdade. Ele pediu desculpas e depois disse que era o nosso momento e que deveríamos aproveitar o máximo possível.
- Eu só faço merda, sabe? Não sei aproveitar o que tenho. – Ele começou a chorar. – Acabo perdendo as pessoas que amo.
Aquelas lágrimas não eram para mim, mas parte das lamentações sim. Ferido e ainda desconfiado, acabei aceitando as desculpas, dando uma segunda chance para ele.
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JEANS AZUL | conto gay, hot e molhado
Short StoryJEANS AZUL é o encontro poético, sexy e ensolarado de dois caras. Sobre como o desejo aflora em relacionamentos nos tempos atuais, tão fluido, tecnológico, mascarado e descartável. O conto é uma reflexão sobre se permitir sentir e viver o desejo que...