Ato I, Cena II

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ATO I

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ATO I

CENA II


O mesmo. Minutos depois. Sünder entra na sala de estar.


AMIGO IMAGINÁRIO 1 — Você não acha o controle, querido. Deveríamos arrumar isso. Onde está o controle remoto?

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Sim, deveríamos.

SÜNDER — Eu sei. (uni as sobrancelhas) Eu venho cabisbaixo há dias. Olho para tantas roupas sob o sofá que não vejo mais o meu sofá. Como posso estar sendo capaz de lidar comigo mesmo da forma que todos lidavam? Não deveria ser eu o meu protetor principal? Quem deveria me ajudar se eu mesmo não pretendo começar a fazê-lo desde agora? Eu... eu nunca fui tão desprezado por mim mesmo.

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Calúnia! Ele sequer quer o controle remoto de verdade. Deveríamos pensar em outra coisa.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — É, deveríamos.

SÜNDER — Sim, pois o tempo que ficasse quieto em seu canto, tais ideias e tormentos mentais não são de minha autoria, são de sua. O tempo me fez ser assim, o tempo me quis desse jeito. Com essas roupas e essas xícaras, cercado de miojo e de café. Eu não escolhi o sabor sangue... Mas eu me protegi, sim. Pensando bem, agora, no momento em que procuro o controle remoto da televisão de antena que não funciona mais, eu me protegi sim. Por debaixo dessas roupas, bem como por debaixo dessas meias e cuecas, está a razão disso tudo.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Continue...

SÜNDER — Posso dizer, ao bater no peito, que eu carrego o alívio de não sentir nada por ninguém... ainda que... covarde... ou não, a angústia de não sentir nada nem por mim, eu também carrego... Não tem como separar. É um casal formidável! Eu faço parte desse todo, o que significa aceitar até as partes que eu não entendo ou não quero, pois eu sou o todo.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Eu sou o todo.

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Somos o todo.

SÜNDER — Vejam! (alegra-se) Vejam! Acima da mesa pequena de minha cozinha: o controle remoto! Antes perto do pão o tempo todo. Sorrio, sim, por lembrar que dali eu enxergo a todos os cômodos enquanto todos os cômodos me veem. Somos um, grandes amigos. Por exemplo, o banheiro sem porta não é tão ruim, minhas xícaras são educadas e não olham a mim nesses momentos. A sala de estar nunca tem ciúmes de me contemplar acima do colchão da cama. Somos um, grandes amigos. Até mesmo pelo fato de que é no sofá com blusas e casacos que eu me assento mais confortável. Só que a casa não tem ciúmes dela. Somos um só.

AMIGO IMAGINÁRIO 1 — Então vá, querido. Caminhe até a mesa da cozinha, sendo um bom menino e se esforçando em não olhar outra vez pela janela com fitas pretas, a fim de não garantir mais um vazio...

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Um vazio estranho... um vazio no peito... o dizendo, o perguntando o que teria do lado de fora depois de tantas e tantas décadas de isolamento, dor, angústia, pensamentos sem dono, xícaras, bermudas no carpete e cafés amargo?

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Daí mesmo, mire a televisão!

SÜNDER — Não funciona... Não funciona, eu me esqueci. Eu me esqueço... eu me esqueço que a televisão não funciona todas as manhãs. Mas também como eu poderia? Olhe essa desorganização.

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Vamos nos sentar.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Sim, vamos nos aconchegar.

AMIGO IMAGINÁRIO 1 — Eu escolho me assentar na calça de moletom.

SÜNDER — Não iremos mudar de assunto... Uma lástima ver tantas blusas novas, usadas somente uma vez, jogadas no carpete sujo. Tantas meias rasgadas, cuecas furadas, tantas calças largas, camisetas apertadas, sapatos sem sola, chinelos sem pares. Me vejo até mesmo ali, olhe, ao lado, sem rumo e sem fôlego. Onde está o guarda-roupa, afinal? Eu deveria acabar logo com essa bagunça... mas... ah (suspiro), canso somente ao pensar nisso.

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Venha se sentar.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Sim, venha se aconchegar.

SÜNDER — Estão sentados?

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Não vê?

SÜNDER — Nunca falamos sobre isso, mas não... não vejo. Nunca os vi. Contudo, eu os imagino. Imagino o primeiro como um homem mais velho que eu, mais alto que eu e mais inteligente que eu. É aquele que dá bons conselhos e nunca me deixa as cegas nesses pensamentos que não são meus. Imagino o segundo como um jovem, um jovem de cabelo desgrenhado e de moletom de cor nebulosa, um moletom grosso sem nem se importar com o tempo. Faça frio, faça sol. Nem vemos mesmo o sol, nem sentimos mesmo a chuva... E, o terceiro, o imagino... quem sabe, também mais velho, porém envelhecido de uma forma não saudável, não agradável. Não querida ou desejável. O tempo o pegou como me pegou. Um tanto ranzinza...

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Não sou ranzinza.

AMIGO IMAGINÁRIO 1 — Deixe Sünder terminar.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — É, deixe Sünder terminar.

(Sünder senta-se acima de uma blusa amarela)

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Sünder não vê com os olhos certos. Quem me criou foi o próprio e ele não nos enxerga da forma certa. Sentados lado a lado e ele ainda insiste em não nos ver. Quer imaginar nossa aparência? Espreite os seus olhos e nos verá com clareza. Somos cópias, somos idênticos. Carne de carne, osso de osso. Usamos as mesmas roupas de cores neutras, assim como usamos as mesmas calças largas. Sem chinelos, pisamos nas nossas próprias roupas, sentimos a sujeira com a sola do pé. O frio do chão nunca muda.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Temos a mesma altura, temos a mesma idade. Temos o mesmo nível de sanidade mental e temos o mesmo nível de desequilíbrio emocional. Por fora, gêmeos. Por dentro, decadentes.

AMIGO IMAGINÁRIO 1 — O mesmo cabelo ralo, que sente a mesma tesoura falha todas as manhãs de domingo vindas em contato com a própria mão. Todas as manhãs nos engolimos o pão com sangue misturado com o café amargo e frio. Somos idênticos, somos cópias de uma mesma origem, querido.

AMIGO IMAGINÁRIO 3 — Somos aquilo que precisa para viver.

SÜNDER — Não sabem como eu quero viver.

AMIGO IMAGINÁRIO 1 — Sabemos o que você sabe e você não sabe muita coisa. Sabemos tudo o que sabe e pensa sobre si mesmo e você não pensa muita coisa sobre si.

SÜNDER — Eu deveria acabar logo com essa bagunça.

AMIGO IMAGINÁRIO 2 — Mas... ah, canso somente ao pensar na hipótese.

(alguém bate à porta)

ASUNDER (Em pedaços)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang