Capítulo 2

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Ela me olhou horrorizada. Seus lábios avermelhados estavam entreabertos e seus olhos arregalados. Adorei sua expressão de medo. Ela tentou se afastar de mim, encolhendo seu delicado corpo junto à cabeceira da cama. Adorável. Pensei com um sorriso travesso. Em um impulso tosco ela tentou correr até a porta, mas antes que pudesse acançá-la eu a impedi. Usei minha velocidade superior e alcancei a porta antes dela. Usando minha força para mantê-la fechada.
-Porque não toma um banho?-perguntei sedutoramente, dando um sorriso malicioso.
-E-eu não posso!-exasperou. Seus olhos assustados percorriam o quarto em busca de uma rota de fuga. -T-tenho que ir pra casa. Meus pais devem estar preocupados.-choramingou. Dei uma risada.
-Não se preocupe meu amor, eles não vão sentir a sua falta.-falei de modo sombrio.
-Por favor. Me deixe ir embora.-implorou entre os soluços que sacudiam seu corpo jovem.
-Você nunca vai sair daqui. Nunca vai voltar pra casa. Você me pertence agora.-falei de modo sombrio. Observei seus joelhos fraquejarem e ela cair sentada. A respiração parecia presa na garganta e seus olhos estavam arregalados, cheios de medo. Algo dentro de mim se revirou. Um impulso de acalentá-la. Secar suas lágrimas e dizer que vai ficar tudo bem. Reprimi esse impulso. Com um sorriso malicioso saí do quarto, deixando a porta destrancada de propósito. Ela nunca conseguiria escapar, nem se tentasse. O terreno era muito grande, cheio de árvores, e acabava em um penhasco e uma praia particular. Pequena, mas bem confortável.
Desci as escadas lentamente, com um sorriso malicioso no rosto.
-Daniel, quem estava chorando?-perguntou James desconfiado.
-Ninguem irmão, ninguem.-respondi com um sorriso enquanto me sentava em cima do balcão e pegava uma maçã, dando-lhe uma boa dentada. Ele me olhou com olhos semicerrados, claramente desconfiado.
-Então... você vai mesmo voltar a dar aula?-perguntei, tentando desviar o assunto. Ele notou isso, nas não insistiu.
-Vou.-falou secamente.-Vou dar aula em uma faculdade não muito longe daqui.-ele ainda não me olhava, estava lendo uns documentos que estavam espalhados pela bancada. Ele ia de um lado para o outro, lendo, arrumando, grampeando. Só de olhar todo aquele trabalho fiquei cansado. Fui até a sala. Will estava tocando piano, um copo de whisky puro pela metade estava em cima do piano. Will tocava de olhos fechados, um sorriso malicioso enfeitava seus lábios.
-Porque está me encarando Daniel?-perguntou ainda de olhos fechados. -Tá carente é?-ele finalmente olhou para mim, parando de tocar e girando na cadeira, ficando de frente para mim enquanto bebia um gole de whisky com a sobrancelha arqueada e um sorrisinho despretensioso nos lábios avermelhados. Dei de ombros.
-Não. Eu só estava aqui parado mesmo.-falei despreocupadamente.
-Quer confessar algo?-perguntou. Odeio o fato de que ele me conhece melhor do que qualquer um. Fechei a cara.
-Porque você acha que eu tenho algo a confessar?-falei na defensiva, cruzando os braços e fechando a cara. Ele riu, suas presas finalmente aparecendo.
-Você sabe que não consegue me esconder nada Daniel.-ele se levantou e veio até mim, pegou uma mecha do meu cabelo e amassou entre os dedos.
-Você é o meu irmãozinho, te conheço melhor do que qualquer um.-ele sorriu cinicamente e se afastou três passos. Bebeu o resto do whisky de uma só vez e sorriu para mim.
-Não tenho nada a declarar.-resmunguei, ainda de cara fechada. Me virei e fui até o hall, me preparando para subir as escadas. Sorri maliciosamente ao ver Sophia ali parada, na metade das escadas. Maquiagem borrada e cabelo desarrumado. Olhos vermelhos de tanto chorar, assustados, lábios carnudos entreabertos. Ela segurou o corrimão com tanta força que seus dedos ficaram brancos.
-Ora ora ora.-sorri maliciosamente.-Veja só quem saiu da toca.-provoquei. Ela recuou um degrau.
-Daniel?! O que significa isso?!-James parecia surpreso, para dizer o mínimo. Ele me olhou com um misto de incredulidade com indignação. Nesse momento Will chegou para ver o que estava acontecendo. Sophia nos encarava com pavor. Dei de ombros.
-Eu a quero. E não vou deixá-la ir.-falei despreocupadamente.
-Você está louco?!-gritou James, ficando vermelho de raiva, ele me fuzilava com o olhar. Will riu e acabou se engasgando com whisky, a gargalhada se transformando em uma tosse.
-Ai ai...-falou, secando a boca com as costas da mão. A garota nos olhou confusa.
-P-por favor... me deixem ir.-implorou. James suspirou.
-Deixe-a ir Daniel.-seu tom era calmo, porém imperativo. Ele ainda me fuzilava com o olhar.
-Não.-respondi, desafiando-o com o olhar.
-Se você não a levar eu levo.-falou subindo a escada e pegando-a pelo braço. Ele puxou-a escada abaixo. Segurei seu braço, perto do pulso dele e da mão dela.
-Não toque nela.-rosnei. Ele a puxou, segurando-a contra o peito, com o braço ao redor dos ombros dela de maneira protetora. Senti o ciúme me corroer por dentro.
-Tire as suas mãos dela.-rosnei pausadamente. Ele sorriu ao ver o ciúme estampado na minha cara. James segurou-a pelos ombros e a jogou para mim. A peguei pela cintura antes que ela caísse no chão.
-Leve-a para casa Daniel. Esse é o meu último aviso.-ameaçou, dando as costas e voltando para a cozinha. Segurei Sophia protetoramente contra meu peito. Sua cabeça batia abaixo do meu queixo. Ela não se movia, ainda estava tremendo e soluçando. Meu braço estava ao redor de seus ombros e a segurava contra mim. Peguei-a no colo e a levei novamente para o quarto. Ela parecia em choque. Não estava lutando. Não estava reagindo. Ela apenas encarava o vazio fixamente, com os olhos ainda derramando lágrimas. Deitei-a suavemente sobre a cama, ela se virou de lado e se encolheu.
-Você está bem?-perguntei.
-Só... me deixe em paz. Por favor.-falou em voz extremamente baixa. Engoli em seco.
-Você é livre para andar pela casa e explorar os jardins. Mas não pode deixar a propriedade.-falei friamente. Uma lágrima escorreu por seu rosto, peguei-a com a ponta do dedo, observando-a e apreciando seu calor. Levei a lágrima aos lábios enquanto fechava os olhos. Saboreei seu gosto salgado e olhei-a novamente. Meu corpo a desejava com vontade, vibrava em expectativa, estava ansioso para sentir o gosto do sangue dela novamente em meus lábios. Sem olhá-la me retirei do quarto, saindo de modo rápido e tenso. Fechei a porta atrás de mim e novamente não a tranquei.

      O jardim costumava ser um lugar que eu amava. Pelo menos até 60 anos atrás. Agora ele não estava em sua melhor fase, as roseiras estavam morrendo e não tinham mais rosas, a grama estava amarelada, as árvores que costumavam ser podadas agora estavam maltratadas e o resto das antigas flores praticamente não existiam mais. Sentei-me em um dos bancos de ferro e madeira. Estava podre e rangia toda vez que eu me mexia. Estava tomado pelas heras e ervas daninhas, e um deles havia sido totalmente encoberto pelas roseiras que cresceram além da conta. Sorri com as lembranças que tenho nesse jardim, mas logo as ruins chegaram, me fazendo piscar e balançar a cabeça. Sinto uma presença. Uma presença suave e feminina. Ela finalmente resolveu descer.
-Olá.-digo ainda sem me virar. Ela se assusta um pouco e eu sorrio com isso. Ela se aproxima, mas não muito, e pára não muito longe do banco em que eu estava. Claramente ela ainda me teme. E eu acho isso maravilhoso.
-Oi...-fala. Sua suave voz é quase como um encanto. Finalmente me viro para ela.
-Sente-se aqui comigo. Vamos apreciar este... er... um dia isso ja foi um lindo jardim, mas hoje em dia... ele não tem um terço da beleza que costumava ter.-falo um pouco melancólico.
-Ainda assim é bem bonito.-ela responde com um meio sorriso.
-Obrigada.-sorrio largamente para ela. Ela suspira.
-Só me deixe ir embora. Por favor. Eu... eu tenho que voltar pra casa... pros meus pais.-seus olhos estão marejados. Eu me levanto e a abraço. Ela fica tensa e tenta se afastar, mas acaba desisitindo ao perceber que seus protestos não surtem efeito algum sobre meu aperto. Acaricio seus cabelos enquanto ela chora.
-Desculpe... mas você não pode. Você é minha agora. Não vou te deixar partir. Nunca.-falo ainda acariciando seus cabelos suavemente. Ela me empurra, e dessa vez deixo ela quebrar o contato. Ela sai correndo, direto para a parte da frente da casa. Sorrio cinicamente.
-Você não pode fugir de mim!-grito e uso minha velogidade superior para a alcançar em pouco segundos e a puxar pela cintura. Caímos no chão e eu a seguro firme contra meu peito. Ela continua lutando, mas não a solto. Não a deixo ir. Ficamos assim por longos minutos. Seu choro se transforma gradativamente em um choramingo e depois em silêncio.
-Quando vou poder ir pra casa?-pergunta após longos minutos e um suspiro. Não demoro pra responder.
-Ainda não sei. Talvez não demore tanto assim. Talvez demore mais do que o esperado.
Ela choraminga baixinho.
-Por que está fazendo isso?-pergunta com a voz embargada.
-Porque eu quero você.-falo com um sorriso maroto.
-Por quê eu? Por quê logo eu??-ela se ergue e me olha nos olhos, minha pele parece formigar sob seu toque, mesmo por cima da camiseta. A encaro de volta.
-Porque não você? Se acha tanto ao ponto de estar acima de qualquer coisa? E se não tiver nenhuma razão em especial? E se eu simplesmente tiver decidido que seria você por causa do seu cheiro doce?-contra-ataco. Sorrio torto ao ver sua expressão.
-Ainda não faz sentido.-ela faz um biquinho e eu quase morro de vontade de morder ele, mas consigo me conter. Passo uma mão carinhosamente por seu cabelo e ela se encolhe, mas não se afasta.
-A maioria das coisas nessa vida não tem sentido. Acostume-se.

     Permanecemos lá deitados por um tempo, comigo acariciando seus cabelos e ela com a cabeça deitada em meu peito.

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⏰ Last updated: Jun 10, 2017 ⏰

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