dois

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DOIS

Ainda bem que eu só começava a trabalhar na semana seguinte, então eu ia ter bastante tempo para arrumar o meu apartamento. Era de manhã, eu tinha acabado de acordar com as costas doendo por ter dormido no sofá. Eu devia ter ido para a cama. Pelo menos já tinha um colchão lá, só faltavam os lençóis e a coberta e dormir lá era inúmeras vezes melhor que dormir no sofá.

Me espreguicei e olhei ao meu redor. Eu não sabia de onde tudo aquilo que estava encaixotado tinha saído. Tinha muita coisa. Eu não sabia que eu tinha tudo aquilo. Não fazia a mínima ideia. Aquele ia ser um longo dia, mas aos poucos eu ia conseguir. Pelo menos eu esperava conseguir deixar tudo do jeito que eu queria.

Fui até a cozinha e vi um 'frágil' escrito em uma das caixas. Resolvi começar por aquela caixa. Eu nem sabia o que tinha lá. Foi então que eu percebi que eu não ia conseguir abrir nenhuma caixa. Eu não sabia em que caixa a tesoura tinha sido guardada e eu não ia conseguir rasgar a fita crepe com a mão. Eu não ia conseguir abrir nada. Que ótimo.

O jeito era pedir para um dos meus vizinhos. Saí do meu apartamento e parei no hall, olhando para as portas ao lado da minha. Eu podia pedir a tesoura emprestada para quem quer que morasse em um daqueles dois apartamentos. Eu sabia que em um deles, morava o garoto loiro que tinha ido falar comigo no dia anterior. Eu só precisava descobrir qual era o apartamento dele. Eu não ia destruir a tesoura. Era só para eu conseguir abrir as caixas. Eu tinha certeza de que ele seria legal comigo.

Toquei a campainha e esperei alguém atender a porta, esperando que o garoto loiro aparecesse. Eu já estava quase desistindo de ficar lá, mas então a porta foi aberta. Uma mulher de olhos claros e cabelo loiro curto atendeu a porta com um sorriso que fazia as rugas em volta dos olhos dela se acentuarem. Ela era um pouco mais baixa que eu e parecia ser bem simpática.

-- Hã, oi... -- eu sorri. -- Eu precisava... Hm... você tem uma tesoura para me emprestar?

Ela riu. -- Claro! -- ela deixou a porta aberta e sumiu no apartamento, provavelmente estava pegando a tesoura.

-- Então você é a nova moradora do 134B? -- ela me entregou a tesoura, sorrindo.

Eu olhei para a porta do meu apartamento. Eu nem sabia que o meu apartamento era o 134B. -- É, sou...

-- Precisa de ajuda em alguma coisa?

Precisar, eu precisava, mas não queria abusar da boa vontade dela. -- Não, obrigada... e obrigada pela tesoura também. Eu devolvo logo.

-- Ah, não se preocupe com isso. -- ela riu. Nunca imaginaria que teria uma vizinha tão legal. O aparta,emto do garoto loiro era o outro, então.

Eu passei o resto do dia tirando tudo das caixas. Meu apartamento estava mais bagunçado ainda. Claro que eu já tinha colocado algumas coisas no lugar, mas ainda tinha muito a ser feito. O meu celular começou a tocar. A única pessoa que podia estar me ligando era a minha mãe. Quem mais iria me ligar se todos os meus amigos estavam viajando e aproveitando as férias? Mas minha mãe podia esperar. Não era uma questão de vida ou morte.

Alguém começou a bater na minha porta e eu me levantei para ver quem era. Talvez fosse a mulher simpática do apartamento do lado para pedir a tesoura de volta. Eu nem tinha conseguido abrir todas as caixas. Já fui com a tesoura na mão para devolver para ela.

Abri a porta e dei um olhar confuso. O garoto loiro estava parado na minha porta de novo. A única coisa que tinha mudado foi a roupa dele. O cabelo estava igual, todo bagunçado e caindo na testa dele.

-- Hoje você pode me emprestar o seu secador? -- ele sorriu.

-- Hã... -- eu olhei para dentro do meu apartamento e olhei todas as coisas espalhadas pelo chão. Eu não tinha emprestado para ele no dia anterior, porque eu não sabia em que caixa o secador estava guardado. E naquele dia não ia ser diferente: eu não lembrava de ter aberto a caixa em que o secador estava. -- Eu ainda não sei onde ele está...

hairdryer ;; njhWhere stories live. Discover now