ALGUM LUGAR (CONTOS, CRÔNICAS E VERSOS AVULSOS)

6- Dores Secretas

Já se sentiu sozinho? Sem com quem conversar sobre a vida, sobre as frustrações?

Eu me sinto sozinho e solitário durante todo o tempo. Eu me sinto com vontade gritar, mas sem voz para fazê-lo.

E antes de te conhecer eu tinha muitos amigos. Antes, bem antes eu sorria mais, eu saía mais para fazer as coisas que eu gostava, mas agora...,

...mas agora eu fico sozinho a maior parte do tempo. Fico sozinho ouvindo o eco do meu próprio coração. E parece piegas dizer isso. E é mesmo piegas. Meus amigos cabiam em uma mão, hoje cabem em três dedos. E mais cedo quando conversei com um deles tudo parecia bem, eu tinha alguém para me escutar. Mas não consegui dizer que tenho uma droga de vida. Que me sinto velho, fazendo nada, construindo nada e sem nenhuma perspectiva de molhara de qualquer coisa.

E eu me sinto um objeto, me sinto ombros para seu desabafo. Eu me sinto muitas coisas, só não sinto a mim mesmo. E aqui dentro tudo parece um vazio constante. Um silêncio constante. Sempre e todo o tempo.

E eu me vejo vivendo numa cidade que definitivamente eu odeio viver, fazendo coisas que eu não gosto de fazer, porque me sinto nessa obrigação constante. E eu sempre me olho, sempre e todo o tempo e não me reconheço.

E as horas passam, os dias, os anos, as estações e cada vez mais eu vou me sentindo solitário e cada vez mais me sinto sem com quem conversar. O céu perdeu aquela magia de estrelas brilhantes e as tardes são sempre tardes... demais para mim,

E parece tudo em paz. Minha mãe liga e desabafa e minha irmã desabafa seus problemas e me sinto como algo que sempre é depositado alguma coisa e que está prestes a transbordar.

Eu sempre pronto para ajudar, sempre pronto para ouvir, sempre e sempre. E você não percebeu que não tenho mais nenhuma vontade de levantar da cama pela manhã, que cada dia mais e mais eu limpo menos a casa, lavo menos a louça. Você ainda não percebeu que não estou nem aí para minha aparência, que minha barba anda tão grande e desgrenhada e, não devia, mas para mim está tudo bem. Como ainda não percebeu que não está tudo bem?

Eu te vejo nos seus círculos de amizades das quais não faço parte. E te vejo sempre mais indo do que chegando em minha vida, e cada vez estou mais e mais distante e para você está tudo bem.

Minha vida parece uma ciranda de mascaras. Cada dia uma diferente, mas nunca as tristes, essas somente por baixo das felizes. E eu escuto meus próprios gritos sem voz e aquele vazio de sempre. Palpável.

Talvez já seja um pouco tarde de mais para acender a luz, ou eu me ascender. E é quase sempre muito tarde para voltar atrás para corrigir e colorir tudo de cores vibrantes quando tudo por dentro está pintado em cinza.

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Este texto fará parte da nova 2ª Edição de Lugar Comum que contará com textos Bônus. Relançamento em Breve.