Mudanças...

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Akira on🌘

Era manhã, e como todas as outras, nada mudou. Eu estava encarando sem rumo ou quaisquer interesse a janela do quarto, perdendo-me aos poucos nesse vazio que me completa. Esse vazio...um nada tão misterioso, é isso o que eu amo nele, a forma em que não sei e talvez nem vá saber de minha história, ao menos, a minha história de vida fora desse hospital. Desde que me lembro como gente, eu sempre estive aqui, neste quarto branco, frio e solitário, com essas roupas leves mas desconfortantes, sufocando-me com os diversos cheiros de antibióticos e tudo o que me for dado para a minha recuperação. Algumas vezes eu dou voltas por entre os corredores, falando com um e outro paciente, quando permitido, comendo alguns lanches de meu gosto que tem na lanchonete, e a pior parte, vendo,mesmo que de relance, mais corpos serem levado ou trazidos para cá.  

As vezes eu me pergunto: "Qual o sentido disso tudo?" Digo, porquê nascemos para passar por isso? Eu vejo tantas pessoas conversando sobre suas crenças, e em todas, por mais que sejam diferentes, possuem deuses aparentemente piedosos, capazes de fazer tudo quanto é tipo de milagre e agrado para aqueles que os seguem, então...se é assim, aonde estão estes poderosos agora? Eu não sei se acredito ou não nessas coisas, mas uma coisa eu tenho certeza, o ser humano é uma criatura estúpida, que precisa de algo ou alguém para se apoiar quando a sanidade ameaça vacilar. Eu acredito em tudo e não acredito em nada, acho que o certo a se dizer é que eu acredito no que é possível ver, ter certeza, sem duvidar ou ter qualquer confusão guardada, afinal, não sinto que tenho cabeça para lidar com o mistério, eu quero descobrir e pronto, nada mais e nada menos, preciso de algo que alimente o meu espírito atormentado, mas nunca irei admitir isto.

[. . .]

Narrador on

A manhã  rapidamente passou e a tarde se foi também, restando apenas a noite tão calorosa que Akira tanto amava. A jovem de cabelos negros encontrava-se sentada em sua cama, usando roupas casuais, e aparentemente estava perdida em seus pensamentos, como de costume.

A garota era estranha, ao ver dos demais funcionários dali, mas para aqueles que cuidaram dela, a menina era preciosa, mais valiosa do que qualquer salário que já tiveram. Talvez fosse a dó que tinham dela, ou apenas instintos maternos e paternos em alerta,  até mesmo empatia e carinho podiam se encaixar no meio de tantos cuidados que forneciam a Akira.

Por um lado, a menina adorava aquela atenção toda, sentindo-se amada mesmo que aquilo ainda pudesse soar tão distante. E por outro, ela demonstrava medo, mesmo que não quisesse. Médicos, enfermeiras, e todos aqueles que demonstrassem afeto deixava a menina receosa, hesitante, as vezes até tinha alguns ataques, contendo-se ao máximo afim de não vacilar com aqueles que tanto cuidaram de si.

Em meio aos seus pensamentos, a de cabelos negros não notou a presença de duas pessoas, a encarando atentamente, como se tentassem entender o que sua expressão vazia significava, o que ela transparecia sobre o seu vazio. Porém, não demorou muito para que ela voltasse ao normal, assustando-se evidentemente ao notar as enfermeiras mais próximas do que todo o resto ali, paradas se questionando se ela realmente estava bem ou se havia travado de vez. Uma delas segurou-a pela mão e sorriu gentilmente, dizendo:


Enfermeira (1): Olá minha querida, como vai você? Está se sentindo bem?

Akira: Oh, olá Shizume-san, estou ótima, desculpe qualquer incômodo.

Enfermeira (2): Ah Akira-chan, você não nos incomoda, sabe disso! Sempre te dizemos a mesma coisa.

Akira: É, eu sei, mas mesmo assim me desculpe Kumiko-san. Bem, por que vocês estão aqui? E por quê me fizeram usar novas roupas?

Enfermeira (1): Bem minha querida, eu sinto um aperto em dizer isso, mas já que é pelo seu bem eu posso lidar com a notícia apropriadamente...

Akira: Hã? Mas do que está falando? Que notícia é essa?

Enfermeira (2): Nossa doce Akira *coloca uma mão sobre o rosto da jovem* sabe que te amamos né? Você é como uma filha para nós duas...

Akira: Gente, vocês estão me deixando apreensiva...

As duas enfermeiras: Você vai ter alta Akira-chan, irá finalmente para casa! Estamos tristes com a sua partida, mas felizes porque irá se iniciar uma nova etapa na sua vida.

Akira: E-eu...o que?! Alta? Depois de tantos meses aqui? Espera, mas que casa?! Ninguém nunca me falou nada sobre isso...

Enfermeira (2): Sei que parece complicado raciocinar agora, mas tente se acalmar ok? Não é nada sério, é uma boa notícia afinal.

Enfermeira (1): Exatamente! Sorria minha doce estrelinha, você finalmente vai sair desse lugar! Não é ótimo?!

Akira: B-bem, eu acho que é...mas isso também significa que não irei as ver novamente né?

As mulheres se entre olharam, com os semblantes um tanto tristonhos, mas apesar disso se forçaram a sorrir felizmente, afim de animar a adolescente preocupada com as suas novas ausências em vida. Elas a abraçaram e disseram que quando ela estivesse mal, poderia voltar ao hospital para vê-las, pois elas sempre estariam dispostas a ajudar, já que as duas consideram a de cabelos negros como uma filha que nunca tiveram. Logo, antes da partida da jovem, as 3 ficaram a conversar sobre trivialidades, e as enfermeiras enfim decidiram se assumir para a garota, surpreendendo-a com o fato das duas mais velhas serem um casal a 1 ano e meio.

Tempo se passou e enfim chegou a hora, uma das enfermeiras foi preencher os dados contendo as informações da paciente e a outra ajudou Akira a arrumar suas poucas coisas para levar consigo. O casal de lésbicas deu a ela algumas roupas novas, todas do gosto da jovem, o que a fez sorrir emocionada e as abraçar com força, agradecendo por tudo o que elas já fizeram por si nesses 6 meses e prometendo que voltaria as ver em breve, saindo acompanhada por uma espécie de guarda-costas que a guiou até um carro preto, bem luxuoso ao seu ver.

Durante o caminho a garota fez um interrogatório com o homem que tomou conta de si durante o caminho até o carro, e até mesmo ao motorista, mas os dois eram estranhos, pareciam mudos ou então apenas a ignoravam sem muito esforço. Mesmo que estivesse neutra por fora, a jovem não pode deixar de sentir o seu estômago revirar com a ansiedade que reinava em seu coração, olhando as árvores que surgiam durante o percusso até o seu novo lar, deixando o clima ainda mais medonho, o que não ajudou a de cabelos negros a manter a calma, desconfiando demais de tudo aquilo, principalmente por não ter tido suas perguntas respondidas e por não ter ganho uma boa explicação sobre tudo aquilo.








Continua...

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