O INÍCIO

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LOS ANGELES, CALIFÓRNIA.  4 DA TARDE.


A banda se reunia em um apartamento de um luxuoso hotel 5 estrelas - 5 quartos, 3 banheiros, e tudo mais que os milhões de dólares garantiam.  Era uma época de ouro para o grupo de músicos, o impacto que a arte deles havia feito mundialmente era comparável á grandes ícones da música; Beatles, Rolling Stones ou Queen, por exemplo.   

Apesar de serem 5 músicos em um mesmo apartamento, o mesmo estava em um perfeito silêncio.  Os poucos barulhos que poderiam ser ouvidos eram de uma TV ligada com o volume baixo, uma cafeteira apitando em indicação que o café estava pronto e alguns passos no corredor dos quartos.  Passos de Apollo Marshall, o vocalista de cabelos loiros, agora brevemente presos em um rabo de cavalo - todavia, não apenas um vocalista, o mesmo era o próprio rosto da Banda, o membro que todos sabiam o nome.  Ás vezes se aventurava com a guitarra e o piano, mesmo que o papel deste fosse dar a voz as canções da banda "United".  O nome era simples, mas tinha uma mensagem clara - para banda e para os ouvintes; unidos. Sempre unidos.

Apollo continuava a andar pelo corredor dos quartos, até que chegava na cozinha.  Com o café pronto, desligava a cafeteira e enfim colocava um pouco da bebida em uma xícara branca, se assentando sobre o sofá em frente a TV.  Colocava a xícara sobre uma mesinha e tirava do seu bolso um pequeno caderno; um diário.  Na TV, um reprise de um show anterior deles; multidões e multidões cantavam as músicas junto com ele.  Um sorriso surgia no rosto de Apollo, enquanto ele abria seu caderno e começava a escrever com um lápis precisamente bem apontado.

"Sabe, já estamos no quinto mês da turnê.  Tem sido um caminho longo, mas prazeroso. Recentemente, estive pensando muito sobre o tal do "caminho", não só da turnê, mas desde quando eu ganhei meu primeiro violão, aos 6 anos de idade.  

Uma coisa interessante, a mídia, os jornalistas, em todas as entrevistas, eles perguntam muitos "como" mas esquecem dos "por quês".  "Como você se tornou o artista que você é hoje?" e não "Por quê você se tornou o artista que você é hoje?".  Na minha opinião, seria uma pergunta muito melhor, apesar de que eu provavelmente não teria uma resposta pronta.  Estou com isso na minha cabeça faz uns dias e acho que ainda não achei uma resposta 100%."

O homem tirava uma pausa pra dar um gole na sua xícara de café, se distraía tanto que acabava deixando derramar um pouco em sua camisa - uma camisa de 10 dólares qualquer, cinza.  O café acabava por escorrer para sua bermuda de tactel listrada, por sorte havia gastado tanto tempo perdido em seus escritos que o café já estava frio.  Se limpava com um pano que estava convenientemente perto, e voltava a escrever.

"Mas, pensando bem, acho que consigo citar alguns motivos.  O primeiro é o mais simples (eu acho), eu sempre gostei de música.  Música sempre funcionou como um tipo de farol para mim.  Sabe, se um barco está perdido, a luz do farol ajuda a guiá-lo na direção certa.  Sempre que eu cometia algum erro ou tomava uma decisão que não deveria, alguma música puxava minha alma na direção certa de novo.  Um tipo de epifania.  Sempre achei essa palavra legal.

Acho que também poderia dizer que a música te faz se sentir importante.  É algo natural.  Principalmente quando milhões de pessoas cantam suas músicas junto com você.  "Importância" foi algo que eu sempre desejei mas nem sempre tive.  Era horrível ser só mais um.  Sabe, não é sobre não ter amigos - eu sempre tive estes, mas era o fato de nunca ter "aquele amigo".  Se alguém ganha 2 ingressos pra um show super-legal, você não vai ser a pessoa chamada.  Se alguém vai se casar, você não vai ser o padrinho de casamento.  Nunca vai ser a primeira opção.  Sempre senti isso, e é - perdoe-me o linguajar - uma merda.  Sempre quis ter amigos que lembrassem da sua data de aniversário, não precisassem de uma rede social para lembrá-los.  Amigos que dessem o presente mais simples e barato, mas ainda sim de coração, e não só te entregassem dinheiro pra você comprar o próprio presente, porquê não sabem o que você gosta ou não gosta.  Essa é minha coisa favorita sobre viver com a banda; eles sempre estão aqui por mim.  História engraçada, uma vez eu tive dor de barriga durante um show muito importante.   Ninguém percebeu (eu espero), além do Steve (o melhor baterista que você vai ver na sua vida).  A minha cara de desespero foi totalmente perceptível para ele, que respondeu só com uma breve piscada com o olho direito como se dissesse; "Relaxa, eu tô contigo mano."  Ele entrou com um solo de bateria completamente não-ensaiado e divertiu o público por uns 2 ou 3 minutos, tempo suficiente para eu ir nos bastidores "trocar de guitarra" e voltar bem mais "leve", se você me entende.  E o terceiro motivo, bem....

Eu sempre acreditei que poderia mudar o mundo."




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