Virgem Maria-Final

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Leia ouvindo:  https://www.youtube.com/watch?v=p7vgrGBDWI4

A casa era agradável, parecia um pedacinho do céu. Rosa Negra sempre procurava manter o ambiente o mais organizado possível. As paredes eram brancas, assim como o chão. As janelas ficavam sempre abertas para luz entrar e as plantas tomavam conta do espaço. Era uma casa grande para uma mulher e uma criança. Quando não estava planejando uma forma de destruir o exercito vermelho ou dando aulas religiosas, dedicava o seu tempo cuidando das planas, lendo, tocando piano ou limpando algo que já estava limpo. Era raro, Rosa quase não tinha tempo para isso, mas hoje estava sendo um dia tranquilo. Andando pela casa com um livro na mão checando se estava tudo em ordem antes de sair. Uma folha de uma planta que estava em um jarro azulado em cima da mesa de centro, estava caída no chão.

-Cornélia! – Rosa chamou pela criança que apareceu sorridente segurando as mãos. Ela tinha um sorriso doce. Combinava perfeitamente com o cabelo negro e liso com os olhos esticados – Eu não já disse para não arrancar as folhas das plantas?

-Mas eu não arranquei!

-Não gosto de mentiras

-Desculpa, mamãe. – A garotinha de rosto rosado se entristece e abaixa a cabeça.

Rosa ignora as desculpas e coloca a folha dentro do seu livro. Era irritante, a criança sempre fazia isso. Rosa costumava verificar suas plantas uma por uma e esperar para que algum defeito apareça. Se uma das folhas estiver fora do tom, logo é arrancada fora. Cornélia arrancava sempre as perfeitas. A criança achava a pirraça uma coisa engraçada enquanto sua mãe se debatia de agonia por dentro.

-Você vai fazer o que hoje? –A menininha pergunta empolgada.

-Trabalhar.

-Na escola?

-Não. –Rosa evitava o assunto, colocando seu livro na estante que estava separada por cores e em ordem alfabética.

-Hoje é o dia que você vai ver ela, não é? – Cornélia segurou na ponta do vestido branco da mãe – Eu estou com medo, mãe.

-Ela não pode fazer nada comigo.

-Mas fez com o papai! –A menina começa a chorar

-Chega! –Rosa gritou batendo na mão da menina para se afastar e soltar o seu vestido. –O seu pai era um fracassado, por isso morreu.

A garotinha chora em silêncio alisando a mãozinha que estava ardendo pelo tapa. Cornélia olha para sua direita e na estante vê um porta retrato. Era uma foto em família. Kentaro era um jovem japonês, soldado do exercito vermelho. A traição deixou Yokana em fúria e quando soube que Rosa teve uma criança, mandou caçar o pai e a filha. Kentaro se sacrificou para impedir que algo ruim com a criança pudesse acontecer. A ditadora prometeu que não iria atrás da menina se ele caminhasse direto para execução, mas Yokana nunca mantinha sua palavra por muito tempo.

-Cinco horas. – Rosa olha para o relógio e em seguida para o céu rosado. Suas expressões sempre eram mórbidas, mas quando o sino começa a tocar, seu rosto de aproxima ao medo. Ela segura o pulso da filha com força e a leva com ela

-Mãe, não! – Cornélia se joga no chão para não ser levada.

Leia ouvindo: https://www.youtube.com/watch?v=phLlMTh2B5k

Rosa segura a mão da menina arrastando pelo corredor. A garotinha que se arrasta pelo chão, tenta se soltar e segura o longo vestido da mãe. O chão branco é molhado pelas lagrimas da menina e o por do sol deixa o corredor da casa de branco para rosado. Rosa odiava isso, odiava aquela cor, odiava aquele horário e ás vezes odiava aquela criança. Ela abre a pequena porta que se localizava no final do corredor, com uma cruz logo em cima. A porta ficava trancada noites e dias e só era aberta ás cinco horas e ás sete e três. Ao abrir, Cornélia se debate em desespero. Era uma sala escura e enfestada de vidros com água benta, cruz, imagens de Cristo e o que ela sentia mais medo. As correntes. Rosa levava a filha para sala as cinco e ponto quando o céu começasse a ficar rosado. Trancava a garota e prendia em correntes. As sete e três, rosa voltava para casa e destrancava a porta libertando a menina das correntes. Todos os dias, a criança saía da pequena sala com ferimentos profundos, mesmo que as correntes impedissem que a garota se mutilasse. Há quatro meses atrás, Rosa fez um novo experimento. Colocou Cornélia em uma outra sala, presa em outras correntes. Uma sala vazia sem vidros, imagens ou qualquer outra coisa que a mulher trazia da igreja e assim, no inicio da noite, Cornélia se apresentava em péssimos estados. Era comum que um padre visitasse a família para fazer orações no ambiente em que a criança era acorrentada. Isso era mantido em segredo, todos sabiam da situação e mesmo com o coração apertado ao ver uma criança sofrer, apoiaram a ideia.

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⏰ Last updated: Jan 18, 2020 ⏰

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