FUGA

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Horas depois…

Com o amanhecer, a viagem começa. A sensação desoladora de que o ceifeiro está próximo de quem se ama, some por um instante, e dá lugar à esperança, mesmo que pequena. Quase minúscula, tão minúscula quanto os grãos de areia da estrada que Martin trilha nesse momento. Uma estrada solitária, sem sons, nem mesmo da natureza, apenas o silêncio. Um silêncio que perturba, pois parece ser um daqueles que antecedem um perigo mortal. 
Ele caminha, e faz progresso em sua jornada a cada passo dado, mas a sensação de que está sendo vigiado o incomoda. As árvores começam a fazer alguns barulhos, como se algo estivesse perto, e as tocando sutilmente. Galhos fazem “creck”, como se estivessem sendo pisoteados, porém tudo ainda parece calmo, calmo demais para ser verdade.
Martin sente seu coração acelerar. Escuta passos cada vez mais pesados denunciando uma presença que está cada vez mais perto. Passos pesados como os de um gorila. No solo, o vislumbre de uma sombra a mais confirma as suspeitas de que alguém está ali. Martin sente uma forte ansiedade, mas não ousa olhar para trás.
- Que garotinho bonito, gostaria de dormir comigo hoje? — disse uma voz trêmula e rouca, como se alguém recém-degolado estivesse, sem sucesso, tentando falar.
Martin começa a fugir sem olhar para trás. Seus pensamentos estão vazios, somente a fuga importa, nada mais. Martin corre como se sua vida dependesse disso, e talvez dependa. Enquanto isso, aqueles passos pesados se tornam mais frequentes, dando a impressão de que o dono daquela voz assustadora estivesse o perseguindo. 
A tensão alivia um pouco, pouquíssimo, quando ele visualiza uma casa de madeira aparentemente abandonada no fim da estrada. Ele aumenta a velocidade de sua corrida. Infelizmente, a coisa que o persegue faz a mesma coisa. É possível escutar uma risada alta semelhante a de um palhaço maníaco. O perseguidor grita bem alto: "Vem dormir comigo, garotinho”. 
Martin sente seu corpo ficar cada vez mais lento, como naqueles pesadelos em que correr ou se mover é quase uma missão impossível.
No chão, a sombra mostra algo aterrorizante. A segunda sombra está a poucos centímetros de Martin. Está a 20 centímetros… 10 centímetros… 5 centímetros… 2 centímetros… Martin finalmente alcança a casa abandonada, e fecha a porta com toda a força que tem.

Foi por pouco.

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⏰ Last updated: Apr 13 ⏰

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