Capítulo 1

16.1K 1.3K 264
                                    


CAPITULO 1

Devon



Doze anos depois...


Estava muito escuro quando escutei os gritos. Sentei na minha cama, ainda sonolento, e olhei para a porta. Estava entreaberta, com uma pequena fresta para passar a claridade do corredor para o meu quarto. Eu não gostava do escuro, tinha medo, mesmo quando a mamãe dizia que não havia monstros lá, eu tinha medo. Ouvi as vozes mais uma vez, muitos altas. Desci da cama e calcei as pantufas de coelhos.

Caminhei direto para o corredor, e fiz uma pausa em frente à porta do quarto do meu irmão. Estava fechada, girei a maçaneta com cuidado, mas a porta não abriu. Stanley preferia dormir com a porta trancada. Fui até a última porta, que geralmente ficava aberta, pois mamãe preferia assim. A cama estava vazia, sem sinal de que ela tivesse estado ali. Com os passos lentos cheguei até as escadas. Devia ser a mamãe gritando lá embaixo.

Desci alguns degraus, escorregando minhas pantufas na escadaria de madeira. Mamãe deu um grito, foi muito alto. Parei onde estava, congelado no meio do caminho e assustado com os sons altos que vinham de algum lugar no piso de baixo. Estava escuro demais no final das escadas, e eu não queria ir em frente. Olhei para cima, esperando que Stanley acordasse e me levasse até a mamãe. Mas eu estava sozinho, e minha mamãe estava lá, gritando com muito medo.

Desci os últimos degraus da escada e comecei a tremer. Minha casa era assustadora demais, e eu não gostava dos bichos mortos que o Ray pendurava nas paredes. Tinha pena dos animais, mas Ray os matava e dizia que eram os seus troféus. A cabeça de um alce que ficava na sala era o pior de todos, os olhos do animal pareciam seguir os meus passos. Mesmo depois da mamãe dizer que o alce estava no céu, eu não gostava de encara-lo. Ás vezes parecia que ele estava acordado e que me olhava.

— Ray!

A voz da minha mãe soou mais perto e mais clara. Assim como a voz do meu padrasto, que parecia estar gritando com ela. Ray gritava muito com a mamãe, mas mamãe nunca gritava com Ray.

— Ray, por favor!

A luz da cozinha estava acesa e meu medo diminuiu, pois da claridade eu gostava. Arrastei meus pés até lá, caminhando devagar. Parei na porta e encontrei a mamãe e Ray juntos, eles estavam brigando. Mamãe sempre me disse que eu não deveria me intrometer nas conversas dos adultos, principalmente se Ray estivesse por perto. Sempre obedeci à mamãe, por que ela era boazinha comigo e eu queria ser bonzinho para ela. Mas não consegui sair do meu lugar, então fiquei parado lá assistindo ao primeiro tapa que Ray acertou no rosto da minha mãe.

— Fala logo sua vagabunda! — Ray cuspiu no rosto da mamãe e ela começou a chorar.

Eu não gostava de ver a mamãe chorar, e sem perceber, comecei a chorar baixinho com ela. Mamãe não fez nada por um longo tempo, além de deixar que as lágrimas rolassem pelo seu rosto. E Ray ficou parado lá, assistindo a mamãe e esperando por algo, esperando que a mamãe falasse. Ela ergueu a mão, com um gesto calmo, e limpou a saliva de Ray em sua bochecha. Algo queimou dentro do meu peito, seu gesto por algum motivo, me fez sentir raiva de Ray. Muita raiva por ele ter cuspido nela e usado uma palavra feia para xinga-la. Mamãe era boazinha, mamãe não devia ser tratada daquele jeito.

Sr.Thorne \ Sociedade Escarlate - Vol. I (DEGUSTAÇÃO!)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt