isto não é sobre suicídio.
é prazeroso deslizar os dedos pelo interruptor e,
apagar as luzes daquele quarto do meio daquele corredor daquela casa,
para deitar sobre a cama na escuridão e ver a luz do amanhecer vibrar por entre as frentes da janela de alumínio fechada e calada pela cortina bege,
se convencendo que a palavra que procura em meio à um mar delas é solitude,
a desejada e escolhida,
a que soa bonito,
não solidão
- jamais,
o momento do apreço pelo conhecimento próprio,
que se achega quando precisa de tempo,
para voltar as raízes, entender a si mesmo,
aliviar o estresse das redes não penduradas na parede,
esquecer dos amigos que possui e dos que acha que possui,
afinal, ninguém é posse de ninguém,
não quando vem a solidão fantasiada de solitude,
ela não pede para pegar nem para entrar,
não possui nada, vem de mansinho,
como essa luz ai nesse quarto com somente tu, e o teto a te olhar.
é bem melhor quando desliza os dedos sobre o interruptor ai dentro,
dentro de si, fisicamente ou não,
é melhor quando ouve o estalo dele desligando tudo,
o bom, o ruim, o melhor também, mesmo não fazendo sentido.
mergulhando na escuridão do seu quarto interno,
aquele que você corre usar e abusar quando se sente mal,
que fica tão fundo que você nem sabe quando chega lá,
é só escuridão interminável.
é gratificante e desolador quando desliza os dedos sobre o interruptor que delimita o fim do começo e vice-versa,
quando ele corta o fio de comunicação entre mente e corpo,
junto ao medo de alegria,
tudo é desligado,
a vida,
menos a morte, a morte não deu as caras sequer, quando estamos vivos ela não tem rosto singular,
quando vamos conhecê-la...
nada, apenas um apagão.
quando o interruptor é religado,
não se engane,
é quando a energia de fato acaba.
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cartas ao desconhecido.
Poetryapenas sentimentos e pensamentos vagos que se ligam com tanto esmero que perco até a noção do real e do contínuo, formando uma linha nada reta de desejos, temores, ambições e verdades, mesmo desconhecendo tudo, inclusive o destinatário.