lembranças.
não tenho lembranças de ter engolido todos os comprimidos,
mas não tenho lembranças de não ter os engolido da mesma forma.
por um breve momento,
eu tenho lembranças de qualquer outra coisa?
desculpe me,
- eu tive lembranças de algo além?
se eu tivesse,
qual o fragmento do momento?
diga me caro eu,
isto é o paraíso ou uma versão grátis dele?
o inferno ou mais abaixo?
o purgatório, talvez
para lá vão os monstros da esfera mãe azul, verde e com rabos de gato brancos acima.
um monstro, eu olhei para um hoje
beeeeeeem nos olhos.
mas daí eu os abri, os meus olhos e os do bicho papão,
descobri que estava vasculhando meu próprio reflexo.
am I dead?
eu entendo isso, mesmo em outro idioma.
eu entenderia mesmo se não fosse falado,
um erro, o certo é I am dead.
não foi uma pergunta, então adicione exclamações!
topei com o sentimento diversas vezes ultimamente
a morte, o vazio, o desejo de ambas.
o vazio agindo sobre a morte,
mandando-a embora, pois
no vazio não há espaço para ninguém,
nem pra mim,
então a morte deveria me negligenciar,
deveria ordenar que me entregassem.
lembranças pós morte,
alguém se lembra da própria morte?
acho que sim,
nós que não lembramos de perguntar aos que se foram como foi.
como é.
como será.
até não lembrarmos que sequer se foram,
nos ocupando em chorar pela morte,
até a esquecermos e se tornar no que é,
morte, de tudo
até do vazio e das lembranças.
mas de alguma coisa eu me lembro com exatidão.
dos comprimidos e das lembranças,
não de verdade,
dos que estão no texto.
lá em cima,
você se lembra?
eu não, não mais.
sabe, eu estava ocupado escrevendo sobre morte para me lembrar de como foi a minha,
para me lembrar de como não foi a minha, aliás.
todo mundo se ocupa com algo e esquece de outro algo.
a essência do vazio é sempre encher.
para mim,
quanto mais você se estufa,
mais percebe o quanto inerente ao nada você está,
ou é, ou não é, no caso.
lembranças,
do que era esse texto mesmo?
acabei esquecendo no caminho que eu não lembro de ainda ter trilhado.
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cartas ao desconhecido.
Poetryapenas sentimentos e pensamentos vagos que se ligam com tanto esmero que perco até a noção do real e do contínuo, formando uma linha nada reta de desejos, temores, ambições e verdades, mesmo desconhecendo tudo, inclusive o destinatário.