f o r t y f o u r

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LOGAN

— E aí, já soube dela?

Levanto o olhar para Charlie, sentindo vontade de apenas continuar incrustado na parede. Minha cabeça dói, meu corpo todo parece implorar por uma cama. Nem sei quanto tempo faz que estou aqui; meu celular desligou uma eternidade atrás.

E tudo que ouço são os sinais de aviso do hospital e o cheiro típico que ocupa todo o corredor. Talvez o edifício inteiro.

— Vai beber um café, cara — continua Charlie, após eu negar desanimadamente com a cabeça à sua pergunta. — Você tá acabado.

Observo ele passar a mão pelo cabelo louro, o rosto tenso e preocupado daquele jeito que fica quando estamos num velório. Ou num hospital, mesmo. Melissa está zanzando perto de nós, falando no telefone com o que eu espero ser os meus pais; pois não tive tempo de avisá-los sobre o que houve após correr com Lara para cá.

Lara... eu confesso que fiquei assustado com tudo o que houve. Nós tínhamos acabado de voltar do hospital, onde uma enfermeira avisou que a Sra.Becker receberia alta em algumas horas. Passamos pouco tempo no quarto, pois a mãe da Lara ficou o tempo todo no banheiro e mal quis nos ver.

E então, assim que estacionei em frente à casa dela, Lara desmaiou de sono no banco. Tive que guiá-la para dentro como se estivesse com uma pessoa bêbada, mas felizmente Lara adormeceu logo que encostou na cama. E eu fiquei lá, observando-a, até que caísse no sono também antes que me desse conta.

Então Lara acordou. Gritando à plenos pulmões.

Não gosto de lembrar do aperto que senti no peito ao vê-la suando e chorando, me empurrando para longe toda vez que eu tentava tocá-la. Jamais havia sentido isso na vida, pois sempre fui abençoado no sentido familiar; meus pais vivem bem e jamais perdi um conhecido próximo. Não como a Lara. Não sabia qual era a sensação de ver alguém importante pra mim sofrendo, de presenciar com meus próprios olhos os demônios internos de uma pessoa saindo para a realidade.

Meu estômago embrulhou tanto que até agora não comi nada. Não sinto sede. Meu peito parece apertado, uma agonia tomando conta de mim por completo. Sinto vontade de chorar; de gritar. Como se, de uma certa forma, meu corpo tivesse permitido que a dor de Lara fosse compartilhada comigo.

Aquela história de alma-gêmea nunca fez tanto sentido. Jamais imaginei que pudesse passar por isso com alguém. Porém, ainda assim, eu quero isso. Quero sentir a dor dela. Quero estar com ela. Quero que nossa conexão seja real; não importa se for na alegria ou na tristeza.

E eu sinto, pela primeira vez na vida, o quanto parece certo estar conectado a alguém. Não importa se doer; não importa se machucar. É assim que tem que ser. Na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença.

É isso. Eu estarei com ela.


LARA

Não sei o que eu sinto quando acordo.

De uma certa forma, me alivio ao fitar o quarto de hospital. Parece nítido, de um jeito real. Não sinto o corpo estranho, nem aquela sensação esquisita que me apossava quando tive o surto de realidade.

Me sinto normal. O que torna tudo ainda mais confuso.

O que foi sonho e o que não foi?

— Não se preocupe, agora você está acordada — diz uma voz madura e feminina do além.

Viro a cabeça, notando que uma mulher está sentada numa poltrona perto de mim. Ela tem as pernas cruzadas e segura um caderninho no colo. Seu cabelo louro está preso em um rabo-de-cavalo, e ela sorri gentilmente. Parece estar na faixa dos quarenta.

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