Anastasia
— Você ainda não está pronta? — me sobressalto com o grito estridente da minha amiga e acabo borrando o batom.
— Caralho, você não fez isso. — eu rosno e Kate morde o lábio inferior, encolhendo os ombros.
— Me desculpa, não queria causar um desastre. — bufo e termino de colorir a minha boca de vermelho, substituindo o batom pelo corretivo para consertar o pequeno acidente.
— Ainda vou te bater por causa dessa mania de chegar gritando nos lugares que eu estou. — ela dá de ombros e se arrasta até o espelho do meu quarto, puxando para baixo o decote já profundo demais do vestido preto que não deixa muito para a imaginação.
— Você não teria coragem de agredir a sua melhor amiga. E além do mais, essa é a melhor forma de te apressar. — reviro os olhos e jogo o batom dentro da minha bolsa.
— Você fala como se eu estivesse atrasada.
— Você está atrasada, Anastasia. E consequentemente está atrasando todas nós. A Mia já está surtando lá fora. — Kate gesticula teatralmente e suspira. — Se bem que a Mia surta com qualquer coisa.
Realmente.
— Estou pronta. Vamos? — Kate estreita os olhos para mim e respira fundo, segurando os meus ombros.
— Eu quero que você se divirta esse fim de semana, ok? Ainda não sei por que está aceitando esse destino de merda mas a decisão é sua e não posso interferir na sua vida dessa forma mas pode contar comigo sempre, Ana. Sabe disso, não é?
Eu mordo o lábio inferior e pisco para afastar as lágrimas.
Kate me envolve num abraço forte e eu aceito, me deixando envolver pelo carinho e preocupação dela.
Pelo menos alguém está preocupado com o que eu penso dessa situação toda.
— Se a gente continuar aqui eu vou chorar e vamos nos atrasar ainda mais. — eu murmuro manhosa e Kate ri, beijando a minha testa.
— Só queria ressaltar que pode correr até mim quando quiser. — ela pisca e morde o lábio inferior. — E também gostaria de lembrar à senhorita que estamos indo para Las Vegas comemorar a sua despedida de solteira e que posso te livrar desse casamento de merda num estalar de dedos, é só dizer.
A proposta é tentadora, confesso.
Mas não tenho chance de verbalizar meus pensamentos.
A porta do meu quarto se abre com um baque e a minha mãe entra como se estivesse na casa dela.
Essa porra hoje não.
Os olhos azuis sempre tão cheios de críticas fitam o meu vestido curto vermelho e a boca dela se cortorce em notável desgosto.
— A sua amiga está esperando lá fora. Quantas vezes preciso te dizer que a esposa de um grande empresário não pode se atrasar? — Kate bufa e revira os olhos, pegando a minha pequena mala de mão sobre a cama.
— Vou te esperar no carro, Ana.
Minha mãe faz pouco caso e finge que Kate nem existe enquanto cruza os braços e bate o pé no chão.
— Eu ainda não sou esposa de ninguém. — rosno e ela dá de ombros.
— Não quero que vá para Las Vegas.
— Isso não depende de você. — eu respondo no mesmo tom petulante, imitando a pose dela. — Já está me obrigando a casar com um gay enrustido porque você e as pessoas do seu círculo de amizades são nojentas e preconceituosas. Não ache que agora também vai estragar a minha última viagem com as minhas amigas.