prelúdio: recaída

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Você só existe na minha cabeça. E tem poucas partes de você que eu não pude jogar fora. São só duas, dois grupos de palavras em antítese desesperada. Um amor-temor que vibra em tristeza a cada vez que é relido. Parece sorte que a minha memória sofra com falhas e lapsos e curto-circuitos, mas não é. As imagens vão embora e restam só sensações mescladas à imaginação mentirosa. Copos de café, outono e guarda-chuvas. Tecidos leves num dia de verão. Flores sobre cabelos numa primavera jamais vivida. Carinhos num inverno de neve, um inverno que sempre existiu ao mesmo tempo que nunca chegou. Eu-te-quero-em-todas-as-línguas-que-sabemos-e-muitas-outras-mais. Você também pensa em mim? Eu já te visitei em sonhos? Ainda apareço na sua consciência, de noite, quando você vai dormir, ou no meio de uma conversa com alguma pessoa que tem algum aspecto que te remete a mim? Sou egoísta por querer essas coisas, mesmo que as queira em proporções que insisto em negar a mim mesmo? Talvez. Provavelmente. A certeza é quase certa. É difícil admitir essas coisas, mas admito. Admito porque me escondo e porque a verdade se ensombra quando dita nas entrelinhas. E porque quando me oculto assim, não sinto que estou mentindo. Pelo contrário, deixo que a verdade escape e que todo um peso de orgulhos, vergonhas e incertezas vaze, saia de cima e de dentro de mim. Talvez eu seja egoísta. Talvez não, porque admito essas coisas sem a comprovação de que um dia você terá conhecimento delas. Admito ao céu, aos mares, aos quatro ventos que fluem por cima deles. Admito a quem quiser ouvir. E se você estiver disposto a me escutar, se tiver tido uma recaída, tal como eu ou semelhante a minha, então talvez você note o meu egoísmo. Mas, se for desta forma, por uma fraqueza tão sua quanto minha, então eu juro que não sei. Não sei mais que parcela da culpa cabe a mim.


por causa da chuva [taekook]Where stories live. Discover now