Profano (Ensaio)

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1973:
REGAN MACNEIL, de 12 anos, se despediu do sempre bondoso padre Dyer, e, junto de sua mãe Chris MacNeil, uma das grandes estrelas do cinema, deixou Georgetown, cidade onde Chris estivera gravando um filme. Um longo filme, a julgar pela sua aparência! Parece que envelhecera em alguns meses o equivalente a uma década.

Regan lembrava-se de estar doente e acamada, recordava-se vagamente de algumas baterias de exames desagradáveis e de um ou outro rosto familiar que estranhou não aparecer para se despedir, mas não muito mais que isto.

"Talvez seja a febre", pensou a garota MacNeil, "a febre alta torra a cabeça da gente e nos faz esquecer muita coisa, já vi isto na TV". Regan atribuía também à febre os ferimentos quase totalmente cicatrizados em seu rosto e lábios, já acontecera com ela antes. Ok, nunca tivera feridas na face, é claro, mas, como esteve muito febril, até onde podia lembrar-se, provavelmente a febre em maior intensidade poderia causar este tipo de lesões, não poderia? Regan acreditava que sim.

Mas Regan não sabia explicar os ferimentos internos em sua vagina, que não parara de sangrar desde que ela se reestabelecera, nem as chagas em suas panturrilhas ou um torcicolo que doía como se lhe tivessem torcido totalmente o pescoço.

Mas tudo bem, estariam em breve em Bangor, e ela poderia recuperar-se de seja lá o que ela tenha contraído. De qualquer modo sentia-se melhor, estava convalescente (apesar de um zumbido incômodo em seu ouvido), e uma mudança de ares sempre funcionava. E esta não fugiu à regra. Bem, não pelos 7 primeiros anos.
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1980:
O inverno gélido do Maine era convidativo para uma bela caminhada no parque John Smith no meio da tarde de um sábado. Regan sempre gostara do frio, e se sentia mais radiante na estação das neves do que em qualquer outra época.

Já era uma mulher feita, e os dias difíceis do início dos anos 70 eram em suas lembranças como um sopro de ar quente em uma geleira. Na verdade, de tanto não compreender o que lhe ocorreu, a garota voluntariamente parou de pensar naquilo, e, como dizem os mais antigos, o tempo cura tudo.

Chris também jamais tocara no assunto, e se limitava a dizer que a filha tivera uma doença desconhecida, que sumiu tão rápido quanto surgiu. Mesmo ela não acreditava plenamente que sua primogênita tivesse sido uma hospedeira de maldades, ainda que não encontrasse qualquer outra explicação para os fenômenos que ocorreram. Mas, enfim. Também para ela o tempo tornou-se um antídoto, ainda que não tão poderoso a ponto de livrá-la do câncer uterino recentemente diagnosticado, que decidira manter em segredo da imprensa. E de Regan.

A garota MacNeil pensava sobre a faculdade de enfermagem quando duas mãos surgiram e taparam seus olhos. "Adivinha quem é?", dissera uma voz masculina. Regan sorriu, tateou os dedos que encobriam sua visão, e afastou aquelas mãos de seu rosto tão rápido quanto se virou e beijou ardorosamente a boca de George Merrin.
Ele e Regan já estavam juntos há cinco meses, desde que se conheceram em uma sessão de autógrafos de Stephen King, escritor local que ambos eram fãs. George tinha 21 anos, e largara o Seminário há três e, graças a Regan, o celibato há duas semanas. Estavam na fase da paixão intensa com hormônios à flor da pele, e realmente George passara a gostar muito dela. Não sabia em que a mãe estivera pensando para decidir seu destino por ele unicamente por seu tio ter sido padre, pois sempre tivera atração por garotas, e enquanto esteve destinado à Ordenação sentia-se mais ou menos como um personagem de Umberto Eco em "O Nome da Rosa". Mas estes dias de repressão já eram passado, pois George, assim como seu ídolo King, desejava tornar-se um escritor de sucesso. Nada mais de estudos bíblicos.

- George, meu amor! Atrasado novamente, para variar... -disse Regan, divertidamente séria.

- Perdão meu bem, me empolguei relendo "Carrie" e...

- Ora, deixe de bobagem. Foram apenas cinco minutinhos, sabe que estou brincando. Vem cá...

A garota puxou-o novamente, e deu-lhe um beijo demorado. George entrelaçara os dedos entre as madeixas ruivas de sua namorada, e logo veio a lembrança da primeira vez deles, o que involuntariamente lhe causou uma ereção. Regan sentiu sobre a calça o pênis duro de seu namorado e o afastou.

- Calma aí, aguarde por hoje à noite.

Um tanto constrangido, George sorriu, e de mãos dadas caminharam pelo John Smith, falando sobre a vida de um e de outro, trivialidades, expectativas para o jantar nas próximas horas e uma ou outra piada sobre a noite de amor que tiveram naquele mesmo parque.
Havia sido a primeira vez de Regan também, mas estranhamente ela parecera bem mais à vontade na hora do que agora. Mesmo a expectativa de doer e sangrar (que não se confirmou) ou o local inapropriado não a deixou tensa naquela hora, mas não imaginaria que faria o que fez, por mais que amasse George. Na verdade, foi como se ela não estivesse exatamente ali quando transou, nem mesmo lembrava de tudo, sabia que gozara pois lembrava-se da sensação deliciosa e espasmódica, porém era como assistir pornô ou ler um livro erótico e se tocar, não parecia que ACONTECEU COM ELA, mas acreditava que todas as meninas sentiam a mesma coisa na primeira vez.
Já George não acreditava (e nem falava a respeito) que Regan ainda fosse virgem quando transaram, seja pelo desempenho seguro dela ou pelos palavrões na hora do ato. Se George perguntasse, Regan diria não ter falado palavrão. E não teria mentido.
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Contos do De La Cruz 18+Where stories live. Discover now