You give me something

288 40 10
                                    

1419 palavras | first date | fluffy

Harry só queria que tudo fosse perfeito.

Desde o início da sua adolescência, quando passava suas noites de sábado assistindo às comédias românticas que sua mãe e irmã colecionavam no meio dos outros catálogos da estante de filmes, ele se imaginava numa noite como aquela.

Uma mesa pequena coberta por um tecido aveludado num tom de vermelho escuro era a base para a decoração minimalista, mas sofisticada e romântica que o homem tinha em mente. Havia o vinho caro, as taças de cristal, os pratos de porcelana e os inúmeros talheres distribuídos ao lado na ordem que os artigos de etiqueta mandavam. Havia também o terno sob medida, as botas lustradas e seu perfume favorito. O prato principal se mantendo aquecido no forno, as entradas sobre o fogão e uma grande variedade de saladas. Ele tinha pensado até mesmo nas velas finas, mas compridas, que iluminavam o centro da mesa com uma luz alaranjada.

Faltava, portanto, apenas uma coisa.

— Oi, Louis? Sou eu de novo — um riso nervoso escapou da sua garganta antes de continuar. — Eu sei que pareço um pouco inconveniente, mas... você ainda pretende vir aqui em casa?

Mesmo que ele soubesse que o dono dos olhos azuis que obteve toda sua atenção desde que o vira pela primeira vez não estava ali, as maçãs do seu rosto ganharam uma coloração avermelhada, algo comum quando se tratava de Harry falando com Louis. Era a terceira mensagem de voz que ele enviava em um curto espaço de tempo, e ele não queria ser esse tipo de pessoa, mas aquele prato que ele preparou era melhor apreciado quando provado ainda quente.

A campainha também tocou pela terceira vez naquela noite, fazendo o dono da casa encolher os ombros vencido, se preparando psicologicamente para lidar mais uma vez com a senhora Matilda, que precisava urgentemente de ajuda com o smartphone novo que havia ganhado de aniversário de sua neta do meio, Naomi.

— Se a senhora tocar nesse botão, e depois aqui, a senhora vai conseguir fazer a video chamada. Olha. Está vendo? Sua neta já está te esperando para conversar!

Harry passou a semana inteira esperando que aquele sábado chegasse logo e ele pudesse se encontrar com Louis devidamente, sem que as pessoas do trabalho de cada um os incomodassem de alguma maneira. Ele contou cada minuto do dia desde que Louis prometeu que tentaria chegar em sua casa antes da nove. Pelos deuses, Harry ligou para Louis três vezes porque era nove e meia e ele ainda não havia dado sinal algum.

Mas quando Harry abriu a porta de casa e o viu segurando o celular de Matilda enquanto ela o olhava como se ele fosse o gênio da tecnologia, Harry se deu conta que todo seu preparo ou espera não valeu de nada, porque os olhos de Louis se desviaram do aceno que Naomi dava para ele através da tela do pequeno aparelho e um sorriso preencheu o seu rosto, ignorando todo aquele suor que Harry apostava que molhava sua testa e corava todo seu rosto.

— Sinto muito, Matty, mas será que a senhora poderia sanar o resto das suas dúvidas com Naomi? Eu tenho um encontro essa noite, e receio estar um pouco atrasado.

A mulher acenou ao que Louis piscou para um Harry congelado na porta do seu apartamento. Ao contrário do anfitrião, o rapaz centímetros menor do que ele caminhou em sua direção, ficando a uma distância suficiente para lhe dar um pequeno beijo no cantinho dos lábios.

— Eu não queria ter demorado tanto, doce, mas o dia hoje foi uma loucura.

Louis ainda vestia as roupas que costumava usar durante o trabalho, e Harry se convenceu de que não havia nenhuma razão para que o outro se atrasasse, a não ser, realmente, o dia cheio que ele possivelmente teve que lidar. As botas que protegiam seus pés constratavam com o par de Vans brancos desenhados, e o terno agora parecia demais, quando estudado diante das calças jeans skinny e a camiseta do David Bowie sob a jaqueta confortável. Tudo, no entanto, provou-se sem importância quando um botão de rosa vermelha foi posto diante de seus olhos, arrancando uma exclamação sua e um suspiro apreciativo de Matty, que corou e partiu, acenando e encarando o celular como se ele fosse o centro das suas atenções desde o início.

— Acho que deveríamos entrar — Harry ofereceu, dando um espaço para que Louis o fizesse. Suas mãos voltaram a suar, geladas de nervosismo, esperando a reação alheia diante de toda preparação que foi feita apenas para recepciona-lo ali. — Bem, você pode ver, não é nada de mais. Não significa nada, você sabe, e--

— O cheiro está maravilhoso, Harry, eu nem imaginava que estava com tanta fome, até entrar aqui.

O rapaz sonhador sorriu tímido, acenando positivamente antes de correr até o forno para buscar os pratos de entrada e saladas. Louis comeu cada pequeno grão de alimento posto diante de si, alimentando a si mesmo e ao ego do homem com quem ele já saía há alguns meses. O rosto de Harry nunca voltou ao normal, mas se fosse perguntado o motivo das bochechas coradas e sorrisos fáceis, jamais diria que era pelo sucesso daquele pequeno sonho da adolescência, o vinho certamente receberia a sentença no fim das contas.

Antes de buscar a sobremesa que gelava no freezer desde o fim da tarde, Harry lambeu os lábios avermelhados pela bebida tinta e chamou a atenção do seu encontro, cobrindo a mão menor com a sua.

— Eu preciso te dizer algo, porque eu não consigo pensar em mais nada além disso, e se eu não falar agora que a coragem está correndo entre as minhas veias, isso ficará entalado na minha garganta para sempre.

O cenho de Louis franziu, mas permaneceu em silêncio, esperando uma explicação do rapaz cuja mão úmida fazia um carinho discreto na sua, talvez inconscientemente.

— Eu estou assustado, Louis. Porque você me causa algo, algo que eu nunca havia sentido antes. É algo bom, não entenda errado, mas é tão grande ao mesmo tempo, que me sufoca. E por isso, enquanto eu quero desvendar tudo a respeito desse sentimento que anda me consumindo, eu também quero me afastar, porque eu estou com medo.

Louis partiu os lábios para dizer alguma coisa, mas Harry não queria ouvir nada enquanto ele não terminasse de falar tudo aquilo que estava sufocado dentro dele por tanto tempo. Sua cabeça balançou para os lados em sinal de negativa, fazendo o outro rapaz fechar a boca e o olhar com um brilho diferente nos olhos.

— Você- Me causa... Algo. Que me confunde. Algo novo que me deixa curioso, mas com tanto medo que eu me pergunto se alimentar isso, mesmo que só no pensamento, é certo. Mas- eu estou disposto a tentar. Eu só preciso de um sinal, para que eu possa te dar o meu coração.

Louis tirou a mão que estava sob a de Harry, fazendo o coração que batia forte em ansiedade despencar até o estômago em pura decepção. Seu prato, agora, parecia ser objeto mais interessante da noite, além do grande nó produzido em sua garganta em questão de minutos.

— Eu acho justo — Louis o assustou, se manifestando depois do que pareceram horas, mas era apenas alguns segundos, com um sorriso no canto dos lábios e aquele brilho que parecia se intensificar a cada instante que se passava. — Nada mais justo do que fazer uma troca.

Harry balançou a cabeça, não entendendo o que Louis queria dizer aquilo, preferindo muito mais a forma direta como ele próprio abordou e lidou com aquele assunto. O nó na garganta ainda grande o suficiente para impedi-lo de perguntar qualquer coisa. Louis se levantou antes, de qualquer forma, dando a volta na mesa onde compartilharam aquela noite cheia de conversas leves e risadas e parando na sua frente.

— A escolha é sua, Harry, mas eu não me incomodaria de cuidar do seu coração, porque você já tem o meu.

E o que Harry poderia fazer depois disso, além de sorrir como um bobo, sentindo o nó se desmanchar como o gelo em suas taças vazias, e revirar os olhos envergonhado, sob a intensidade que Louis o encarava?

É claro que Louis tinha uma resposta adequada para isso, porque ele tomou o rosto alheio entre suas mãos e buscou os lábios de Harry com os seus próprios, introduzindo não o primeiro beijo dos dois, mas selando o início de uma coisa que ambos tinham certeza que funcionaria muito bem.

É, bem perfeito até aqui.

Drabbles, droubbles and moreWhere stories live. Discover now