Cap. 08

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Tiramos fotos na parte rasa da água molhando apenas algumas partes do corpo. Túlio não me mostrava todas as fotos até para não estragar a surpresa, mas as poucas que ele mostrou eu já pude ter a completa certeza de que tinha entregado meu book nas mãos da pessoa certa. Era incrível como ele conseguia transformar o simples no incrível. Tiramos dezenas de fotos na praia, seja em pedras, na água, na areia, ou até mesmo no calçadão tomando água de coco. Troquei de biquíni para maiô durante o ensaio fotográfico para não parecer que tirei milhares de fotos nos mesmo dia como se eu estivesse totalmente desesperada. Fizemos uma pausa no processo e entramos em algum restaurante por perto que a própria Paula indicou. Acho que já estive aqui antes, poucas vezes e há um bom tempo, mas de qualquer forma foi bom poder lembrar o quão bonito e aconchegante ele era.

— Meu pai amado, você vai amar as fotos, Soph — Túlio me deixa na vontade, apenas observando cada uma das fotos na memória da câmera, meio que por cima, enquanto esperávamos o nosso almoço.

— Ah, não!! Não me faça ficar na vontade — faço cara de emburrada, zoando.

— Calma, vou enviar todas elas assim que eu escolher as melhores e editar. Mas só para não dizer que sou mau, olha aqui mais algumas — vira a câmera em minha direção.

Eu estava curvada para trás, sentada em uma pedra grande, e os olhos fechados, como se aquele lugar e clima fossem os melhores. E na verdade era. Em outra foto era eu encostada em um poste do calçadão bebendo água de coco no canudinho biodegradável, já que, segundo Paula, quanto mais eu pensasse no meio ambiente estando na praia, mas chances eu teria de ser alguém reconhecida e tudo mais. Até que faz sentido. Hoje em dia ser modelo vai muito além de beleza e modo de se vestir, mas também de seus conhecimentos socioculturais, por exemplo. Pelo que sei, antes de entrar em alguma campanha os modelos tem que estudar o intuito e o que a empresa ou seja qual for o meio que o trás a desfilar, quer mostrar ao público através de suas peças de roupa ou qualquer outro produto/estabelecimento originados por eles. Estudar a ideia da campanha. Se fosse um book para uma empresa de rede de biquínis ou qualquer outra coisa que pense no meio ambiente, provavelmente eu já teria um ponto a mais por essa iniciativa.

Após o almoço o Túlio deu a ideia de a gente ir até um shopping, especificamente na parte que há brinquedos. Ele me disse que tinha em mente ótimas ideias de fotos. Troquei de peça de roupa mais uma vez, dessa vez eu vesti um vestido longo com fenda na perna direita, a da prótese. Ele era vermelho sangue, a coisa mais linda, tanto que quase nunca tive ocasião para usá-lo.

— Aqui, segurando a bola de basquete — me joga uma.

Peguei a bola que veio certinho em minha direção.

— Faça carão olhando somente e diretamente para a câmera, ok? — Assinto, já fazendo a expressão facial que me pediu. — Paula, pega essa minha pasta preta que está aí do seu lado, dentro da minha bolsa, por favor — ela o faz. — Isso, agora faz um pouco de vento nos cabelos da Sophia, vindo um pouco de baixo.

— Assim? — Ele assente, sorrindo.

— Tenta mostrar mais a prótese pela fenda, Soph.

Olho para a minha perna, realmente ela não estava à mostra como eu imaginava. Finalizamos aquela parte da sessão e Túlio sugeriu mais algumas fotos em diferentes partes do "parque", como o carrossel e o tiro ao alvo. Assim fizemos. Foram fotos e mais fotos. Eu não observava muito como as pessoas ao redor reagiam à nós tirando fotos aleatoriamente no meio de um lugar cheio de crianças e jovens, mas as poucas que vi estavam com um olhar de admiração e até sorrisos no rosto, talvez curiosas e querendo saber para o quê seriam aquelas imagens.

— Isso, senta de lado para mostrar bastante o vestido e o salto. Sorri. Assim mesmo.

Fiz caras e bocas para mais dezenas de fotos.

— Agora coloca uma perna em cima da outra, de preferência a prótese por cima. É, assim. Agora coloca a mão direita por cima dela, bem relaxada, enquanto a outra segura a corda do cavalo. Está perfeito, agora arqueia uma das sobrancelhas fazendo cara de quem acabou de assaltar um banco e ninguém descobriu — nessa hora Paula e eu nos rachamos de rir, e ao notar o que acabou de dizer, Túlio também riu. Segundos depois eu já estava na pose, para poupar tempo.

Como não somos de ferro, compramos alguns tickets e fizemos o moço ligar o carrossel, do qual estava desligado, e olha que nem era por causa das fotos. Fomos umas duas vezes seguidas, de tão legal. Ainda bem que escolhemos, sem querer, um dia com menos movimentação. Bem melhor. A gente riu horrores no trajeto dos cavalos no ar. Tiramos selfies divertidas do alto enquanto o outro estava em baixo, ou até mesmo em um momento do percurso que todos se encontravam no alto. Eram caras e bocas, risadas, olhos fechados e por aí vai. Não vi as fotos na hora, mas tenho certeza que quando eu parar para analisar cada uma vão ter várias espontâneas. Também brincamos de tiro ao alvo e eu fui a única que ganhei um urso azul.

— É sério, temos que tirar uma foto sua com esse urso do lado, só pode ter sido um sinal, hein — Túlio diz e ri em seguida.

— Infelizmente não, essa menina é sortuda assim mesmo — Paula revira os olhos fingindo estar com inveja.

— Ai, ai — risos.

O que parecia brincadeira se tornou real, como tudo que o Túlio propõe. Fizemos outra troca de roupa, dessa vez eu coloquei uma calça jeans um pouco rasgada, uma regata branca e uma jacketa preta por cima, com zíper aberto. Já era de noite, mesmo assim havia uma praça com uma iluminação muito boa e alguns bancos para sentar. As fotos foram basicamente sentada e também deitada no banco enquanto o urso ficava no chão ou ao meu lado enquanto eu sorria e fazia caras e mais caras para a câmera.

Batemos algumas fotos com outras peças de roupas, outros penteados que a própria Paula fez em meus cabelos, e adicionamos outros acessórios em meu corpo. Tudo estava correndo muito bem. Ao final de tudo, de última hora, decidimos tirar algumas fotos mais sensuais mas sem ser vulgar. Até então a gente não tinha um lugar para tirar essas fotos, mas o mais engraçado foi que Túlio pediu muito para uma gerente de hotel para podermos fazer esse trabalho dentro de um quarto. Por pouco ela não deixa ou cobra muito caro por isso. Porém, no entanto, todavia, Túlio deu seu jeitinho e conseguiu.

— Meu Deus! Como você conseguiu, seu doido? — A gente se acaba de rir enquanto subimos as escadarias largas de mais ou menos quinze ou vinte degraus do hotel.

— Ah... dei meu jeito, né — pisca, rindo logo em seguida. — Bom, falei para ela que tenho muitos seguidores e posso fazer uma propaganda do hotel dela por um dia em minhas redes sociais.

— E você tem? — Paula pergunta já pronta para rir.

— Não — risos. — Só 1k.

— Aah, tá é tirando onda — dou um tapinha no ombro esquerdo dele.

Entramos no quarto 09, como Túlio repassou para nós o que lhe foi coordenado.

— Uau, que quarto maneiro! — Paula sorri, em segundos se jogando na cama, que aparentemente era alta e fofa.

Nunca Desde SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora