O Ritual

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O escolhido, assim chamado não porque algum fado divino o quis mas por ser sua vez e nada mais, recebe em suas mãos a escritura

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O escolhido, assim chamado não porque algum fado divino o quis mas por ser sua vez e nada mais, recebe em suas mãos a escritura. Olha para ela, sabe o que fazer, não sabe bem ao certo como o fazer. Tentou antecipar em sua mente como agiria quando o momento chegasse, mas agora, sentia-se perdido. Levanta e posta-se de pé, no centro de todos. 

Assim foi dito, assim deve ser feito.

 Olhares curiosos a sua volta, murmurinhos, "o que será que é?" ouve baixinho por entre os sussurros. Pede silêncio, tem pouco tempo para deixar o seu legado.

Começa a se mexer, calado, não emite som algum, é proibido. Braços coordenados em conformação com as pernas, dedos cumprem seu papel, olhares atônitos, incólume, o silêncio reina.

De repente um grito corta o vazio, transe rompido. Rapidamente olha para o pecador que pronunciou tamanho despautério, e com olhar solene mas repreensivo, faz que não com cabeça, e tenta retomar de onde parou. Ao começar a sintonizar novamente seus pensamentos outro grito destrói o silêncio e o busca das profundezas como a mesma sutileza que um guincho de 50 toneladas pode arrancar uma cristaleira do chão.

Humor levemente irritado, novamente faz sinal negativo com a cabeça, e quando tenta buscar seu eu interior mais um grito chega ao salão e ecoa forte nas paredes, seguido por mais um, e mais um, e mais um outro da mesma pessoa que disse um outro grito qualquer. Assustado, olha em pânico para todos, não pode falar, essa lei é absoluta. Palavras espremem-se em sua garganta, como bois revoltados pelo confinamento.

Gesticula, pede com o olhar, ninguém o entende, os gritos passam a ter a companhia de cotoveladas, ponta pés, pessoas se projetam em sua direção, todos olham para ele. Perdido e desesperado, vislumbra uma única pessoa que está no caminho certo, tenta se comunicar com ela, mas ela não entende, ele se esforça, suor na palma das mãos, a têmpora escorre lentamente, então, uma conexão é feita, a pessoa compreende que está na direção certa, e quando começa a movimentar os lábios para dizer "a palavra", uma mão pesada cai em seu ombro, e diz: 

- Não há mais tempo. Está acabado, você falhou.

Frustrado, retorna a seu lugar, ciente do que aconteceu, envergonhado por sua impotência. Outro candidato é selecionado para o teste. Parece ritual, mas é imagem & ação.

Crônicas Idiotas para passar o tempo que você não tem para gastarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora