Too pretty to cry

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Ainda deitado na cama, com bem menos energia do que dias atrás, Seokjin observava o rosto concentrado de Taehyung que, com o pincel na mão, tentava finalizar a tela que iniciou no começo daquela semana. Há quase dez dias tudo se resumia a horas e horas gastas no pequeno apartamento do azulado e passeios infindáveis pelas ruelas de Paris. Os amigos? A viagem de formatura? Bom, o que o Kim poderia fazer além de pedir algumas desculpas, um tanto esfarrapadas, e pedir que eles entendessem que aquilo era bom demais para que ele ignorasse.

Para Seokjin, aqueles dias eram definitivamente a sua grande sorte, eram os momentos que ele teria guardados para o resto da vida, aquele tipo que nunca se repete. Nada mais importava, apenas viver cada minuto ao lado daquele homem, um sonho bonito, como as nuvens gordinhas que queremos tocar quando crianças. Ele estava, definitivamente, tocando as nuvens macias, respirando o ar ameno da primavera e sentindo o toque aveludado dos lábios de alguém quase irreal.

Mas era real. Ali estava ele, vez ou outra esticando o pescoço, deixando a linha do maxilar mais marcada, franzindo as sobrancelhas grossas, umedecendo a boca ainda vermelha, bebericando um chá e como se não bastasse, ainda lançando olhares para o garoto na cama, que tentava não derreter ali e desaparecer em meio aos lençóis.

— Eu tô quase terminando, mas é difícil reproduzir com fidelidade esse seu rosto...

— Aish — ele murmurou, quase ofendido.

— Você tinha que ser tão lindo assim? Não dava pra maneirar um pouquinho? Facilitaria pra mim — disse debochado, deixando um riso abafado sair.

Seokjin sentia aquele aperto gostoso no peito, de quando algo é muito bom e já não sabemos mais como reagir e o corpo tem que achar uma forma de demonstrar. Mesmo que só ele tivesse conhecimento dele, o azulado ficou satisfeito em vê-lo se contorcer, sabia como suas pequenas reações eram, na verdade, muito significativas.

O loiro se levantou da cama, mesmo que quisesse muito continuar deitado pelo resto da tarde. Vestido com uma camiseta larga, sem ter muita noção de como aquilo afetava o artista em sua frente, ele caminhou até onde lhe era permitido, parando um pouco antes de onde Taehyung trabalhava.

— Então, quando você vai me deixar ver isso aí? — perguntou com a cabeça pendida para o lado e um bico nos lábios.

— Isso aqui, mon amour, é arte e ela só deve ser apreciada quando estiver pronta!

Mon amour. Seokjin morria um pouquinho a cada expressão carinhosa proferida em francês por aquela voz.

— Oui, mon rêve... — ousou dizer.

— Mon rêve? — Taehyung segurou o sorriso largo que queria dar à ele, e apenas levantou uma das sobrancelhas.

— Não se anima, google tradutor...

— Eu gosto, pode continuar a usar — falou sem desgrudar os olhos dele.

— Oui oui.

Eles riram juntos mais uma vez, como era frequente naqueles dias. Não havia motivos para não sorrir ou deixar que a alegria se transformasse num som bonito. E mesmo que Seokjin estivesse dentro de um sonho, e que ele fosse do começo ao fim, apenas bom, ele teria um fim. Sempre que a lembrança desagradável fazia com que o mais novo se concentrasse demais na janela do quarto, Taehyung abraçava o corpo esguio, apoiava o queixo nos ombros largos e acariciava a pele de seda.

Não podia dizer nada que o reconfortasse, por isso ele não ousava falar. Mas o levava de volta para seus braços e o fazia esquecer que as horas passam, afinal, o que importa mesmo é agora, e eles, mais do que todos, podiam aproveitar o melhor daqueles momentos, gravar cada pedacinho deles, os sons, os cheiros, e sobretudo, o toque.

Blue is the warmest color | TAEJINDonde viven las historias. Descúbrelo ahora