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Mensagens enviadas para o Grupo "Diário Emocional"

22 de setembro

15h20

Eu: Minha psicóloga acha que eu não sei nomear as coisas que eu sinto. Rá! Grande merda! É claro que eu sei como eu me sinto. Isso é ridículo! Eu disse isso na primeira sessão. Pago caro demais para ter que ouvir esse tipo de coisa. Quero dizer, ela me escuta, faz perguntas retóricas e mastiga aquelas balas de menta. Ok, ela até me ouviu chorar na última sessão. Mas, para que eu tenho que escrever aquilo que já digo?

Eu: Nunca tive um diário e não é agora que vou romantizar as coisas.

Eu: Já basta a decadência de criar um grupo no aplicativo de mensagens só comigo.

Eu: Queria perguntar a Lena se Virgínia também pediu para ela fazer isso. Ela deve ter pedido. Aposto que Helena usa canetinhas coloridas, num caderno de ursinhos com cheirinho de morango. Nem sei se essa merda existe. Mas não posso tirar a dúvida, porque ela é a segunda pessoa da minha lista do ódio.

Eu: A primeira é Leandro.

15h40

Eu: Odeio não ir trabalhar. Eu sei que reclamo do meu trabalho todos os dias, mas a programação da TV é uma merda. Será que alguém fica mesmo feliz assistindo a esses realities shows idiotas? O que eu tenho a ver com uma família que tem quíntuplos? Sinto meu cérebro encolher só de ver as chamadas comerciais.

Eu: Prefiro aguentar as histórias intermináveis de Thales ou roubar Alex para jogar conversa fora no meio do expediente. Mas ele também está na minha lista do ódio.

Eu: Na verdade, eu odeio estar aqui no apartamento sem ter o que fazer além de relembrar a briga com Leandro.

Eu: Brigamos o tempo todo, mas eu não considero as nossas discussões como brigas. Nós só discordamos e depois conversamos sobre o assunto. Ele reconhece que eu estou certa na maioria das vezes. Funcionamos assim desde sempre, porque pensamos diferentes sobre muitas coisas e Leandro tende a ser um pouco lento. Mas nunca usou palavras tão duras comigo.

Eu: Também disse que eu não precisava esperar por ele à noite. Ele não voltaria para casa, porque era quase impossível ficar aqui comigo.

Eu: Eu sei que ele vai para a casa de Harumi. O melhor amigo dele não tem casa e os outros dois não vão aceitá-lo. Um deles acabou de se casar e mora num cubículo e a esposa do outro detesta visitas, mesmo se for Leandro.

Eu: ESPOSA. Eu odeio essa palavra!

Eu: A questão é que eu não tive a chance de terminar de falar. Leandro bateu a porta e foi embora. Eu nem tinha chegado ao ponto que eu queria.

Eu: Ele nunca fez isso.

Eu: ELE É O CULPADO. O RESPONSÁVEL. POR QUE ISSO LHE DÁ O DIREITO DE SE SENTIR CHATEADO????? QUAL O SENTIDO???

15h48

Eu: EU SINTO RAIVA E UMA FRUSTRAÇÃO TÃO GRANDE A PONTO DE ME FAZER CHORAR. ACABEI DE NOTAR QUE ESTAVA PRESTES A CHORAR AGORA. DE NOVO.

Eu: Estava respondendo alguns e-mails e percebi que meu nariz estava escorrendo. Decidi trabalhar depois de tentar assistir a um filme. Era O casamento do meu melhor amigo e, mesmo que eu ache Julia Roberts sensacional, enredos com casamentos não são a melhor escolha diante das circunstâncias atuais.

Eu: Acho que nunca chorei tanto quanto hoje. Talvez só naquela vez em que terminei com Leandro quando ele entrou na faculdade e, talvez, outra vez quando achei que estava sendo traída, mas era só ele perdendo a noção como sempre. Não, eu não chorei tanto daquela vez.

Como ele conseguiu? [História derivada de Com amor, Lena]Where stories live. Discover now