UM VIZINHO EXEMPLAR

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Lábios carnudos, pequenos, durinhos. Mais moles, proeminentes, daqueles que teria que atiçar e afastar para conseguir meu intento, e o faria com prazer. Lábios arroxeados; uns doces, outros mais salgadinhos, todos com cheiros e texturas característicos. Deliciosos. Lábios cor-de-rosa, molhadinhos, com pelos ou sem. Tanto faz. Eu os chuparia, morderia, sugaria cada gota, porque sempre os adorei.

E não me refiro aos lábios de boca alguma.

Enquanto haveria bundas se revezando bem na minha cara, rebolando e me lambuzando, queria bocetas para dedilhar do jeito que aprendi, e que elas amariam. Talvez fizesse algumas gozar com um toque mais preciso, agitando clitóris duros com experiência, constância. Meu dever seria satisfazer, promover uma noite inesquecível.

Uma mulher mais ousada me ofereceria o cu para tocar. Eu pretendia seguir devagar, mas claro que uma parte da noite seria dedicada a eles: os cus. Preencheria meu dedo naquele mais acostumado, sem esperas, afundando até o fim de meu dedo médio.

Meu pau entraria ali fácil, constataria.

— Vem aqui pra eu comer esse cuzinho, vem... — murmuraria.

Ela não hesitaria em obedecer ao meu comando. A noite me pertencia, logo o meu desejo soaria como ordem. Eu era um misericordioso, apesar de tudo. Ninguém precisaria sentir dor. Só queria o auge do prazer, o limite das boas sensações. Que se sentissem desejadas, porque eu as desejava com fervor.

O cu mencionado chegaria aos poucos, acostumando-se com meu tamanho e largura. A natureza havia me contemplado e eu era grato, meu modo de agradecer seria aproveitando como deveria. Aquele cuzinho delicioso abraçaria meu pau duro feito pedra, até que um gemido mais agudo ecoasse. Ele retrocederia devagar, ciente de que calma não combinava comigo.

Eu gostava de ir bruto. Máxima velocidade. Tão rápido que destruía sentidos e trazia à tona as emoções mais escondidas. Santinhas virariam minhas putinhas. Se não fosse para ser com vontade, sequer estaria ali. Que toda minha voracidade fosse julgada como pura adoração.

Movimentaria meu quadril com agilidade, ainda que minhas ações estivessem restritas pelas vaginas úmidas, ávidas por minha língua. Minhas mãos, inevitavelmente, largariam o que estivessem tocando para envolver a cintura de quem tinha aquele cu tão gostoso. Um rosnado gutural sairia do meu âmago diante do encaixe.

Retroceder e meter, enfiar lá no fundo, sentir a quentura, a umidade, contrações de loucura... Tirar até quase esvaziar, esperar um segundo para a chegada da saudade, só para logo em seguida foder novamente, com gemidos e ofegos soando como uma orquestra.

Música para meus ouvidos.



*****


Aquele foi mais um domingo que passei trabalhando, porém não peguei o plantão do jantar e voltei para a casa mais cedo. Antes, passei em um supermercado e comprei tudo de que precisava para reproduzir mais uma das criações de minha mãe. Era sofrido fazer aquilo, mas também era a minha forma de compreender que não estava sozinho no mundo, embora estivesse.

Havia muitas mensagens e ligações no meu celular, mas naquela noite a solidão seria minha fiel companhia. Pretendia cozinhar até esquecer de mim. "Sim, minha força está na solidão", e eu concordava com Clarice em parte, já que a outra metade de mim era tomada pela mesma solidão junto com um excesso insuportável de fraqueza.

Às vezes os corpos nus não me bastavam. Era naqueles instantes que precisava fazer coisas como cozinhar, ler ou cuidar do jardim. No fim das contas, sentia-me alguém sem direcionamento tentando encontrar sentido em qualquer coisa, seja ela qual fosse.

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⏰ Last updated: Mar 02, 2022 ⏰

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