Nunca mereci estar com ela

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Antes que você pense qualquer coisa a meu respeito, você precisa entender que não tenho problemas com controle de raiva, normalmente sou um cara paciente, não sou agressivo, sou calmo, sério, falo menos do que a maioria das pessoas, sou mais observador, fico na minha. Não procuro confusão.

Mas ultimamente, não consigo deixar de ser outra coisa, já quebrei inúmeras coisas, a última foi quando saí do hospital hoje, fui até meu carro e dei um soco no vidro da janela do carro a quebrando. Umas pessoas que estavam por perto começaram a cochichar e fui até elas e mostrei o distintivo. Sinto raiva de mim mesmo, da situação que em coloquei Maria e eu, e eu não sei o que fazer para concertar, me sinto perdido.

Expliquei tudo o que aconteceu no trabalho e foram compreensivos quando disse que sairia em alguns momentos para ir até o hospital, para ser honesto, não tem muito o que eu possa fazer, só esperar.

Decidi avisar os amigos de Maria, Jessy e Dan, eles viriam para cá para o casamento, então, eles tem que estar preparados para o que vão encontrar, também passei em nossa casa, tenho dormido lá enquanto Maria fica no hospital.

Eu vou lá todos os dias, dou uma olhada nela e ela ainda está catatônica, está comendo e se hidratando, mas está bem mais magra, olhos cansados e fundos, está me matando ver ela assim, choro quase todos os dias por não poder ajudá-la.

Em um dia, estou me arrumando para ir ao trabalho e o hospital me pede para ir até lá, eles me informaram que Maria falou, ela falou!!!!!!

Ela conversou com a psicóloga e voltou a conversar, eu preciso falar com ela, ou melhor, ela precisa falar comigo, preciso ouvir sua voz de novo ou vou morrer. Chego no hospital e corro até o quarto dela.

— Maria... — digo entrando no quarto e noto que sua expressão relaxou um pouco e ela finalmente olhou pra mim de novo, sorrio, vou até ela e a abraço e ela me abraça de volta. — Você voltou, querida. — falo emocionado e então percebi só agora que o Jake está aqui, me viro para ele. — Jake, você pode nos dar licença, por favor?

Mas ele não sai imediatamente, ele olha para Maria que olha para ele de volta acenando que sim, então, ele sai. Mas que merda é essa?

— Você está bem? Se sente melhor? — pergunto preocupado.

— Menos pior, com certeza. — ela responde em tom de brincadeira e me sinto aliviado por ela continuar a ser ela mesma.

— Querida, sobre nós, eu lamento por mentir para você, te peço para lembrar dos bons momentos que tivemos juntos, e espero que me de uma segunda chance. Será que você pode me perdoar? — reuni toda a força que ainda me restava para perguntar isso, porque tenho medo da resposta.

— Alan, eu não posso descrever como foi bom compartilhar o último ano com você. Lá em Duskwood, você ficou praticamente o tempo todo ao meu lado, cuidou de mim, veio para cá por minha causa, quando estava com você quase me fazia esquecer da dor que sentia pela perda do Jake, mas essa dor nunca foi embora. Eu amo você, Alan, eu amo muito você, mas não confio mais em você. — dor, é tudo o que eu sinto e tudo o que eu vejo, após ela me dizer essas palavras...

— Maria, você... — minha voz trava.

— Eu não estou dizendo que estou apaixonada pelo Jake, nada disso, só não é justo com você, com nenhum de nós. Eu sou grata a tudo o que você fez por mim, por estar presente, por me amar, você sabe que cuidou de mim, quando eu não tinha praticamente ninguém. Mas, Alan, não podemos continuar...

— Maria, por favor, não me afaste assim... Nós podemos recomeçar, podemos tentar de novo? — imploro chorando.

— Alan, por favor... — diz ela e sei que a perdi, eu a perdi.

— Nós... nós podemos ser amigos? — pergunto porque prefiro morrer do que não a ter em minha vida de algum modo.

— Sim, podemos. — responde ela. E eu só consigo acenar com a cabeça, sorrio derrotado para ela, ela sorri de volta, seus olhos vermelhos, ela limpa as lágrimas, e eu vou embora.

Começo a sair do hospital, estou andando sem rumo algum, vou até meu carro, entro, fecho a porta e tranco, agarro o volante e começo a chorar como nunca antes, não consigo parar de pensar em como poderia ter sido diferente se eu tivesse dito a verdade desde o começo, se tivesse contado que não conseguia mais parar de pensar nela, nem de ficar longe dela e que por isso eu vim pra cá, se tivesse contado que descobri que o Jake estava vivo e que não a procurou, ainda estaríamos juntos e ela não estaria neste hospital agora.

Iriamos nos casar em algumas semanas, ergo a cabeça rindo, mas sem graça nenhuma, terei que avisar meus pais que a viagem deles para cá será cancelada, na verdade, terei que avisar todos os convidados que o casamento foi cancelado.

E o que eu vou fazer? Não posso ficar morando no sofá do Ethan para sempre, vou precisar de outro lugar para morar, tirar todas as minhas coisas de casa. Nossa casa, meu Deus. Choro ainda mais, e bato no volante.

Estou muito indignado comigo mesmo, estou puto com o maldito hacker, queria dar uma surra naquele idiota, e me sinto perdido, Maria terminou comigo, ela não confia mais em mim, parti o coração da pessoa que mais amo no mundo, e não sei o que fazer para concertar as coisas, se tiverem concerto, porque eu a perdi.

Eu tive a pessoa mais altruísta, mais forte, mais determinada, inspiradora, engraçada e linda em meus braços e a deixei, a soltei, eu realmente não a mereço. Nunca mereci estar com ela, agora ela percebe isso.

Sempre foi ela - DuskwoodWhere stories live. Discover now