Prólogo

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Voltaríamos àquele lugar. Em breve. O que era horrível. Ao menos para mim. Meus irmãos pareciam felizes por voltarem à sua cidade natal. Mas eu odeio essa cidadezinha. Primeiro porque ela me lembra da minha infância e de todas as perdas que sofri. Segundo porque eu não me dou bem com cidade pequena. Eu gosto é de barulho. Lugares abarrotados. Brigas em becos. É com esse tipo de lugar que me dou bem. Não gosto de lugares sossegados. Isso é coisa de velho. Coisa que não sou. Por isso estou de mau humor. Encarando de cara feia a rua movimentada abaixo. A janela está aberta, deixando entrar o ar frio e barulhento da noite. Todas aquelas buzinas, os motores, são como uma melodia que abafa todas essas vozes intrusas na minha mente. E isso me acalma. Gosto disso. Bebo mais um gole de minha cerveja e olho ao redor. Meu quarto na cobertura daquele prédio no centro de New York. Os carros movimentados lá em baixo. As luzes da cidade que nunca dorme. Já me acostumei com tudo isso. De certo modo New York me lembra França. Não na aparência. Mas em seus sons. Me lembra de várias coisas. Coisas que tive que deixar para trás. Porém não são memórias dolorosas como as que tenho na Mansão. Elas não me trazem uma pontada no lado esquerdo da cabeça. Queria que meus irmãos tiassem da cabeça essa idéia maluca de voltar para casa. Eles nunca vão entender que não temos casa? Seres como nós não tem casa. Não pertencem a lugar nenhum. Por isso matar não é tão difícil. Porque não somos como eles. Somos diferentes. Somos extraordinários. Temos força. Poder. Temos tudo. Ou pelo menos quase tudo. Há algo que não tenho. Não ainda. Mas vou conseguir. Ou meu nome não é Daniel Lane.

Lane's Chronicles: DesireWhere stories live. Discover now