A chegada 2

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Caminhou até o extremo da faixa de areia e então contemplou as dunas que separavam Ingleses da Praia do Santinho, o seu objetivo. A faixa de areia da praia era larga e comprida. Devia ter entre quinze a trinta metros de largura por uns quatro mil de comprimento.

No local onde estava ficavam as embarcações dos pescadores e algumas casas e casebres que a areia em menos de cinco anos iria cobrir assim como aquelas que agora só tinham os telhados á mostra para demostrar o poder da natureza.

Subiu às dunas e observou o percurso que faria. Era um extensão de quase dois mil metros de pura areia com seus montes ondulados. Ao longe divisou duas pessoas caminhando em meio à areia, provavelmente indo até a praia que também era seu destino.

Lera que havia muitas lendas sobre histórias de bruxas que moraram na ilha catarinense e mais propriamente neste bairro. Mas o que lhe chamara a atenção foi quando descobriu que até pouco tempo atrás o local guardava um interessante acervo de inscrições rupestres que apontavam para uma ocupação humana antiga e primitiva. Tirou o boné e passou as costas da mão direita enxugando o suor que escorria pela testa.

Aproveitou para mudar a mochila de ombro. Colocou o boné novamente e pôs-se a andar, tentando adivinhar qual o caminho seguido pelas pessoas que estavam lá na frente. Levou a mão esquerda á fronte fazendo com que a palma protegesse seus olhos do sol. Olhava adiante tentando encontrar as pegadas na areia. Sua sorte é que não ventava e logo encontrou os dois pares de passos. Daí foi só segui-los.

Na verdade não era só areia nas dunas, pois em alguns lugares havia uma vegetação rasteira e também alguns pássaros. Quero-quero, o nome da ave veio á sua memória, lembrando das leituras que fizera sobre o país.

Tivera que se esforçar o máximo, pois os costumes e a língua eram inteiramente novos para ele. Chegara a estar em três cursos de português ao mesmo tempo. Conseguira adquirir um sotaque parecido com os de lingua latina. Argentinos e uruguaios era o que não faltava no local.

Segundo ficara sabendo A praia do Santinho tem este nome devido a uma estilização de uma figura humana, gravada em um bloco isolado de diabásio. Alguns moradores antigos e mesmo alguns índios adoravam a imagem desenhada no bloco de pedra como se essa fosse uma representação divina, daí o nome "Santinho". Bloco este desaparecido misteriosamente. Algumas pessoas hoje culpam um padre já falecido, pelo misterioso sumiço da figura.

Começou a ouvir o barulho das ondas quebrando na praia. Logo seus olhos divisaram um lugar de beleza impar e com localização privilegiada. Uma faixa larga de areia e com quase a mesma extensão da praia dos Ingleses, no entanto aqui as construções eram totalmente inexistentes, a não ser na extremidade oposta de onde se encontrava, á sua esquerda. Era para lá que ele deveria ir. Aonde estava situado o complexo turístico do Resort Costão do Santinho.

Antes de se dirigir até a outra extremidade da praia olhou ao redor. Não havia ninguém por perto. Com cuidado subiu as pedras que estavam a sua direita. Uns vinte metros adiante e oculto nas rochas das vistas curiosas de turistas que porventura aparecessem, abriu a mochila. Dentro desta estavam várias peças meticulosamente arrumadas.

Uma chapa de metal retangular medindo 30 cm de largura por 40cm de comprimento, com suporte feito de canos flexíveis e dobráveis foi fixada no chão com a ajuda de dois pequeno pinos que martelara sobre a rocha. Acima das pernas flexíveis em forma de um "V" havia um pequeno bojo com um buraco não maior que 10 cm de circunferência e ajustável com presilhas para melhor fixá-lo. Em seguida um tubo de aço, com quase um metro, retrátil, para caber em qualquer mochila com pouco mais de quarenta centímetros, foi acoplado dentro deste bojo, e apertado com duas presilhas em cima do suporte. Tinha uma visão de toda a praia. Fora o suporte de aço todas as peças eram feitas de fibra de carbono 23 o que facilitou a sua passagem nos aeroportos por onde circulou. Girando, fez a luneta especial dar um foque sobre a construção no outro extremo. No entanto não tinha angulo suficiente. Havia alguma vegetação entre ele e a construção. Deveria procurar um local mais alto onde teria um angulo de visão maior e melhor. Ajustou a luneta em busca de possíveis agentes preparados para algo como aquilo que ele estava fazendo. Não visualizou nenhuma pessoa em atitude que pudesse parecer de vigília. Sorriu. Acendeu o cigarro que trazia no bolso da bermuda. Pegou o filtro solar e aplicou mais um pouco sobre os ombros e no rosto. Apertou um botão na base da máquina e esta rodou sobre seu eixo para a esquerda e depois mais uma vez para baixo. Ele então começou a filmar.

O construtor da máquina fora um artesão holandês que por várias vezes tivera seu nome associado ao I.R.A mas que infelizmente, para a policia, nunca conseguiram provar nada. Era um engenheiro mecânico que a muito fabricava sob encomenda. Encomendas especiais como a que recebera por correio junto com um cheque de 100 mil dólares, prometendo outra quantia igual para quando a obra ficasse pronta. O cheque era de uma conta sob nome falso, que fora aberta somente para aquele serviço. Quando a encomenda ficou pronta o corpo do artesão foi encontrado em uma baía de Amsterdã uma semana após acontecer um terrível incêndio no banco onde a conta fora aberta, queimando todos os documentos possíveis para uma futura identificação do cliente.

Morte em DezembroWhere stories live. Discover now