Desconhecido na Floresta

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   Aos poucos ficava cada vez mais exausta e doente, pois não se nutria direito, não dormia direito por passar as noites em claro com o temor de ser atacada durante o sono por alguma fera da noite e se enfurecia nas caminhadas por sempre esperar chegar em algum lugar, mas isto nunca ocorria e o que restava pra fazer era andar. Já haviam se passado 20 luas e sols desde que saiu do templo e já beirava a loucura extrema. Ouvir alguma voz seria algo maravilhoso para a mocinha andarilha, era isso que restava para quebrar" o silêncio daquela jornada.

- Moça...- uma voz foi ouvida por Kiyo que se virou mas nada viu.

      Naquele mesmo instante ela teve certeza que estava ficando louca de vez.

- Moça.. a Senhorita não precisa me ver para me ouvir. Pode continuar andando. Vamos conversar assim.

    Ela ficou confusa com aquilo, mas mesmo sendo estranho aceitou o conselho da voz.

- Quem é você? Minha mente?

- Não... sou um amigo.- sussurrou a voz de uma forma assustadora que estremeceu a anã.

-Como assim amigo? Nunca te vi antes?!- gaguejou assustada.

- Sou um amigo... princesa Kair Kiyo!

    Algo pulou nela a fazendo cair no chão, ela olhou com atenção e realmente não era nenhuma fera, era um anão assim como ela.

- Princesa! Então finalmente te achei, sua fujona!- o rapaz riu alegremente.

    A voz misteriosa que parecia ser da mente da anã era doce e gentil, o anão em cima dela tinha olhos cor púrpura e vestia um sobretudo preto, seus cabelos eram negros como ébano. Ela de imediato se espantou com a imagem que viu diante dela. Não era um monstro, uma voz mística que penetrava sua mente ou um ladrão que acabaria de fazer uma vítima, era o tal príncipe com quem se casaria.

- Fugiu por minha causa?- perguntou com um olhar armargo.

    Kiyo não quis mentir para ele, ela contou a verdade sem medo do que o moço pensaria dela. Satisfeito com a verdade, o noivo rejeitado sorriu para a pequenina, seu sorriso não parecia ser de sarcasmo. Era de alívio.

- Que bonitinha, hein! Você escolheu dizer a verdade do que mentir pra mim... sei que você acha que te vejo como uma pessoa mimada e birrenta, mas eu sei que no fundo você é uma boa pessoa..   - murmurou carinhosamente sorrindo com os olhos-  Você deve ter ficado confusa com tudo aquilo, né?

    Parecia que ele estava se referindo ao casamento. Ela virou o rosto e o empurrou para sair de cima dela, se levantou e seguiu caminho como se nada tivesse acontecido há alguns segundos. Para sua mente limitada, pelo menos teria que ignorar aquilo e continuar pois era mais fácil encarar esta situação como uma bobeira do que pensar e lidar com rastros do medo dos quais tentou fugir... ela pelo menos tentou fugir!

    Enquanto andava sentia suas costas queimarem pelo olhar furioso do principezinho atrás dela, que provavelmente não iria desistir tão cedo de tirar alguma resposta sobre sua fuga da boca dela.

- Não me ignore! - gritou com sua voz estridente pra ela.- Não pode fugir de qualquer coisa só ignorando e virando a cara, ouviu?- perguntou com os olhos estralados- OUVIU?

     Kiyo se virou para ele e olhou fixamente em seus olhos cor púrpura. Estreitou os olhos como se forçasse a visão para enxergar algo e murmurou:

- Você... você acha que ouvir algo significa dar ouvidas para alguma coisa, tipo um sermão ou um recado, hein?

     Ele esperava que a anã dissesse algo, mas nada falou e o mesmo também não sabia como responder; era difícil falar algo quando é observado por uma garota como ela. Seus olhos brilhantes começaram transmitir uma sensação assustadora, uma sensação que gelada cada nervo do rapaz que não sabia como agir naquele momento.

- Você não sabe como responder não é?- riu ela.- É simples... muito simples. É diferente de ouvir apenas algo ou ouvir algo e levar em consideração. Se alguém reclamar do seu jeito de viver, existe a opção de dar ouvidos ou apenas ouvir aquilo... dar ouvidos para alguma coisa significa levar em consideração e tentar seguir isto.- Kiyo respondeu a pergunta que ela mesma tinha feito pra ele.

- Se é assim... então me responda! Você me ouviu?- repetiu ele a pergunta.

- Não.

    Ela continuou andando, o menino entendeu que enquanto houver chance, a princesa ignorante iria ignorar tudo e seguir em frente, assim como fez com seu casamento.

- Você é boa nisso... nem sabia que havia diferença entre os dois. Incrível.

- Não é algo incrível, qualquer um pode saber disso se pensar muito nisso.

- Então você passou muito tempo sozinha né? Só se pensa e reflete num tipo de coisa dessa quando está sozinho.

- Sim. Eu fiquei muito tempo só e isso foi tempo suficiente pra eu pensar muito.- admitiu

   O jovem anão olhou pra ela e respirou fundo. Queria entender os motivos dela pra fazer tal loucura que pegou todos de surpresa, mesmo sem trocar uma palavra ele insistia em andar ao seu lado. Um vento sobrou a dor para dentro do peito da anã, como poderia fugir de algo apenas ignorando e partindo? A questão em si do rapaz atormentava as paredes de sua mente a fazendo repensar sobre as ações que tomou até agora.

      " Não pode fugir de qualquer coisa só se virando e andando, ouviu? - esta fala ecoava em sua mente. O anãozinho tinha abordado um dos maiores desafios dela.

    Ela havia ciência da presença do rapaz, mas não queria espantar o moço de jeito algum, ela estava gostando da companhia dele. Fazia tempo que não falava com alguém.

- Você se apresentou para mim falando que era um amigo meu.  - ela disse sobre quando ele apareceu.  - Você não é meu amigo, nem nos falamos direito.

- Exato! Não sou seu amigo, mas queria ser! - assentiu alegre.- Princesa, nós nem nos virmos direito... fugiu por que? Não vou ser um marido ruim... eu juro!

- Príncipe... eu...-  Kiyo queria falar mas foi interrompida pela lista oral de promessas.

- Eu prometo ser gentil, nunca vou reclamar de você, nunca vou gritar com você, nunca vou te decepcionar na noite de núpcias, nunca vou te trair e...

- Ei! Quem disse que vou casar com você?- a mimada bufou impaciente.

- Então... você quer sexo?

- Nada disso! Eu não quero nenhum tipo de ligação amorosa com você! Não quero casar!-  bateu o pé no chão em forma negativa com a proposta.  - Eu nem sei seu nome!

- Meu nome é... Alphonse Nvic. Vim da sua vila, eu fui morar lá com a esperança de nos casarmos dias depois, mas você fugiu, por que? Por que fez isso? - perguntou docemente com o propósito de não intimidar a confusa e birrenta princesa.

    A anãzinha estremeceu diante daquela pergunta desafiadora, será que Nvic entenderia seus motivos ou julgaria por causa da razão pela qual fugiu? Seu rosto perdeu o brilho, seus olhos fecharam e sua expressão enjireceu.

- Bom... eu fugi porque não queria me casar...

- Só isso?

- Não.- respondeu de cabeça baixa.- Minha vida é perfeita comparado á outras, mas sempre reclamo de algo... sei que isso é ingratidão por parte minha e me decepciono comigo mesma por causa disso.- respondeu levemente.

    Alphonse viu nela uma dor que era causada por ela mesma,  a própria Kiyo fazia questão de se machucar.

- Além disso, eu só desanimo as pessoas! Eu estava desanimando meus pais e a corte insistindo em não me casar! Você sabe o quanto isso é horroroso?

    Lágrimas começaram escorrer pelo queixo dela, Aphonse se sentiu imediatamente culpado pelo choro da miúda que desabou sobre o chão derramando suas dores, uma por uma.

A Anãzinha da Vila Hokkaiko Where stories live. Discover now