[01] A alma que transmigra

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"Abrir Caixa Postal"

― Ok.

"Dez mensagens pendentes, deseja reproduzi-las?"

― Sim.

"Seis mensagens do contato 'Tia Irene'"

― Aceitar.

"Às 7h, 'Bom dia, ogrinho! Já acordou? Me retorne assim que puder'"

"Às 7h15min, 'Eu espero que você já esteja se arrumando pra ir à faculdade, eu preciso de você na padaria hoje a tarde. Me ligue assim que puder'"

"Às 7h30min, 'Fala sério! Ainda tá dormindo, Park Jimin?'"

"Às 7h50min, 'Que sua mãe esteja onde estiver me perdoe, mas ô vontadezinha de pegar minha sandália e dar na tua cara, garoto. Atende essa merda!'"

"Às 7h55min, 'Desculpa falar assim da sua mãe, ogrinho. Eu esqueci que ainda é assunto delicado para você. Perdoa a titia? Retorne quando puder.'"

"Às 8h20min, 'PUTA QUE PARIU, PARK JIMIN, ATENDE ESSA BUCET-'"

― Ok. Próximo.

"Duas mensagens do contato 'Taemin TCC'"

― Descartar, pelo amor de Deus.

"Duas mensagens do contato 'Não Responder'"

― Descartar e bloquear contato.

Num suspiro e com o mínimo pingo de coragem, Park Jimin finalmente se levantou da cama. Ele deixou os lençóis de qualquer jeito e direcionou-se em passos preguiçosos ao banheiro fora do quarto.

Sozinho naquele cubículo que chamava de lar, não tinha mais de três cômodos, porém o preço por essa espelunca era tão em conta que aceitava as condições do imóvel, apesar de reclamar sempre que podia, sobretudo quando a rinite ficava atacadíssima por causa do mofo da parede.

Diferente de quando se levantou, seu banho foi rápido assim como na hora de pôr suas vestes e calçados. Era temporada de inverno na Coréia, então tratou de pôr casacos grossos sobre os ombros e um chapéu felpudo cobrindo suas madeixas pretas e orelhas ― estas que facilmente avermelhavam-se por ser sensível a temperaturas muito extremas.

Ao olhar seu reflexo no espelho enquanto punha seu óculos, franziu o nariz com uma careta. Parecia uma das crianças da propaganda do Danone.

Ou uma criança bem de saco cheio da propaganda, pois as olheiras gigantes embaixo dos seus olhos escuros dificilmente se cobririam com aquela fina camada desleixada de corretivo.

Enfim, não deveria ter enrolado para dormir noite passada.

Jimin pegou a bolsa pendurada no cabideiro e saiu do apartamento em direção a Universidade. Não era uma caminhada longa, levava apenas cinco minutos de onde morava, mas no frio que fazia, parecia levar mais tempo que o necessário.

Toda vez que uma geada vinha de encontro ao seu corpo tão sensível, ele se encolhia, ia ao estabelecimento mais próximo e aproveitava-se do aquecedor antes retomar o caminho.

Chegando ao destino, não parou para falar com ninguém que não fosse o guardinha da terceira idade que sempre lhe oferecia um "Bom dia!". Podia estar sem paciência com tudo e todos, mas ao menos ainda se mantinha educado com o velhinho. Imagina ficar horas enfurnado naquela caixa monitorando quem entra e quem sai, ainda por cima nesse frio? Jimin sentia empatia ou talvez um pouco de pena.

O Escolhido do Dragão 🐉 jikookWhere stories live. Discover now