Uma nova empresa com novos desafios.

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Alisei mais uma vez a saia lápis enquanto me observava no espelho. De longe eu podia até mesmo escutar a voz de Quiliom me elogiando. Ele poderia não ter sido o melhor marido do mundo, mas eu ainda sentia sua falta.

Olhei para a cama de casal, mesmo não sendo a nossa, eu ainda dormia de apenas um lado com a não estendida para o outro como se eu esperasse que no meio da madrugada, Quiliom chegasse e eu iria saber, como havia sido tantas outras vezes.

Mas eu sabia que ele não estava em uma festa ou na casa de um amigo, naquelas noites eu sabia que ele não voltaria mais, seu lado da cama permaneceria intocável.

Respirei fundo e antes que eu fosse para a tal entrevista, me ajoelhei ao lado que seria a parte do meu marido.

-Senhor Jesus... -Sussurrei. -O Senhor sabe que a minha única preocupação durante esses dias é Te agradar. O Senhor esteve presente em cada uma das noites em que chorei ou sequer consegui pregar o olho de preocupação por Quiliom não está aqui do meu lado. Eu não tenho ansiedade, mas não aceito mais ter um casamento tão ausente como tinha, que meu futuro marido seja mais que um papel assinado, seja esse lado da cama ocupado. Amém!

Desci as escadas e o cheiro de café fresquinho pareceu me envolver. Olhei para Noemi que estava tão radiante e sem hesitar queria saber o que havia acontecido:

-Dona Noemi?

-Bom dia, Rute!

-A senhora está bem?

-Estou ótima.

-Aconteceu alguma coisa?

Noemi me analisou mordiscando seu lábio:

-Você está dizendo que eu não estava bem, não é?

-Foi estranho no começo, sempre vi a senhora levantando as pessoas caídas e nunca sendo uma delas.

-Deus é tão misericordioso, mesmo eu sabendo que eu não deveria retrucar e fazendo assim Ele continuou me amando.

-Como assim?

-Como você mesma disse, Rute. Eu era quem levantava as pessoas. Sempre vi como elas agiam e sempre falava continue firme confiando em Deus. Eu sabia tudo, mas saber não é nada se eu não praticar. Saber que o diabo vem com todas as forças no nosso dia mal é uma coisa, se preparar verdadeiramente para ele é outra. -Ela tomou um gole de seu café. -Antes de falar para as pessoas, eu tenho que ser a primeira pessoa a ser evangelizada por mim mesma, entende, Rute? -Concordei com a cabeça sem que meus olhos desgrudassem dos seus.

Cada dia que se passava eu conhecia ainda mais Noemi, sua sabedoria e sua força eram tão grandes que até mesmo eu esquecia que estava falando com uma simples mulher e via o próprio Espírito Santo conversando comigo.

Pensei em Elias e seu sucessor, Eliseu. Elias havia feito tantas coisas e Eliseu só tinha pedido uma coisa para ele, a porção DOBRADA do seu Espírito.

Eu queria.

***

Me despedi de Noemi no carro e segui confiante pelas portas da nova empresa. Fora o prédio continuar sendo o mesmo, as mudanças do novo chefe eram nítidas, até mesmo as cores que antigamente iam de um tom azul claro ao outro, mudaram para um bege claro e amarelo.

Me informei rapidamente no balcão e a atendente disse que eu deveria ir até o quarto andar. Enquanto andava até o elevador, mesmo com a minha confiança em alta, me sentia estranha. Tínhamos tudo aquilo na palma das nossas mãos e uma hora para outra tudo já não passava de lembranças.

Entrei no elevador e um homem e uma mulher, talvez da mesma idade que a minha. Os dois bem vestidos e eu sabia que eram importantes. O homem vestia um terno azul riscado, seus cabelos e sua barba o faziam parecer tão sério e rígido, mas quando seus olhos claríssimos se encontram com os meus, a como se uma paz estivesse sobre ele. Um meio sorriso simpático surgiu em seus lábios e ele me cumprimentou com um aceno. Já a mulher sequer olhou para mim, seus longos cabelos loiros, caiam sobre seus ombros em vários cachos perfeitos. Uma vez ou outra alguns fios viram para o seu rosto, mas ela sensualmente os tirava. Vi o quanto em gestos e olhares que ela implorava alguma atenção do homem, mas em relação a isso ele era indiferente. Vi que ele só estava sendo educado com a mulher.

Senti um incômodo crescente dentro de mim. Queria dizer para aquela moça que ela não precisava se expor daquela forma, que se caso aquele homem quisesse algo sério, ele daria os sinais e ela não precisaria mendigar a sua atenção.

Sim, mendigar a atenção! Toda vez que ele mexia no celular, ela arranjava um assunto e tocava em seu ombro pra que ele olhasse para ela.

E eu via a antiga Rute totalmente ali. Lembro quando eu me arrastava, não só aos pés de Quiliom, mas toda a minha vida sentimental, desde o primeiro relacionamento com quinze anos até Quiliom havia sido conturbado, e um dos motivos maiores é que eu não enxergava que merecia algo bom.

Logo o elevador se abriu e por mais que a mulher tentasse segurar as portas para continuar conversando, ela teve que ir:

-Daqui a pouco eu subo no seu escritório para te entregar os papéis. -Ela sorriu maliciosamente.

-Você pode entregar para a Patrícia, a secretária. É o trabalho dela organizar as coisas para mim. -Ele não queria ser grosso, mas também não queria dar corda para a mulher. -Tchau, Suzana. Bom trabalho para você.

-Será que eu vou te ver no almoço?

Ele apenas sorriu e as portas se fecharam. Sua paciência era notável com aquela mulher, mas sua posição de não se deixar levar pela sua sensualidade também era visível.

Então o silêncio predominou no elevador e seus olhos claros se voltaram para mim. Olhei para frente, tentando evitar contato, enquanto segurava as folhas com os meus dados.

Eu era péssima em disfarçar. Certamente ele conseguia ver que eu estava ficando sem graça.

-Você é nova por aqui? -Ele perguntou franzindo as sobrancelhas.

Sua voz era grave e parecia uma eternidade para chegar ao quarto andar.

-Vou fazer a entrevista.

A porta do elevador se abriu mostrando o quarto andar:

-Boa sorte. -Ele se despediu de mim e comecei a andar sem ousar olhar para trás, eu sabia que ele estava me olhando, era como se seus olhos me perfurassem, como se estivesse me vendo por dentro.

Era muito estranho isso, a maioria dos homens que eu conhecia, somente me enxergavam por fora, mas ele...

Balancei a cabeça.

Foca, Rute!

***

Além de mim, mais quatorze pessoas estavam ali para serem entrevistadas. Os minutos começaram a se passar, e logo se tornaram horas. Alguns murmúrios impacientes surgiram e mesmo com a secretária do RH pedindo para que eles esperassem, seis pessoas pegaram suas coisas e foram embora. Confesso que fiquei tentada a ir embora também, mas algo me manteve ali.

Foi quando o mesmo homem que havia pego o elevador junto comigo algumas horas atrás passou entre nós e se dirigiu a Bruna que era a secretária do RH:

-Desculpe a demora, Srta. Pontes. Podemos começar?

-Alguns candidatos foram embora. -Ela o informou.

Ele nos analisou com aqueles olhos claros, mas se percebeu que eu estava ali, não se importou.

Melhor assim, me assegurei internamente.

-Se eles não conseguem esperar algumas horas, não são capazes de seguir adiante onde para o trabalho crescer teremos que esperar ainda mais. Mande um de cada vez para a minha sala, eu irei entrevistar.

-Sim, senhor chefe.

Ele saiu e meu cérebro demorou um pouco para processar. Ele era o dono da empresa?

Enquanto eu tentava juntar os pontos, Bruna olhou para mim e disse:

-Como os outros seis que estavam na sua frente foram embora, a senhorita será a primeira.

Senti meu coração bater descompassado.

***

Finjam que ainda é sexta-feira! (00:49min) bom final de semana para vocês!

Meu nome é NoemiWhere stories live. Discover now