Casyn, o Exorcista

1.7K 38 8
                                    

- Você tem mesmo que ir?

- Tenho. Se há um caso de possessão há apenas algumas horas, eu preciso atendê-lo.

- Eu… Entendo.

- Paula, não se preocupe. Em algumas horas estarei de volta. Só tenha certeza de deixar alguma comida sobrando. Vou voltar faminto.

- Já fiz uma reserva para você. - Responde a mulher, orgulhosa da sua previsão.

Casyn sorri.

- Obrigado. Agora tenho que ir.

Ele se direciona para a grossa porta de metal. A mulher puxa-o e o beija.

- Ia esquecer-se de me dar adeus? - Diz a Paula, provocante.

- Claro que não, estava apenas testando você.

- Sei…

- Além disso, não é adeus. É até mais tarde.

- Até mais tarde então. - Responde a mulher tirando o cabelo da cara e desviando o olhar. Ainda estava um pouco nervosa.

Casyn se aproxima e encosta a testa dos dois, colocando a mão, carinhosamente, na nuca da esposa.

- Não se preocupe. - Sussurra Casyn suavemente. - Não vou deixar nada acontecer com você.

- Eu sei.

- Que bom.

Dizendo isso, ele se vira e sai andando pelo corredor. Quando está quase chegando nas escadas, olha para trás. A mulher lhe manda um beijo. Ele faz uma leve reverência e depois continua seu caminho.

Alguns minutos depois, a família estava reunida. Família não de sangue, mas porque nas piores situações surgem os mais fortes laços.

Paula, esposa do exorcista e anfitriã, fazia um excelente trabalho entretendo os convidados. O clima era da mais pura alegria. Afinal, agora todos eram homens livres, dotados de vontade e objetivos próprios. Paula e a maioria presente naquela sala haviam sido escravos durante anos, e sua liberdade, era motivo de comemoração por semanas.

Anos atrás, em uma pacata vila africana, um homem havia sido possuído. Este homem matou o líder político da vila e assumiu seu cargo. A criatura dizia chamar-se Astaroth.

Seu reinado durou várias estações, levando muitos a morte e mais ainda a loucura. Torturas e trabalho pesado se alternavam, e, junto com a falta de alimentação e sono, fez muitas mentes quebrarem ainda nas primeiras semanas. Todos carregavam algum trauma.

Assim como cicatrizes na pele, as da mente, quando profundas o bastante, duram para sempre. Só de lembrar-se daquele tempo Paula sentia um frio na espinha.

Mas então Casyn apareceu, exorcizou o demônio e ajudou a vila a se recuperar. Mesmo depois disso, eles não conseguiam viver mais naquele lugar. Muitas memórias… más memórias.

O exorcista os levou para outro lugar, uma cidade mais central. E a partir dessa, a caravana foi pulando de cidade em cidade. Em cada uma eles paravam em um hotel, ficavam apenas alguns dias e iam embora. Não se sabe como o exorcista arcava com os custos, apenas que ele o fazia.

Casyn disse certa vez que queria leva-los até a casa de um amigo, lugar este que poderiam chamar de lar pelo resto da vida. Ninguém o contestou ou interrogou, afinal, tudo que ele havia feito até agora havia sido para o bem de todos. Ele era visto quase como uma divindade pelo povo, mas ao mesmo tempo, como um membro integral da família.

Paula continua servindo seus companheiros, levando bandejas pra lá e pra cá. O cheiro da comida inundava a sala assim que ela chegava, fazendo todos ficarem com água na boca. Afinal, apenas mais algumas unidades daquelas delícias não faria mal a ninguém, não?

Casyn, o ExorcistaWhere stories live. Discover now