Sancta

23°

Stelany

A irmandade, algo que não conhecia desde que me conheço por gente, por viver nesse momento algo diferente do que aquele casulo, ignorante a tudo e a todos. Noah e eu estamos construindo uma irmandade. Ele parece mais confiante e me conta as coisas, não tudo, mas ele me mostrou a sua fragilidade, o que o abala e deixa ser um menino com coração ferido.

Depois daquela conversa no sábado, ele chorou e ficamos em silencio até que ele dormiu, e também dormi com ele. Foi uma sensação de tranquilidade, ter alguém com quem contar, que se importa de verdade, sente de verdade, esse alguém, não é apenas uma pessoa, são três pessoas que hoje estou considerando a minha família.

David, é um assunto à parte. Com ele, converso aquilo que não consigo conversar com a minha terapeuta, uma das terapeutas que trabalham com a Anne, então, conto algumas coisas para David, sei que ele é tão quebrado quanto eu, mas ele está tentando ser meu amigo, o que está sendo algo novo para mim.

Os dias aqui na mansão, não está sendo a mesma. Depois daquela discussão aqui na casa, as coisas não estão como era antes. Harry, não olha sequer para a cara do filho, quando Noah está por parto, agora em diante, está menos em casa.

Noah tem chegado tarde todos os dias, já tem dois meses. Ninguém está querendo conversar sobre essa mudança, não pergunto para Anne, mas ela como psicóloga deve saber o que está acontecendo e porquê não está reagindo até agora e as oportunidades não são favoráveis para ela também, quase não vê o filho e quando vê, Noah está de saída.

Conversamos bastante por mensagem, ele as vezes, vai no meu quarto para conversar pela madrugada. Ele ainda está magoado com o pai, não sei qual é a conversa que tiveram no passado, mas o que sei apenas, está relacionado com o pedido do Senhor Smith, pai da Catherine, para ele se afastar da filha, apenas isso.

Sei que ele não está suportando ter que morar aqui novamente, ele quer sair de casa, apenas está aguentando ficar nesta casa, pela mãe e por mim, porque ele guardou magoa pelo pai e o tio há anos.

Não o julgo, acho que tudo depende de uma boa conversa entre os dois, ouvindo os motivos de cada um. Daria tudo para ter meu pai vivo, mesmo que seja para brigar. Não julgo o que eles fizeram, mas sei que magoaram bastante o Noah e também aquela menina.

Anne tem conversado com o marido. Harry é um senhor teimoso, não quer dar tréguas, sei que ele também está magoado, mas não muda de decisão e nem sequer se desculpou com o filho por ter escolhido por ele no passado, mas sei lá, pelo menos, Harry deveria considerar em conversar com Noah, explicar seus motivos por obriga-lo a se afastar da menina e manda-lo longe.

Acho que Harry tem vergonha pelo o que fez ao Noah, aos dois. Ele e o Senhor Smith erraram com eles, deveriam ao menos se desculpar por isso, pedir perdão aos filhos. Eles nem sequer conseguem ficar no mesmo lugar juntos, não se olham e nem suportam ouvir o nome um do outro.

Há uma grande magoa em Noah e Catherine. Não prestei atenção no meu aniversário, mas sei que eles ficaram arredios e nem sequer congratularam-se ou ao menos olhar para a cara um do outro. Há uma pedra no meio dos dois, e se os pais não conversassem sobre, eles terão o distanciamento dos filhos e consequentemente o ódio, se for pensando pessimistamente.

•••

— Stelany, está acordada?

Umas mãos tocam meus cabelos e a voz sussurrando em meu ouvido me desperta. Não durmo ao ponto de hibernar e a qualquer barulho não acordar. Tenho insônias e muitas vezes, qualquer barulho, já estou de olhos abertos, e demora para voltar a dormir.

Noah como nos outros dias no intervalo de dois meses, vem novamente na madrugada para o meu quarto. Ainda está usando o terno que saiu aqui pela cinco da manhã. Ele tem feito essa rotina, sai bem cedo e chegar quando todos já estão dormindo.