O elevador

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"Não é que eu tenha medo de morrer.

É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer."

Woody Allen

Ai meu Deus, será que vou Lhe encontrar? A ansiedade de Isabela aumentava a cada passo em direção à porta dourada

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Ai meu Deus, será que vou Lhe encontrar? A ansiedade de Isabela aumentava a cada passo em direção à porta dourada. Talvez não num primeiro encontro, lógico. Mas São Pedro deve estar à minha espera. Eu sei que é São Pedro do outro lado da porta. Acelerou o passo, a melodia de Schubert ficou mais alta e a luz mais forte. Tinha certeza que encontraria um céu rosado, anjos rezando e entoando belas melodias para Deus que estaria sentado majestosamente sobre uma grande nuvem velando por Sua Criação. 

A porta se abriu como mágica, a luz intensa a cegou e Isabela só não desmaiou porque já estava numa etapa mais avançada: estava morta. Teve dificuldade em abrir os olhos, focou a visão tentando dissipar o efeito da luminosidade e então... Choque!

Estava no meio da Avenida Paulista. Literalmente no meio.

Um grito de espanto e pânico ecoou enquanto tentava fugir para a calçada. Confusa, começou a falar com as pessoas que passavam pela Avenida.

- Você viu? Você viu? Ai meu Deus, quase que morro! - Eram muitos os que por lá transitavam, mas ninguém parecia se importar - Ué, me tornei invisível ou as pessoas mais insensíveis? Povo egoísta...

- Pode parar. Você não vai conseguir chamar a atenção deles.

- Oi! Quem falou comigo?

- Ainda não entendeu como funciona?

- Como funciona o que? Quem é você?

- Xi, você é uma novata, não é?

- Novata? Não... Claro que não! Quer dizer, talvez eu seja... Novata em quê?

- Não entendo como vocês vêm parar aqui – Isabela olhou para cima e viu um senhor mais ou menos da sua idade sentado em cima do semáforo. Esfregou os olhos, não podia ser verdade. Ele flutuou até o seu lado.

- Ãh? Mas... Mas...

- Dona...?

- Ãh?

- Dona?

Não respondeu. Estava perplexa.

- Seu nome?

- Ãh?! Isabela. Mas...

- Ok, Dona Isabela, você sabe onde está?

- Na Avenida Paulista, uai! Olha ali o MASP...

- Não, não... Você sabe que a senhora morreu, não sabe?

- Então, eu pensava que sim. Achava que ia encontrar São Pedro, nuvens, anjos... Talvez harpas. Adoro harpas, sabe? Eu quis estudar harpa, mas minha mãe...

- Está bem. Então você sabe que morreu. Menos mal. Às vezes aparecem uns por aqui mais desinformados... Aí é uma choradeira, um tal de quero voltar, blá, blá, blá... Não 'tô pra isso.

- Você também morreu?

- Nossa, há muito tempo. Peste Negra.

- Aqui no Brasil? Teve peste negra no Brasil? Não me lembro de ter aprendido...

- Claro que não. Mal tinha gente por cá. Morri na França, em Lyon.

- Francês, então?

- Não, Alemão. Estava viajando com minha esposa. Também morreu, mas resolveu reencarnar.

- Oi?

- Olha, você não devia vagar por aí desinformada. Eu, se fosse você, ia até o departamento de acolhimento.

- O que é isso?

- O que é isso não importa agora, mas sim onde é isso. Entra naquele prédio ali na frente, passa direto pela recepção e entra no segundo elevador a contar da direita para esquerda. Então aperta o botão do andar 31. Alguém vai te receber lá.

- Quem?

- Não sei quem está lá agora. Olha, um amigo meu vai morrer de novo, preciso ir recebê-lo. 31, segundo elevador da direita para esquerda. Não esquece! - e antes que ela pudesse responder, ele desapareceu.

Sem pensar muito no assunto, Isabela entrou no prédio, cumprimentou o recepcionista por hábito e ele, obviamente, não respondeu. Atravessou por baixo da catraca de controle de entrada, visto que não tinha permissão oficial para entrar no edifício, e ficou a espera que alguém reclamasse e pedisse a sua identificação. Como nada aconteceu, parou em frente ao elevador e depois da quinta tentativa aceitou que não seria capaz de apertar o botão. Enfim, o elevador desceu ao térreo para Isabela descobrir que o prédio tinha apenas 30 andares. Tenho a certeza de que ele disse 31. Teria me enganado? Deve ser o trinta... De qualquer maneira, como aperto o botão com essa mão morta? 

O elevador começou a subir em resposta ao comando de dois executivos que comentavam entusiasmados sobre "as gostosas que eles tinham comido depois da festa de ontem". Ao baixar a cabeça, num sinal inútil de repreensão, Isabela notou no chão uma seta apontando para a parede. Na parede, três setas em sequência indicavam o teto e no teto... O botão 31! E essa agora? Como alcanço esse maldito botão? Que ideia de jegue! Deixa eu ver... Se eu esticar a mão..." 

 Tudo começou a rodar muito rápido e Isabela foi cuspida para fora do elevador.


***E aí? Gostaram do começo da história? Estou ansiosa para saber se vocês vão gostar das peripécias de Isabela... Semana que vem tem mais capítulos! Não deixem de votar (na estrelinha) e, se puderem e quiserem, deixem essa escritora feliz com comentários positivos ou construtivos. Até já!


Como fazer amigos e influenciar pessoas depois de morto - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now