Capítulo I - Freyja

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Território da Mancha, ano 5495

O sangue escorreu quente e grosso, manchando o machado e levando o cavalo ao chão, e o homem que o montava tentou alcançar sua lança, mas não foi rápido o suficiente; em poucos segundos, o mesmo machado que executara seu cavalo rasgou seu pescoço.

Em meio aos gritos de batalha e o relinchar dos alazões, ela galopou em frente, implacável como as aves de rapina das montanhas, com seu machado empunhado e sua lança amarrada à cintura, acertando seus inimigos com força enquanto buscava frenética pelo líder do exército Gal. Se conseguisse matá-lo, seu povo bateria em retirada, e o território Maratt estaria protegido.

Rápido como o vento, seu cavalo saltou sobre corpos caídos ao chão, ela balançou seu machado novamente contra os guerreiros oponentes, até finalmente avistá-lo: sua barba castanha manchada de sangue, bem como a pele de seu rosto, alva com marcas em tinta negra próximas aos olhos esverdeados, e as marcas do povo Gal cravadas em seu crânio. A seu lado, um Maratt tombava morto com uma lança no peito.

Entoando um grito de batalha, ela apanhou sua lança e atirou-se sobre o líder Gal, que se defendeu com a lança recém-tirada do corpo de seu inimigo, e atacou-a com toda a força. Ela se esquivou de seus ataques com agilidade, andando para trás como quem não tinha coragem de atacar, mas tudo não passava de um plano; assim que o viu distraído com um movimento, ela passou por baixo de sua arma, e com toda a rapidez que podia, lançou-lhe um golpe na parte traseira da perna, que levou-o ao chão.

Ele tentou arrastar-se para longe, mas ela foi mais veloz; trocou a lança pelo machado, e já o empunhava no ar para findar a vida de seu inimigo, porém, outro guerreiro Gal apanhou-o nos braços antes que ela pudesse.

—Vahall! – ele chamou o líder, e em um instante, colocou-o sobre seu cavalo e partiu para longe, retirando-se da batalha junto a seus companheiros, deixando os guerreiros Maratt para trás.

Após um instante de silêncio, os gritos de comemoração dos Maratt ecoaram pela colina. Mais uma série de batalhas contra os Gal, que já durava meses, estava vencida. Por entre as exclamações vitoriosas e lanças e machados levantados em celebração, ela foi erguida por seus companheiros de batalha, e com a mão que tinha desocupada, tirou sua máscara vermelha.

O suor escorria quente de sua cabeça, manchando a pintura de cor amadeirada em seu rosto e por vezes caindo sobre seus olhos azuis claros, causando ardência. Mas ela não se importava. Acima de todos os guerreiros, o vento batia em seus cabelos loiros, balançando os fios soltos e as mechas desfiadas. Com seu machado erguido e olhando em direção ao sol, que há pouco nascera no horizonte, ela gritou:

—Por Phaschia!

Seus companheiros fizeram um eco para seu grito, mas por entre as saudações à deusa guerreira, outro nome tomou espaço, exclamado repetidas vezes até formar um coro de celebração dos Maratt para sua maior lutadora.

—Freyja! Freyja! Freyja!

Freyja manteve seu machado erguido o mais alto que podia, deixando que o sol tocasse sua pele branca nas partes não cobertas pela armadura de couro, que mantinha seu corpo abafado, porém protegido das lâminas de seus inimigos. A luz brilhante a lembrava do brilho da armadura de Phaschia nas histórias que ouvia desde pequena. Todos os Maratt ansiavam ser como sua deusa, mas a Progenitora havia enviado a Savinya uma criança que não nascera na Mancha para ser a apadrinhada por sua filha guerreira.

"Protegida de Phaschia" era como a chamavam, e Freyja não poderia se sentir mais realizada por ser um orgulho para o povo que a acolhera ainda bebê.

—Vamos voltar à aldeia. – disse um guerreiro de pele escura e máscara também vermelha – Estamos fora há muito tempo, Ewrock nos aguarda.

Os demais Maratt manifestaram concordância, e, aos poucos, apanharam seus cavalos e armas para voltar para casa. Freyja andou até uma égua branca, que mesmo na agitação comemorativa de seu povo, a aguardava.

Rainha Das TrevasWhere stories live. Discover now